Capítulo 13

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"Se a ama, não tem outra alternativa, Ivan..."

Padre Ralph estava debruçado com um livro de registros, à mesa do quarto de hóspedes, enquanto reflexivo, no que iria escrever logo mais, mordiscava há quase dois minutos o fundo de uma caneta tinteiro.

De janelas abertas, o olhar perdido para além das nuvens em tons de pêssego, assistia indiferente o pôr-do-sol magnífico, se alastrar por todo vale, majestoso e dominador.

Embora os pensamentos voltados para uma cena de horas atrás, a beleza do instante em nada o estivesse seduzindo, ou talvez já houvesse se acostumado aos arrebatamentos naturais da Austrália.

Logo, muito mais profano e pé no chão, cerrava os olhos e ouvia a própria voz proferindo uma frase, em ininterrupto.

Aquela em particular, grifada três vezes, para lembrar: dali até não sabia quando, o que tinha aconselhado ao perturbado e alcoolizado empregado de Weather Lake, apaixonado no mais proibitivo e estereotipado sentido de amor impossível, louco, empreender, como ato sem volta.

O mesmo sujeito, Ralph das vidraças observava, solitário como sempre Ivan ser, ele via: daquele ponto no curral, escoltando a montaria ia pernoitar ali ao ar livre, até a viagem da manhã seguinte; com notável ar de amargura em seu caminhar cabisbaixo, o capataz pianista, que tocava Chopin de memória, alimentava zeloso um por um dos cavalos, seriam usados no trajeto da fazenda até Sydney.

E se a amargura já significava um traço na história daquele pobre filho da Virgem, a visita de um certo irlândes portador de cigarros, ao que dava entender, só teria piorado a situação.

Outrossim, agora se lamentava, ele Ralph, devia ter se envolvido na lida com os demais homens da fazenda. 

Já que a pedido próprio,também ia se aventurar até os galpões do leilão, um hobby nada clerical, segundo era o jeito De Bricassart de viver; é devia.

Só que não.

No lugar?Foi sim de dar de cupido, com conselhos amorosos pra lá de questionáveis.

Ponto final.

Só que o tempo não volta, e palavras ditas não se apagam.

Por esse motivo, Ralph o último De Bricassart, naquele minuto se via de estômago embrulhado num nó, ocupado com o diário de fé; diário, que alimentava em minúcias os passos de religioso em início de jornada, homem calejado na mais tenra juventude, e até demônio solícito, quando se fazia necessário?

Afinal, não podia renegar Maquiavel, de quem era justo discípulo, e se no caminho a semente da tentação tivesse de ser plantada, para que um novo Éden fosse semeado, ele em nada se incomodava de se bem travestir de serpente ofertando a maçã, a quem quer que fosse.

Mas talvez Ivan, o aluno mais novo tinha Ralph eleito ensinar, para tamanha façanha, ainda não estivesse de todo pronto.

Não obstante, sinalizasse coragem e inconsequência pra tanto, por baixo da máscara de fria conformidade, Alkaev ostentava irresoluto:ainda era um menino, cujo brinquedo era uma ponto quarenta e quatro e a pederneira presa ao joelho.

Num suspiro, o padre assinou a data, 19 de dezembro de 1914, onde estava escrito algo como: "neste dia do meu amado Senhor, a quem jurei iria, eu Ralph, em nome de devoção legítima, agir sempre em prol daqueles acredito: são parte de minha missão nesta vida de servidão, sem arrependimentos escolhi perseguir.

Diante de meus olhos, percebo o nascimento, de um amor tão sincero e ardente, o qual nunca similar, ei de ter experiência e conhecimento enquanto mortal, em tão esplêndida e intensa violência inocente de sentidos primordiais, a não ser?

Onde Impera a PaixãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora