DEZENOVE

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A viagem até a capital foi curta, embora houvesse durado mais do que Warna-San esperara. A cápsula se revelou extremamente desconfortável - tinha chacoalhado durante todo o percurso, fazendo-a desembarcar com ânsia de vômito.

Quando se aproximaram da terra firme, a cápsula emergiu. Estavam a alguns metros da praia, e a nave não iria adiante. Oficiais do rei esperavam por eles, e assim que perceberam sua chegada, entraram na água para buscá-los. Warna desembarcou após o companheiro de viagem, só tocando o fundo do mar quando a água estava em seu pescoço.

Os soldados escoltaram os prisioneiros até a areia. Warna-San ficou surpresa ao perceber que os anéis de fogo ao redor da outra criatura ainda estava acesos. Um veículo os aguardava na praia - tinha o mesmo formato da cápsula, embora fosse maior e comportasse mais passageiros, além de poder voar. Decolaram sem demora.

Warna-San não estava preparada para o que viu. Seu coração disparou ao fitar a capital ... devia ser estranho viver em meio a tantas pessoas! A beleza era indescritível. A cidade era cruzada por uma larga avenida, ladeada por imensas estátuas de pedra que representavam os reis de Esp-Cor. Ao fim dela, o gigantesco palácio real observava a cidade do alto de uma colina, cercado por lagos e jardins coloridos. Mesmo em sua decadência, era uma visão de tirar o fôlego.

Warna observava tudo hipnotizada - queria absorver cada detalhe. Mesmo a caminho de um julgamento que definiria seu futuro, aquilo a fez esquecer os problemas. Pousaram sobre o jardim frontal do palácio, próximo a um dos lagos. A mulher se sentiu tentada a livrar-se da vigilância dos soldados para poder explorar o local, mas sabia que sua situação só ficaria pior. Contentou-se em apreciar à distância.

Foram conduzidos com pouca gentileza pelos gigantescos salões e corredores do palácio real. A imponência da construção era tão estonteante quanto os jardins que a cercavam. Grandes pilastras sustentavam a antiquíssima edificação, feita para durar pela eternidade. Paredes esculpidas contavam as histórias mais memoráveis do reino, que parecia ter enfrentado desafios ao longo dos milênios.

Depois de muita caminhada, chegaram a um salão alto e iluminado. Não era grande, na verdade. Duas poltronas esperavam pelos prisioneiros e encaravam uma tribuna na qual o rei e outros dois homens se sentavam. Warna não sabia dizer quem eram.

Quanto ao rei, era fácil identificá-lo. Trajava-se de forma luxuosa e imponente, como somente um rei poderia. Ela se surpreendeu com sua juventude. A palavra rei evocava-lhe a imagem de um homem velho e barbudo, como um sábio. Aquele rei, contudo, estava longe do estereótipo.

Sentaram-se. Ela olhou para a criatura a seu lado. Por mais sinistro que fosse, algo em seu coração - uma simpatia nascida do desespero – desejava-lhe sorte. O rei se levantou.

- Esta assembleia, reunida em sessão extraordinária, está aqui para levar ao conhecimento dos réus o resultado do julgamento ao qual estiveram submetidos nos últimos dias.

Ele fez uma pausa. Buscou um papiro sobre a mesa, com algumas informações das quais necessitava.

- O réu de nome desconhecido – ele apontou para o prisioneiro ao lado de Warna – conhecido neste processo, para fins práticos, como sujeito número 11, foi apreendido há 49 luas. Na ocasião, encontrava-se em posse de um dispositivo altamente tecnológico, de função desconhecida, encontrado por outras 10 vezes nas mãos de sujeitos perigosos, ao longo deste reinado. O objeto foi apreendido e está, junto aos demais encontrados anteriormente, sob estudo. Quanto ao prisioneiro, foi levado para uma base de inteligência, onde resistiu às investidas de nossos funcionários em busca de informações.

O rei levantou a cabeça, dirigindo-se diretamente ao réu.

- Considerando a situação, a relutância do prisioneiro e a ameaça enfrentada pelo reino a esta altura, este tribunal, por decisão final e irrevogável da autoridade real considera o réu uma ameaça à segurança da população e determina que seja aprisionado pelo resto de sua existência. Os guardas podem escoltá-lo.

Os dois homens à mesa levantaram-se, andando em direção à criatura, que soltou um grito de ódio alto, com sua voz aguda. Os guardas o conduziram, apesar dos berros, sem resistência – Warna imaginou que os anéis de fogo o impedissem de tomar qualquer atitude.

Não demorou para que os três deixassem a sala. Apenas Warna-San, o rei e os dois soldados que a tinham trazido até ali permaneciam. O monarca procurou por outro papiro, antes de retomar o julgamento.

- A ré de nome Warna-San – apontou em sua direção – apreendida há duas luas, teve sua vida salva por um de nossos funcionários. Levada à base de inteligência, recebeu tratamento até a plena restauração de sua saúde. Foi mantida prisioneira, tendo seu caráter e suas intenções sido avaliados pela autoridade real.

Ele levantou a cabeça, dirigindo-se a ela.

- Após longa consideração e avaliação do comportamento de Warna-San como prisioneira, este tribunal, personificado na figura do rei, acredita que a ré não representa qualquer tipo de ameaça e determina a imediata devolução de sua liberdade. A sessão é declarada encerrada.

O coração de Warna saltava com tanta força que parecia capaz de sair pela boca. A sensação de alívio anestesiara seus reflexos. O rei passou por ela, com pressa. Provavelmente tinha muito que fazer. Ela ficou ali, jogada, aproveitando a estranha – embora magnífica – sensação de ter seu destino nas próprias mãos, outra vez.

Aos poucos, retornou ao seu estado normal. Levantou, perguntando-se como acharia a saída do palácio. Pior ainda, não sabia para onde iria. Não havia se preparado, quando deixou a ilha, para nenhuma questão prática. Onde dormiria¿ Como conseguiria algo para comer¿

As perguntas eram tantas que, tendo acabado de se livrar de um problema, começava a se desesperar com outro. Alguém ao seu redor pigarreou, chamando sua atenção. Era uma serva do reino. Não se vestia, Warna percebeu, com uniforme militar. Devia trabalhar no palácio.

- Senhorita Warna-San¿ - A mulher perguntou.

- Sou eu – ela respondeu, curiosa.

- O rei deseja encontrar-lhe. Imediatamente.

Warna franziu o cenho. O que o rei queria, agora¿ Mais uma vez, a última frase de sua mãe, em vida, reverberou em sua mente.

"Você deve ir para a capital ... e solicitar uma audiência com o rei ... tudo o que precisa fazer é dizer quem você é ..."

Àquela altura, o rei já sabia quem ela era. Ela meneou a cabeça, afirmativamente, e passou a seguir a serva.

Era hora de descobrir por que seu nome significava tanto para aquele monarca.

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