Capítulo XLIX

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Cassandra


Antes mesmo de abrir os olhos, já sabia que não estava mais em Londres: Estava em um lugar quente, muito quente. Levantei-me tentando ser silenciosa. O quarto onde acordei era pequeno e cheio de objetos estranhos, caminhei até o espelho e vi uma garota alta, magra, morena, olhos puxados castanhos escuros, cabelos pretos e lisos; ela era linda. Olhei pela janela; havia grama, árvores e casas estranhas, ruas estranhas... Com certeza estava no futuro.

Procurei um robe pelo quarto, no entanto encontrei apenas peças estranhas. Fiquei indecisa entre descer as escadas, que milagrosamente eu sabia que existiam, do jeito que estava vestida ou me enrolar em um lençol.

Analisei a roupa que estava usando: uma camisola cinza, de alças finas, na altura dos joelhos; os cabelos estavam molhados, o que significava que tentaram desperta-la com um banho. Não estava acostumada com o calor, e muito menos a usar as roupas esquisitas que encontrei no guarda roupa. Decidi parecer estranha e descer enrolada em um lençol.

Desci as escadas observando cada detalhe do lugar; a casa não era muito grande, e tinha muitos objetos que eu não conhecia e móveis diferentes.

_ Ester!

Uma mulher veio ao meu encontro; ela era linda e se parecia muito com a garota com quem eu troquei de lugar. Ela me abraçou e fiquei imóvel segurando o lençol. Aquele abraço... Eu o conhecia bem. Não havia melhor lugar no mundo.

_ Está com frio, filha? - Um homem veio até nós e colocou a mão na minha testa.

_ Deixem Ester respirar: Vou examiná-la novamente.

Encarei o homem negro sem entender quem ele era.

_ Sente-se aqui filha.

Sentei-me em uma cadeira estofada. O homem negro se aproximou.

_ Preciso verificar sua pressão.

Eu não entendi o que ele queria dizer e continuei segurando o lençol com os dois braços cruzados em frente ao peito.

_ Ester, deixe Artur examiná-la.

_ Eu não estou entendendo. - Consegui dizer em uma língua que não conhecia e mesmo assim, entendia perfeitamente.

_ Será que ela bateu a cabeça? - O homem que parecia ser o pai de Ester estava visivelmente preocupado.

_ Ester, você está sentindo dor? - Encarei Artur sem entender quem ele era.

_ Não sinto dor e estou desconfortável com a sua proximidade, poderia se afastar, por favor?

Todos me encararam confusos.

_ Claro. - Respondeu Artur constrangido enquanto recuava poucos centímetros. - No entanto para examiná-la não posso ficar muito longe.

_ Não entendo; quem é você pra me examinar?

Mais uma vez todos pareciam pasmos.

_ Filha, você não se lembra do Artur?

A mãe de Ester estava ficando ainda mais preocupada, e eu não queria dizer que não era sua filha; tinha que ser cautelosa.

_ Ester, esse é o Dr. Artur, ele trabalha comigo no hospital.

_ Doutor? Um médico? - Não consegui esconder o espanto; ele era negro, no meu tempo isso era impossível.

_ Sim, eu sou um médico.

_ Parabéns! - Foi o que consegui dizer sem parecer estranha.

_ Obrigado!

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