Capítulo XV

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João


Observei em silêncio, uma das empregadas de Mateus retirar do quarto os pertences de Carolina que tinham ficado para trás. Sempre soube que um dia ela ira embora, mas esperava que ao menos se despedisse. Minha vida nunca tinha sido fácil e agora, mais do que nunca, teria que ser forte; por mim e por Dulce. A governanta entrou com um sorriso amistoso:

_ Boa noite João!

_ Boa noite Cássia!

_ Tenho uma ótima notícia.

_ Então diga; estou precisando algo bom. – Eu sinceramente duvidei de que existia uma boa notícia.

_ Encontrei uma enfermeira para te acompanhar ao interior.

Meu irmão tinha decidido contratar alguém para cuidar de mim até que me recuperasse. Na verdade, não conseguia acreditar que fosse ficar curado, porém estava rezando para sobreviver até minha filha completar dezoito anos.

_ Que boa notícia! – Tentei parecer animado. – No entanto tenho uma dúvida; o que levaria uma enfermeira da capital a mudar para o interior?

_ Seu irmão ofereceu um excelente salário, mas esse não é o único motivo; o filho dela é um dos médicos da sua cidade, e uma mãe zelosa faz de tudo para ficar perto de seu filho.

_ Qual é o nome do filho dela?

_ Eu não sei, mas ela virá amanhã cedo conversar com seu irmão e acertar os detalhes da viagem, e você poderá fazer as perguntas que quiser.

Quando o dia amanheceu, um dos empregados de Mateus foi me preparar para o café; meu irmão sempre fez questão que a família se reunisse na hora das refeições. Quando ele se divorciou, sua ex-esposa e seu filho mudaram para a Austrália. Agora eu e Dulce éramos os parentes que morávamos mais próximo dele. Desci o elevador na cadeira de rodas acompanhado do empregado.

_ Bom dia João! – Meu irmão estava radiante e fazia tempo que eu não o via assim.

_ Bom dia Mateus! Qual a razão de tanta alegria; vai se casar de novo?

_ Nem pensar! Esse erro só se comete uma vez na vida. – Nos acomodamos na mesa do café. – Meu filho está vindo para o Brasil passar algum tempo comigo.

_ Que ótima notícia! Quando ele chega?

_ Em algumas semanas.

_ Rute virá também?

_ Para a minha alegria, ela não vem.

_ Sempre a achei super protetora, é um milagre ela ter deixado o filho viajar pra cá sozinho.

_ Na verdade, ela não pode impedir. Rute é controladora e sempre tratou Ian como se fosse de cristal, ele odeia isso. Agora que completou dezoito anos decidiu sair das asas da mãe e se aventurar pelo mundo.

_ Ela deve estar enlouquecendo com isso.

_ Na verdade, ela tem outras coisas para se preocupar no momento; a enteada foi presa por envolvimento com drogas, a menina nunca aceitou o casamento do pai e agora que Rute ficou grávida, ela decidiu chamar atenção pra si. Minha adorada ex-esposa me ligou pedindo para eu cuidar do nosso "bebê" enquanto as coisas se acalmam por lá. Ela realmente pensa que o fato dele ser cego o torna incapaz de viver sua vida.

_ Mateus, a enfermeira chegou.

_ Por favor, mande-a entrar. 

A governanta saiu e voltou acompanhada de uma linda mulher vestida de branco. Aparentava ter uns trinta e poucos anos e era muito bonita. Sua pele negra reluzia e contrastava com uma fileira de dentes brancos perfeitamente alinhados. Os olhos eram negros e os lábios grossos pareciam ter sido desenhados a mão. Apesar de ela estar usando um vestido branco discreto, era possível notar suas curvas acentuadas.

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