Capítulo 6

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Existe aquele velho ditado, quando os patrões cochicham coisa boa não pode ser.

O doutor Pat Beaufort, mal tinha levado cinco minutos inteiros para enfaixar a cabeça de Claude, e com uma perícia profissional, perceber, afora alguns arranhões superficiais mais feios que preocupantes e o gritante olho roxo, Claude Lionel Logan Carter,só trazia o pulso direito aberto, em razão da violenta manobra, tentara estabilizar o carro sem êxito.

"Danado de sorte" o médico disse algo assim ou coisa parecida, e meio resmungando sermões a respeito de velocidade e juventude, antes fosse tarde demais,  subiu apressado e foi  atender Pamela no primeiro andar.

Chegando lá, viu com distinto interesse clínico que aos cuidados da governanta,a jovenzinha já havia sido banhada e preparada para o que desse viesse.

Incluindo o pior, pobrezinha...

Na cozinha bem equipada, Sara corria que nem galinha poedeira alvoroçada, fazia mais outra hora, que sem parar subia e descia com chaleiras fumegantes . E de certeza já teria aberto um belo buraco no piso se esse fosse de cimento queimado,e não de parquete.

E quando achava uma brecha no vaivém que parecia sem fim, também aquecia um café no fogão a lenha, fritava uns bolinhos e ovos frescos com bacon em gordura de porco.

Mas pra qual bom cristão tudo aquilo, ela não fazia ideia, porque todos na propriedade: ao que dava impressão tinham perdido o apetite, inclusive, Ivan, a quem segundo a ordem do almirante seria pra permanecer ali mesmo nos fundos em alerta, dividindo a cozinha com Claude, sem arredar um pé porta afora nem que a bexiga estourasse.

Implícito : para o caso os Carter precisassem de algo urgente, ele seria o único a ter a cabeça no lugar, e "imparcial" o bastante  cumprir a missão.

Missão , no íntimo  o rapaz suspeitava,  em breve consistiria em  selar Spirit de volta  e dar um pulo no estabelecimento de Karl Harlington, o agente funerário de Broken Hill.

Tarefa  que sem entender bem o motivo, naquele dia, se pudesse faria de tudo para não ter de cumprir nunca, nunquinha enquanto vivesse, se tivesse escolha, é claro.

Mas como ordens eram ordens, lá estava ele, olhando pra cara do herdeiro dos Carter, com expressão indecifrável.

Enfim.

Se alguém fosse capaz de ler a mente do russo, veria,  Ivan estava se sentindo uma verdadeira ama-seca obrigado a sem ter muito o que fazer, mergulhado em puro tédio : vigiar Claude, como se o cretino fosse uma criança e não um marmanjo mais velho que ele.

De maneira preferia mil vezes estar rachando lenha, até ficar com os braços dormentes, do que ter de permanecer ali sentado, sem nada o que fazer, além de se entregar a pensamentos sombrios.

  _Que porra, nem tomar um trago eu posso por sete dias. Acredita? Nem trepar ou beber por sete dias, Alkaev! Onde já se viu um homem aguentar?_Reclamou o rapaz, se jogando numa cadeira e enfiando a mão nos cabelos castanhos bem cortados, o que lhe causou uma careta de dor.

Tinha esquecido a droga da faixa na testa.

Impassível, o capataz meio debruçado na mesa, por sobre os olhos apertados, bebericava uma caneca de chá preto, lentamente soprando a fumaça. Não gostava muito de café, e ainda que estivesse em jejum o dia todo, seu estômago tinha chegado naquele ponto em que cessa de protestar, e diz: foda-se você, eu aguento.

_E não sei como consegue ficar aí calado, com essa cara de paisagem, não depois do que eu ouvi da boca de minha própria mãe você dizer, seu escroque filho de uma puta.

Onde Impera a PaixãoWo Geschichten leben. Entdecke jetzt