14.2 | ou ❝sem pensar duas vezes❞

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— Me deixa em paz, Natan!

Da última vez que chequei, Natan estudava em São Paulo, e nos últimos dias eu tinha cruzado com ele mais do que o "raramente" prometido por Lorena em seu discurso inicial sobre ele.

O que ele estava fazendo aos portões da minha escola, em pleno dia de semana, no exato instante em que eu tinha conflitado com seu irmão gêmeo, era um mistério para mim.

— Não. — respondeu ele, ofegante, enquanto me seguia.

Eu continuei andando o mais rápida e silenciosamente que pude, pelas ruas da cidade, tentando lembrar o caminho de casa. Eu nunca tinha andado até a escola.

Constatei que precisava me livrar de Natan logo, senão teria de explicar ao idiota do Marcos e à minha mãe o que estava fazendo matando aula com um garoto.

— Já não basta o seu irmão? — virei-me para ele e despejei toda a minha raiva acumulada desde o terraço da festa. Eu já não estava mais chorando, o que era ótimo. — Você também resolveu me fazer de idiota.

— Corrêa, é você que não me dá moral. Eu te chamei para sair, e você recusou. Eu não sou de ficar perdendo o tempo em causas perdidas. — disse ele, sorrindo e abrindo os braços, como se tudo fosse um mal-entendido — Mas desde o primeiro dia que eu te vi, não sei, eu... eu quis ficar perto de você.

Avaliei sua expressão, tentando ver se ele estava de joguinhos comigo.

— No primeiro dia que você me viu, Natan, você enfiou a minha cara na areia na frente de dezenas de pessoas.

— Olha, eu sei o que ele te fez. Meu irmão. — começou ele, se aproximando cautelosamente, como se eu fosse alguma ave que ele não queria espantar.

O tom dele era sincero. Não sinceramente forçado, como Lucas.

Era só... sincero.

— E sei o quanto você está magoada. — continuou, ainda se aproximando, e dessa vez eu só permaneci imóvel — Mas eu nunca vou fazer algo assim para você, Val. Eu prometo.

Imóvel. Sem respiração.

— Toda vez que eu entro naquele avião para São Paulo, minha cabeça só pensa em voltar para cá, e te ver de novo. — ele deu mais um passo na minha direção. Se eu me movesse um centímetro para frente, nossos corpos colidiriam.

Aquilo não devia estar acontecendo.

Não quanto eu tinha manchas de lágrimas choradas por Lucas no meu rosto.

— Me deixa em paz, Natan.

Onde Há FumaçaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora