04.2 | ou ❝eu não te odeio❞

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Levei quase uma semana para conseguir explicar a Zaca quem era Nicholas Jordan. Estávamos no carro, voltando da escola. Zé tinha ficado para o treino do futebol.

— Eu conheci o Nicholas em uma das festas do Carlinhos. — falei, do nada, e Zaca se empertigou ao volante. Ele estava tomando cuidado para não me pressionar, o que era um alívio. Esperou que eu me sentisse confortável para contar a ele.

— Conte mais. — Zaca encorajou.

— Ele era diferente de todos os garotos que eu já tinha visto. Tinha aquele cabelo cacheado que chamava atenção, estava sempre de All Star e tem a maior coleção de camisas xadrez que eu já vi. — eu ri um pouco, me lembrando de todas as vezes que eu tinha tirado sarro dele por conta disso — Mas o que o destacava dos outros era o violão. Ele sempre estava com aquele violão. O vestia como se fosse uma peça de roupa.

— Ele era bom?

— Sim. Ele vem de uma família de músicos. O irmão mais velho também toca violão, e o do meio, João Pedro, toca bateria. Nicholas e João chegaram na festa e pediram para tocar em vez de ouvirmos as músicas do celular do Carlinhos, como sempre. Quando ele começou a tocar, eu fui hipnotizada.

Me perdi naquela memória. Todas as garotas estavam babando por João Pedro, que era um garoto bonito, de cabelos pretos meio compridos, pele bronzeada e olhos cor de âmbar. Ele tinha cara de menino surfista, garoto do litoral. Tinha acabado de chegar de férias, ironicamente, em Vitória, onde mora avó dos irmãos Jordan.

Mas foi Nicholas que prendeu meu olhar.

A pele branca, bochechas rosadas, olhos castanhos. Os antebraços musculosos e sua habilidade com o violão. Eu ouvi os primeiros acordes da música que eles estavam tocando, e meu olhar encontrou o dele pela primeira vez.

Eu achei que meu rosto ia explodir de tanto corar.

— Amor à primeira vista. Que clichê. — Zaca comentou, tirando os olhos da rua para avaliar minha reação. Eu dei um sorriso, porque tinha sido isso mesmo.

— Quando voltei para casa, não consegui dormir. Eu estava elétrica. — confessei toda boba — Então, desisti de me revirar na cama e fui até a cozinha preparar uma caneca de chá, que levei até a sacada do meu quarto para olhar a rua até que o sono voltasse. Dei uma olhada para a casa do vizinho do lado esquerdo, que não era habitada há anos. Lá na janela, parado ao lado de caixas e caixas de papelão, estava ele.

— Que conveniente.

— Eu tremi na base. Ele acenou, eu acenei de volta. Nicholas foi até o parapeito da janela e me perguntou o que eu tinha achado da música, e eu disse que era muito boa. Ele agradeceu e se apresentou como Nick. Todas as noites, nós ficávamos conversando de varanda para varanda, até de madrugada. Pelo sotaque, eu soube imediatamente que Nicholas era capixaba e comentei que minha mãe morava em Vitória. Foi o suficiente para que ficássemos até quase quatro horas da manhã reclamando sobre sua cidade natal, e ignorando o mundo a nossa volta. Ele me contou que tinha se mudado com a família para a casa da esquerda, que tinha dois irmãos mais velhos. Ricardo morava em São Paulo capital, e fazia faculdade. João estava no último ano do Ensino Médio, e ele e Nicholas frequentariam a Fundação, como eu.

— E seu pai não reclamava de você ficar de papo furado com um garoto até altas horas da noite? — Zaca perguntou, como um irmão mais velho superprotetor — Ele nunca apareceu na varanda para dar uma dura nele e perguntar sobre suas intenções?

— Meu pai e Nick se adoravam. — eu engoli em seco — Ele é incrível, sabe. É impossível não gostar dele.

Eu tinha quinze anos, mas não era nenhuma idiota. Sabia que naquele domingo de manhã, após a festa em que conheci Nicholas Jordan, quando acordei para o e meu pai disse que havia alguma coisa diferente comigo, era porque eu estava apaixonada.

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