Capítulo VII

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Morgana


Após a aula, enquanto ia pra casa, pensei em uma maneira de obrigar Ester a contar o que sabia sobre os roubos. Ela tinha fugido de mim durante toda a manhã, e eu sentia que a sem sal estava escondendo algo. Talvez se eu usasse uma poção... Meus pensamentos foram interrompidos por gotas de chuva. Entrei em um armazém abandonado para me abrigar. Sentei-me no chão empoeirado e ouvi vozes que me fizeram arrepiar. Encolhi-me em um canto escuro, vi um homem agarrando o braço de uma mulher, ele estava furioso:

_ Não estou te pedindo Adélia, estou mandando. – A voz era ameaçadora.

_ Sei exatamente o que acontece com quem não faz o que você manda Pablo e tenha certeza que não quero isso pra minha vida. Só disse que será muito difícil espionar todos os alunos daquela escola. Descobrir o que você deseja saber, pode demorar meses...

_ Você tem um mês, nem um dia a mais. Agora vá até lá e se apresente como a nova supervisora. Consegui que você supervisione dois turnos, e cuidei para que Carmen supervisione o turno noturno.

_ O que vai fazer se não encontrarmos nada?

_ Vocês irão encontrar. Agora vá. – Ele largou o braço dela e a empurrou com força em direção a porta e em seguida saiu apressado, ignorando a chuva torrencial que caía. Fiquei encolhida até ter certeza de que estava sozinha e depois corri pra casa.

Enquanto reescrevia meus feitiços em outro caderno, não pude deixar de lembrar cada segundo naquele armazém. Quem eram aquelas pessoas? Decidi ficar de olho em Adélia e descobrir o que eles realmente queriam.

Acordei ainda mais cedo que de costume e fui correr pelas ruas desertas. Minha avó sempre me disse que uma bruxa deve cuidar tanto do corpo como da mente. Ouvi outra pessoa se aproximando e fiquei alerta; eram apenas cinco horas da manhã e nunca havia ninguém correndo nesse horário. Os passos se aproximavam rapidamente e algo me gelou o sangue.

_ Morgana! – Sem acreditar me virei e encarei Rodrigo. – Oi!

_ Oi!

_ Não sabia que você corria de madrugada. – Ele sorriu deixando a mostra uma fileira de dentes perfeitos e impecavelmente brancos. – Posso te acompanhar? – Pensei em chutá-lo como resposta, mas a verdade é que por alguma razão eu sabia que devia fingir querer a companhia dele.

_ Se você quiser... – Ele sorriu novamente, e eu sabia que se fosse uma garota normal ia querer pular em seu pescoço e beijá-lo. "Que bom que não sou normal", pensei enquanto retomava a corrida.

Durante uma hora ele ficou tentando puxar assunto, e percebi que havia algo nele que não se encaixava, pois apesar de correr e falar ao mesmo tempo, ele nunca perdeu o fôlego.

_ Posso te acompanhar de novo amanhã? Detesto correr sozinho. – Pensei em dizer que eu gostava de correr sozinha, mas de novo, meu sentido apurado falou pra aceitar a companhia dele.

_ Se você me encontrar...

_ Sou muito bom em encontrar o que procuro.

Quando cheguei à escola havia muitas garotas irritadas nos corredores, e não foi difícil descobrir por quê: Seus diários tinham sido roubados.

No primeiro horário fomos apresentados a nova supervisora; um arrepio percorreu meu corpo ao lembrar a tarde anterior. Adélia era morena e tinha cabelos escuros presos em um coque, era alta e magra, impunha respeito só com um olhar. Avaliei tudo que pude nela sem chamar atenção; tinha uma postura ereta, o corpo magro e sem curvas acentuadas, dedos longos. Usava uma blusa com mangas compridas apesar do calor que fazia, e quando fez um movimento descuidado, notei uma tatuagem em seu pulso esquerdo. Tinha voz grave e um sotaque espanhol. Segundo a breve apresentação, ela era mexicana e tinha se mudado recentemente para o Brasil. Não acreditei em nenhuma palavra. Ela nos observou também, e percebi que seus olhos se demoraram mais em Ester do que nos outros, mas minha adorável colega de classe não percebeu, pois estava entretida olhando fixamente para um pequeno espelho. Estranho, isso não era do feitio dela; ignorar a presença da diretora para admirar seu cabelo mal penteado. Mas, ela ultimamente tinha agido de modo muito estranho.

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