Capítulo 1

444 60 120
                                    






Broken Hill, 11 de dezembro de 1914

O alaranjado do céu que tocava as colinas quebradas no horizonte imenso, lar dos antigos nativos "wijakali",colinas que dali mais uns anos, restaria de sua imponência nada além, de desolados vestígios da grandiosidade de suas riquezas concedidas pelos deuses do mundo esquecido.

A prata que alimentava como sussurro de fortuna e glória: a selvagem e inóspita fronteira de Nova Gales do Sul, e banhava de prosperidade e promessas de ventura aos bravos mineiros e proprietários de terras, dispostos a sangue, ferro e carvão, transformar a mais apartada de todas as extensões deste mundo de Deus, em centenas de milhões de libras para os cofres da rainha, e quem sabe um pouco para os próprios bolsos, com sorte e coragem? Num idílio ilusório de abundância, repouso e conquista.

Como todo caminhar daquela época, onde no verão até o vento, parecia preguiçoso em soprar, uma brisa teimosa desafiou o apito da locomotiva, que acabava de baforar sua nuvem de fumaça cinzenta, e espirrar nas botinas laçadas de salto marrom, o vermelho da terra natal.

Um presságio de boas-vindas, que Pamela Logan Carter, recebeu enchendo o peito, num misto de emoções de exatas proporções.

Fé. Expectativa. Perdão. Nostalgia.

E a mais enigmática de todas elas: antecipação?

Qual um capítulo de um livro, que desejasse descobrir o final, nem chegara a ser escrito, mas intimamente sabia, apesar da inegável mocidade, era ela a protagonista da trama.

Mesmo assim, o fato, de pisar de volta mais uma vez na estação de Sulphide Street nos limites da Cidade de Prata, era uma estranha e confusa evocação.

Pois ainda que longos quatro anos houvessem corrido, desde o domingo, que naquele lugar: um modesto entreposto de idas e vindas, mais de cargas preciosas que de almas, meio a soluços convulsivos e o nariz vermelho escondido por trás do lenço de cambraia bordado com o brasão da fazenda, a fizeram entrar no vagão em direção a Adelaide, e no dia seguinte ingressar na dispendiosa, discreta e distinta Academia Santa Gertrude Para Moças Católicas, sem que tivesse tido tempo ao menos para se refazer do trauma, da perda da morte da irmã Beatrice, na véspera do casamento com Sean McCallister.

Um acorde de dor nunca capaz de ser esquecido.

Afinal, fora ela quem insistira numa cavalgada pela ravina Wallaby naquela manhã, só não poderia imaginar, que Bea desatenta, acabaria picada por uma víbora venenosa de menos de trinta centímetros, e morrer em seus braços sem ao menos ter tido oportunidade, de esperar por socorro.

O vestido de renda francesa, por todos os anos, permaneceria pendurado na janela, como a espera do retorno de sua dona, ou o fantasma que o pudesse arrastar.

De modo, a plataforma de trens que não fazia parte da linha oficial do governo, mas de uma iniciativa particular em razão do promissor crescimento econômico da região a poucas milhas do vale seco, representava a arena que havia-la na batalha da vida, feito acreditar ter iniciado seu rito de passagem.

O momento onde a infância se despede para sempre dos sonhos de jardins de fadas encantadas. Para começar a rabiscar os rascunhos do que reservaria a vida adulta.

Pamela por muitas noites, no dormitório compartilhado com as moças das melhores famílias da região, permanecia no escuro de olhos abertos, em completo silêncio, enquanto as lágrimas mudas corriam pelo rosto corado.

Onde Impera a PaixãoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum