Desde pequenos somos ensinados a não aceitar algo de estranhos ou sempre a nos afastar quando a "esmola" é boa, pois quando ela é demais, até o santo desconfia, não é mesmo?
Foi justamente isso que Lauren pensou quando William, seu mais novo vizinho...
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- E então? Esta se sentindo melhor?
Davi pergunta depois de eu ter passado mal por causa dos remédios fortes. Comecei a tomar mas não demorou muito para que eu saísse as pressas para o banheiro e vomitar todos. Fiquei um pouco receosa pois por um momento pensei que a cirurgia não tinha dado certo, o que foi desmentido pela enfermeira depois de alguns minutos.
- Sim, obrigada!
Respondo incomodada por ele estar trocando o curativo do meu novo soro.
- É uma questão de tempo até você se acostumar. Eles estão fazendo a maioria do trabalho da quimioterapia em você, isso ajuda bastante.
Suspiro cansada porém melhor, meu tempo aqui está contado e tenho que fazer meu melhor para sair logo daqui.
O resumo da minha semana é sempre o mesmo, tratamentos e mais tratamentos. Nunca gostei de hospitais, e ficar em um leito enferma não era o que eu planejava para depois da minha formatura.
- Bom já já estará na hora da sua visita. Alguém virá?
Pergunta sorridente mas apenas lhe encaro. O tempo em que estava aqui, eu pretendia ao máximo não falar sobre minha vida para Davi, não tinha nada de mais nela e não queria saber nada sobre ele também.
A questão é que ele é insistente e ao mesmo tempo bem receptivo, o que seria uma boa para outras pessoas que estivessem interessadas.
Não o culpo pois sei que ele faz de tudo pra quebrar o gelo entre nós dois ou até mesmo tentar afastar esse ar de paciente impossibilitada em que me encontro, mas sei também que a relação que ele quer vai além de médico e paciente, então tento ao máximo me afastar de suas investidas.
- Só Karen. Minha mãe trabalhará até tarde hoje então não virá.
- Karen...-repete pensativo- Karen é irmã daquele cara que sempre estava aqui?
- Sempre?
Pergunto curiosa e ele percebe meu desconhecimento sobre o assunto. Sempre? Meu anjinho também pergunta. Talvez minha surpresa por ouvir isso seja por que eu sei que William não perderia o tempo dele aqui.
- Sim, todo o tempo que você estava desacordada ele e sua mãe revezavam pra ficar com você...
-O QUE?
Chocada demais tampo a boca com as mãos pois eu praticamente gritei ao ouvi-lo. Impossível. Meu diabinho debocha desacreditado por também pensar que aquilo seria uma mentira.
- Você não sabia? - a confusão está bem explícita em seu rosto e eu apenas lhe olho.
- Ninguém me falou.
- Creio que é isso que namorados fazem, certo? - Anotando algo no prontuário percebo o descontentamento em seu tom de voz.
- Ele não é nada...digo, não é meu namorado.
Agora é meu tom de voz que muda por dizer essas palavras. Falar que William não é meu namorado depois de já estar acostumada em fingir ser, me soa estranho e desconfortável. No começo da minha descoberta em perceber que eu o amava até pensei que teria alguma chance, mas agora sei que foi tudo fantasia da minha cabeça em querer viver um daqueles clichês. Uma hora dessas ele deve estar com Camila e eu só passo de uma bela mentira em suas lembranças.
- Não é isso que ele falava quando eu vinha lhe examinar!
Levanta uma sobrancelha e eu tento falar algo mas nada sai da minha boca. Namorado? O que ele queria falando aquilo? Tinha várias perguntas em minha cabeça e o único que saberia respondê-las seria William, mas eu não saberia quais eram seus objetivos agindo e mentindo daquele jeito. E talvez eu não estivesse pronta o suficiente para lhe encarar depois de acordar da cirurgia.
- Odeio dizer isso mas ele realmente demonstrava gostar de você.
- É só impressão sua!
- Talvez sim, mas não sei. Qual a relação de vocês dois? - curioso questiona.
- É bem estranho, não quero falar sobre isso.
Ele sorrir envergonhado e coça nuca, suspira derrotado por não saber mais e balança a cabeça em negação.
- Enfim, tente descansar um pouco - senta na beira da cama ao meu lado - não fique se preocupando a toa com bobagens.
Davi provavelmente não saberia dizer como é se sentir ansiosa por uma pessoa, ansiar por ela a todo momento e querer tocá-la mesmo sabendo que ela nunca será sua, pois era assim que eu me sentia em relação a William. Para ele aquele tipo informação era bobagem, mas pra mim serve de ponte para saber o que William quer fazendo tudo isso.
- Obrigada!
- Quê isso. Não agradeça! Você sabe que pode contar comigo dentro e fora desse hospital, não sabe?
Percebo que Davi é um homem bom, bom o suficiente pra fazer alguém feliz se essa pessoa realmente gostar dele. Tirando o fato dele tentar jogar o charme dele pra cima de mim percebo que nas de mais questões não tenho do que reclamar sobre ele.
A conversa parou naquele instante e Davi checou as últimas coisas depois do episódio dos remédios e me deixou sozinha no quarto. Apenas eu e meus pensamentos. William dizendo que é meu namorado, pagando as despesas do hospital e revezando os dias com minha minha mãe pra ficar comigo? O que ele pretendia com tudo isso?
Estou a ponto de gritar querendo respostas. Daqui a meia hora Karen talvez apareça e eu lhe perguntarei. Na última visita ela estava sorridente e disse que traria uma surpresa hoje, talvez essa surpresa tenha algo relacionado com William.
Meu coração batia forte só em pensar nele, aquele idiota mentiroso, que mesmo deixando bem claro que não me queria ainda ocupava meus pensamentos.
Percebo que agora minha única opção será encher Karen de perguntas. Ela não escapará de nenhuma.
Os minutos passaram rápido e minha ansiedade me faz roer as unhas apenas por perguntar sobre ele depois desse tempo. Hora da visitaaa. Meu diabinho fala saltitante quando a porta é aberta e a figura que entra no quarto me deixa sem reação.
