SESSENTA E OITO

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Eric abriu os olhos. Um zumbido ensurdecedor tomava seus ouvidos. Tinha a impressão de que sua cabeça explodiria – não apenas pelo barulho, mas por uma dor tão forte como nunca sentira. Seus olhos enxergavam apenas um borrão, quando tentava focalizar a realidade ao redor – demorou alguns minutos para entender onde se encontrava.

Deitou-se, procurando respirar fundo e acalmar-se. Estava sobre uma superfície muito desconfortável, e suas costas doíam. O que estava acontecendo¿ Fechou os olhos e procurou se concentrar, para evitar o desespero. Quais suas memórias recentes¿

Lembrava-se que era noite. O último toque já havia soado e ele se recolhera. Estava à espera de Brad, que logo chegou. Depois de alguma conversa, ele surpreendeu o jovem:

- Tá afim de uma aventura¿ - Ele perguntou.

Tinha uma garrafa de vinho e duas taças na mão. Eric achou aquilo perigoso – o que nunca havia detido nenhum dos dois antes, era verdade – mas também bastante excitante. Estava em dúvida.

- Não sei ... parece meio arriscado.

Brad revirou os olhos.

- Você não tá lembrado, né¿

Eric franziu o cenho.

- Lembrado de quê¿

O homem sorriu.

- Hoje faz um mês que a gente começou a ... sair¿ Namorar¿

O jovem ficou sem reação.

- Você tá ...

Brad hesitou por alguns segundos.

- Te pedindo em namoro¿

O outro assentiu.

- To sim. Aceita¿

Eric explodiu de felicidade. Namoro¿ Tinha se pegado, na última semana, pensando naquela possibilidade. Quatro semanas tinham sido mais que suficiente para perceber que desejava um relacionamento mais sério.

- É claro que aceito! – respondeu, com um sorriso imenso no rosto.

Se beijaram. O jovem voltou-se para seu robô e disse que sairia. Desligado protestou por algum tempo, mas logo percebeu que era inútil.

- Tudo bem, senhor. Ficarei recarregando.

- Aonde vamos¿

- À Bolha!

Ele gostou da ideia. Nunca voltara ao lugar, embora sempre houvesse pretendido. Caminharam pelos corredores silenciosa e rapidamente. Já lá dentro, ficaram por um bom tempo admirando as imagens do planeta, através do telescópio.

Daí em diante as lembranças se tornavam escassas e embaralhadas. Lembrava-se da imagem das taças cheias de vinho – Eric não havia bebido muita coisa. Lembrava-se de que, a certa altura, se beijavam calorosamente. E então não havia mais nada - as memórias sumiam.

Qual era aquele lugar, afinal¿ Procurou se concentrar - estava começando a melhorar. Forçou sua visão e distinguiu, ao seu redor, algo que pareciam cadeiras. Cadeiras¿ Não fazia sentido. O único lugar em que havia tantas cadeiras era ... o refeitório!

Ele se desesperou. Se, de fato, estivesse no refeitório, poderia ser descoberto facilmente. Respirou fundo. Naquele estado, não tinha como pedir ajuda a Desligado. Não tinha como se levantar, também. Recorreu ao último recurso dos desesperados – resolveu rezar.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora