CINCO

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Quando, no dia seguinte, as portas do metrô se fecharam e ele seguiu seu destino, Rebecca conseguiu se acomodar em um dos poucos assentos disponíveis. Olhou para os lados e percebeu que a condução estava lotada. Estavam em horário de pico, afinal. Nunca conseguia um assento naquele horário- talvez fosse seu dia de sorte.

Algo de que ela precisava. Depois do fiasco da noite anterior, ainda não conseguia acreditar que tomara a decisão de voltar ao trabalho. Se seu chefe fosse outra pessoa, provavelmente ela teria mandado um SMS pedindo demissão, não voltaria ao local em pelo menos dez anos e se, por alguma infelicidade do destino, o visse na rua, acharia qualquer lugar para se esconder, ainda que fosse numa caçamba de lixo. Um pensamento que lhe pareceu irônico, àquela altura, já que fora exatamente um saco de lixo que a fizera tombar.

Rebecca tentou acalmar os pensamentos. Estava cansada de remoer o que havia acontecido. Perdera uma noite de sono pensando naquilo - o que provavelmente lhe faria passar o expediente bocejando e com a cabeça distraída. À medida que conseguia se acalmar, a sonolência se tornava mais forte. Decidiu não oferecer qualquer resistência. Mesmo que breve, um cochilo lhe faria bem.

***

Quando ela deu por si, estava com frio. Muito frio. Um vento tímido soprou, fazendo-a olhar para os lados. Não conseguia distinguir exatamente onde estava. Havia uma vastidão ao seu redor, como um imenso oceano - embora aquele, definitivamente, fosse um ambiente pobre em umidade.

Olhou para o céu, na esperança de conseguir uma pista sobre aquele lugar. Estava limpo. As estrelas brilhavam com uma intensidade que nunca tinha visto. Ficou, por minutos que pareceram uma eternidade, contemplando o brilho do céu. Seria possível distinguir alguma constelação¿ Não que houvesse, em qualquer momento de sua vida, adquirido conhecimento sobre os astros ... a não ser que astrologia contasse!

Seus esforços foram em vão. Tentou encontrar o símbolo de seu signo - escorpião - mas a imagem mais distinguível que conseguiu se parecia uma piranha mostrando os dentes.

- Vai ver é peixes ... - concluiu.

Cansou-se do céu, mas não sabia o que fazer. E se desse um passo e caísse de um despenhadeiro, ou algo parecido¿ Com a sorte que tinha, não podia descartar nenhuma hipótese.

- Rebecca¿

Ouviu alguém chamando. Ela conhecia aquela voz.

- Rebecca¿ Você tá aí¿

Reconheceu: era seu patrão.

- Jay¿ Aonde você tá¿

Uma mão tocou seu ombro, fazendo-a pular de susto.

- Você me chamou¿

Ela ergueu a sobrancelha.

- Não que eu me lembre. Pensando bem, teria sido uma boa ideia. Onde é que a gente tá¿

- No deserto.

Ela olhou para os lados. A escuridão se fora e agora era possível distinguir o deserto. Várias tochas estavam fincados no solo, formando uma espécie de estrada até uma pequena elevação, onde encontrava-se uma entrada improvisada, bastante tosca, que só poderia levar ao subsolo.

- Desculpa perguntar, mas o que é que a gente tá fazendo aqui¿

Jay deu de ombros.

- O sonho é seu. Eu só vim como convidado.

Ok, a situação estava ficando estranha. Rebecca respirou fundo. Não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que havia algo atrás daquela entrada que ela deveria encontrar. E, sim, ela estava com medo - aquilo estava mais para um pesadelo. Apertou uma das mãos de Jay - se o pesadelo era dela, estava na hora de começar a aproveitar - e começaram a seguir o caminho definido pelas tochas.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora