TRINTA E CINCO

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A cadeira de plástico da sala de aula era uma das coisas mais incomodas em que Eric já sentara. Remexeu-se, olhando para os lados. Era estranho ser o único aluno de uma disciplina. Não pelo fato de a sala ficar vazia – ele gostava dessa parte. O silêncio ajudava a concentração. O que estranhava era o fato de ser o único foco do professor.

Se ele acertasse, toda a atenção estava nisso. Se errasse, mais ainda. Havia também a dificuldade de encarar o Brad apenas como professor, já que ele acabava descobrindo suas maiores vulnerabilidades. Especialmente quando a disciplina em questão era a de Mentalidades.

Era a quinta aula daquela matéria, desde que começara. A despeito da resistência inicial, a disciplina se tornou uma de suas favoritas. Interessou-se em entender como as diferentes formas de vida pensavam ou como viam questões como a vida, a morte, o fracasso e, principalmente, como encaravam tudo isso de forma diferente das civilizações terráqueas.

Apesar disso, Eric não estava conseguindo se concentrar, naquela tarde. Havia chegado antes do começo da aula. Almoçara rapidamente e decidira ir direto para a sala onde as lições aconteciam. Passou algum tempo sozinho – o suficiente para que se lembrasse dos diários de seu avô.

Não tivera coragem de tocá-los novamente, desde a fatídica noite em que Osh-Al-Im deixara-os em seu quarto. As informações que obtivera naquela primeira leitura o deixaram abalado. Não pelo conteúdo, em si - depois de entrar em contato, na Ordem, com tantas espécies diferentes, não era nenhuma surpresa ler sobre a queda de um disco voador nos anos 1940. Chocante era imaginar seu avô no centro de tudo aquilo. James ainda era, em sua mente, o trabalhador que o criara na favela.

Sabia, no entanto, que deveria voltar aos diários. O que quer que os encapuzados estivessem procurando estava escrito em algum dos cadernos. Talvez aquela fosse, afinal, a única forma de encontrar sentido na morte de James.

O tema da aula era a variação das perspectivas mentais entre três diferentes espécies. Brad demonstrava grande prazer em debater a dualidade mental da espécie Ruazi em comparação com a multipolaridade das mentes humana e fherbali. Eric achou o tema bem interessante, a princípio. Logo, contudo, seus pensamentos voltaram aos diários.

A distração do aluno não passou despercebida. Brad notou que sua mente estava longe da lição desde o começo da aula. Resolveu continuar, na esperança de que em algum momento fosse capaz de recuperar sua atenção. Quando viu suas intenções frustradas, mudou de atitude.

- Eric¿ - Chamou o aluno.

Não houve resposta.

- Eric¿ - Tentou novamente, desta vez falando mais alto.

O jovem mirou o professor, assustado. Só então percebeu que sua desatenção o incomodara.

- Em que mundo você estava¿

Ele sorriu.

- Desculpe. Minha cabeça estava longe.

- Eu notei! Você tem me ignorado por quase uma hora.

Eric se sentiu mal.

- Me desculpe. O tema é muito interessante. Realmente é. Minha cabeça é que está cheia de problemas.

Brad franziu o cenho.

- Problemas¿ Aconteceu alguma coisa¿

- Bem ... de certa forma.

Ele pareceu preocupado.

- Te fizeram algo, aqui na Ordem¿

Eric ficou feliz com o zelo de Brad. A cada aula estavam mais próximos.

Todas as Estrelas Cairão do CéuOnde as histórias ganham vida. Descobre agora