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A chegada ao córrego foi um alívio, eles constataram que a profundidade era de apenas alguns centímetros e os veículos podiam trafegavar tranquilamente pelo pequeno curso d'água. A viagem agora era mais desconfortável, uma vez que os dezesseis soldados precisavam se espremer em três veículos feitos para quatro pessoas cada um. Depois de quase uma hora chegaram ao canyon, a entrada foi tensa, podiam ser emboscados facilmente ao entrar naquele local. Mas tinham que se proteger de serem avistados em campo aberto.

Foi muito demorado vistoriar cada pequena reentrância nos paredões de rocha a procura de possíveis ameaças. As únicas soldados femininas do grupo, Nina e Bel, se assustaram ao vistoriar uma das pequenas cavernas que foram encontradas nas encostas rochosas, elas haviam entrado no local e provocado uma revoada de pequenos animais alados, cada um do tamanho e formato aproximando dos pombos da terra, porém sem penas e com as asas formadas por uma fina camada de pele coberta por alguns pelos. Os bichos aparentemente comiam insetos.

Eles já estavam no canyon já há algumas horas, e, enquanto a maior parte deles descansava alguns ficavam de guarda na entrada da formação geológica. Os veículos foram deixados em uma pequena praia fluvial, a qual ficava escondida por penhascos de rochas dos dois lados do córrego. Os lançadores de mísseis foram desembarcados e levados para pontos estratégicos. Eles constataram um problema em sua atual posição. O canyon terminava em um grande penhasco, e o córrego virava uma cachoeira tão alta que a água caia lá embaixo já como uma névoa que molhava as rochas pontudas, e depois gotejava no solo e fluía para formar novamente um córrego. Isto deixava o local apenas com um acesso. Eles não conseguiriam sair por outro ponto, a não ser com a utilização de equipamentos de escalada. O comboio até tinha trazido alguns equipamentos de alpinismo, porém ele estava no primeiro veículo, aquele que havia sido atingido pelo canhão de plasma Stall. Não ter uma rota de fuga alternativa era preocupante, eles teriam que sair por onde entraram, estavam em situação que era muito fácil de serem cercados pelo inimigo.

Dia 23 da chegada ao planeta, 14:00 hs horário do planeta UH-9536

Pablo estava montando guarda quando um bip no equipamento de comunicação de longo alcance chamou sua atenção. Ele ativou a tela do aparelho e viu que havia um sinal que era re-transmitido por um satélite em órbita. Ele logo avisou seus parceiros. A mensagem codificada dizia apenas que a NCO estava um pouco distante do planeta para diminuir a possibilidade de detecção pelas naves inimigas, que haviam sido identificadas quatro naves Stall, que não respondessem essa mensagem e que continuassem em modo passivo.

Eles já estavam há cinco dias no canyon e decidiram fazer um inventário de seus recursos. Se ficassem ali por um longo período a falta de comida ia ser um problema. Eles tinham rações para mais 30 dias se fosse realizado um racionamento dos alimentos desidratados que levavam. Felizmente não iriam sentir sede, os filtros portáteis filtravam a água do córrego tornando-a totalmente segura para consumo. Os pequenos animais que eles viam ocasionalmente poderiam servir de fonte suplementar de comida, mais eles não tinham muita pressa em verificar isso, afinal eles haviam sido criados comendo rações processadas, a unica vez que comeram carne de verdade havia sido no curso de sobrevivência, durante a viagem na Aurora Seis, e a experiência não foi nada agradável para a maioria deles.

A metade deles não tinham nem sido criados em planetas com atmosfera respirável. Muitos planetas ou luas sem condições de abrigar vidas possuíam ricas jazidas de minérios estratégicos para a indústria humana. Muitos colonos passaram a vida toda em abrigos subterrâneos e módulos pressurizados para manter as minas produzindo. Era uma vida miserável, respirando ar de pouca qualidade. Muitos jovens das colônias se ofereciam para a vida militar desde muito cedo, era melhor ir para a guerra do que viver a vida insalubre de alguns planetas de mineração. Quando Nina desceu naquele planeta, em uma das últimas viagens das naves de desembarque, era a primeira vez que ela estava ao ar livre em toda a sua vida de 16 anos. Ela ainda se sentia muito estranha naquele espaço aberto, se sentia um pouco desconfortável fora de um módulo, veículo ou traje espacial.

O canyon era cercado por penhascos tão íngremes e altos que seu interior ficava a maior parte do dia na penumbra, somente ao meio dia o sol tocava o córrego e as duas estreitas margens. Em certos trechos haviam pequenas praias fluviais, porém o local preferido pelos soldados humanos eram algumas cavernas nas encostas dos penhascos.

Eles utilizaram o pequeno drone que haviam levado transportar algumas câmeras de vigilância e antenas de comunicação para o alto dos penhascos. Desta forma podiam vigiar a região e captar passivamente transmissões de rádio, e, se fosse considerado seguro fazer transmissões. Porém em uma das viagens de instalação das últimas câmeras o drone apresentou problemas de funcionamento em seus motores, e o pequeno aparelho caiu de dezenas de metros de altura, se chocando contra as pedras, mais uma perda de um equipamento que eles não tinham como substituir, a sorte não estava favorecendo a equipe deles.

rascunhoWhere stories live. Discover now