Capítulo 29

95 7 3
                                    

Dia 52 do calendário do Planeta UH 9536, 12:00 hs

Júlia e o alienígena estavam a poucas horas de chegar ao desfiladeiro. Ela andava muito devagar em razão de seus ferimentos. O "quatro braços" não demonstrava nenhuma expressão facial, como sempre.

Ele olhava por pelos binóculos dele e apontou para uma montanha próxima. Ela pegou os próprios binóculos e olhou para o onde ele apontava. Ela não gostou nada do que viu, cerca de uma dúzia de inimigos cinza claros desciam correndo a lateral de uma montanha, eles estavam a uns 3000 metros de distância. Em poucos minutos eles estariam trocando tiros.

Os inimigos já os tinham visto e o "quatro braços" apontou para uma valeta, aparentemente produzida pela erosão. Ela entendeu que aquele seria o local onde deveriam ficar para enfrentar as criaturas cinza claro, lá teriam alguma proteção.

Foram para a valeta e o "quatro braços" pegou um pequena pá em uma de suas mochilas. Com terra e pedras ele começou a montar uma pequena barricada, com cerca de 35 centímetros de altura. Júlia percebeu o plano dele e tentou ajudar, porém não estava em condições de fazer muita coisa.

Júlia havia deixado o rifle de quatro canos no chão para colocar pedras na barricada. O "quatro braços" pegou a arma dela. Ele apertou um pequeno botão, o qual ficava quase escondido e um compartimento lateral da arma se abriu. Ele pegou diversos pequenos cilindros em uma mochila, cerca de 40, os quais ela imaginou serem munições, e os colocou em uma abertura no compartimento do rifle. Fechou a arma e a entregou para Júlia.

Ela constatou que o "quatro braços" havia feito um teste com ela, se ela tivesse tentado atirar nele com aquela arma, a qual estava sem munição, ele provavelmente iria fazê-la em pedaços.

Os inimigos estariam ao alcance das armas em pouco tempo, Júlia e o quatro braços se deitaram atrás da barricada. O momento chegou e o quatro braços deu o primeiro tiro. Um inimigo caiu e os outros continuaram vindo e passaram a atirar.

Júlia mirou o rifle e apertou a tecla do gatilho. A arma era estranha, mas ela conseguiu usar a mesma de modo eficiente. Ela notou que se a tecla do gatilho fosse apertada com mais força a arma realizava uma sequência rápida de quatro disparos, um de cada cano, porém ela preferiu apertar a tecla com menos força para fazer disparos individuais de maior precisão.

Ela atingiu dois inimigos e o quatro braços mais um. Ele atirava muito bem, sempre acertava o alvo na cabeça, porém demorava demais para fazer cada tiro. E os inimigos estavam se aproximando. Júlia viu que um dos inimigos que ela havia atingido no peito e havia caído, se levantou novamente e voltou ao ataque. Ela ficou apavorada, desse jeito não iriam conseguir, ela não se arriscava a atirar na cabeça dos inimigos como o quatro braços, não tinha tanta precisão com aquela arma bizarra.

Os disparos do inimigo atingiam a barricada, porém um deles conseguiu passar por uma abertura entre as pedras e atingiu um dos braços superiores do quatro braços. O sangue dele era vermelho, porém menos viscoso do que o dos humanos. Ele não conseguia mais atirar com precisão, então pegou a arma mais curta de muitos canos, e com os braços inferiores e disparou uma rajada de tiros contra o inimigo.

A munição de Júlia acabou. Ela foi com a mão em sua bota esquerda e pegou a pistola semiautomática. Os inimigos já estavam perto o bastante para usar a arma de mão. Ela atirou contra os inimigos, eram necessários vários disparos para derrubar cada adversário, e mesmo assim alguns deles estavam levantando. O quatro braços conseguiu liquidar um dos inimigos atingindo ele com toda uma rajada de balas.

Júlia já havia trocado de pente duas vezes, e aquele era o último. Ela já pensava que só ia sobrar a faca que ficava em um compartimento lateral de sua jaqueta. Ela achou que dessa vez não iriam conseguir. Porém ela viu o peito de um dos inimigos explodir ao ser atingido por um disparo de plasma. Depois outro e outro tiveram o mesmo destino.

Os inimigos ficaram sem ação por um segundo e depois olharam ao redor procurando os atiradores. Ela aproveitou que um dos inimigos havia ficado parado e atingiu a lateral da cabeça dele com um tiro certeiro de sua pistola. Os inimigos iam sendo eliminados um a um, e ela conseguiu ver que os disparos vinham de uma montanha próxima do desfiladeiro. O solo estava tingido pelo sangue das criaturas e, em certos trechos, havia uma bagunça de cabeças, pernas, braços e outras partes de corpos espalhados. Ela sabia que aquele tipo de tiro só podia ser de um fuzil I-26. Ela se lembrou do time snipers que também haviam vindo reforçar o acampamento da patrulha, com certeza eram eles, na verdade, ela achava os caras um saco, porém agora ela poderia transar com todos eles como agradecimento por salvar a vida dela.

Depois que o último inimigo foi eliminado ela se levantou, e foi seguida pelo quatro braços. Por um instante seu coração gelou,ela pensou que os snipers podiam atirar no alienígena. Ela então acenou para a direção de onde tinham vindo os disparos que os salvaram e pensou, "espero que eles entendam que eu e ele estamos juntos". Depois que se passou mais de um minuto ela achou que não havia mais perigo, se eles quisessem atirar nele eles já teriam atirado.

Ela notou que o quatro braços olhava para ela, mais precisamente para a pistola que ainda estava em sua mão. Ela guardou a arma na bota e sorriu para ele, esperando que ele entendesse que aquela expressão facial significasse "eu não atirei em você, somos amigos".

rascunhoWhere stories live. Discover now