13.2 | ou ❝cala a boca e me escuta!❞

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Lorena me arrancou da cama uma hora mais cedo, para encontrá-la no Starbcuks antes de nossas aulas começarem. Segundo ela, era uma emergência. Quando cheguei, a emergência era não ter nada para combinar com a bolsa que ganhara de Lucas em seu mesversário de namoro.

Reclamei incessantemente com ela, que apenas me ignorou. Ela queria ajuda para escolher um presente para Lucas também.

Minha sugestão era um detector de mentiras.

Mas eu não podia dizer isso a ela.

Ansiosa para trocar de assunto, contei a ela o que eu tinha visto no banheiro, no dia anterior. O assunto era tão sério, que até Lola conseguiu ouvir o que eu tinha a dizer até o final, sem desviar o assunto para ela mesma nenhuma vez e sem me interromper para falar de sapatos.

— Eu simplesmente não sei o que fazer. — desabafei.

— Eu já teria contado tudo para o seu padrasto. — Lola brincou com o canudinho de seu cappuccino descafeinado — Depois acontece alguma coisa mais séria, e você vai se sentir culpada. E preocupação faz mal para a pele.

— Ele não é meu irmão. — respondi, automaticamente.

— Ele mora na sua casa, vocês se dão bem, e você se preocupa com ele. É como se fosse irmão, Valéria. — ela falou, sensata — Além do mais, Andressa me contou sobre a discussão de vocês duas. Ninguém enfrentaria minha irmã desequilibrada por alguém que não se importa. — Eu soltei uma risada. Lola não riu. Estava falando sério.

— Ele disse que vai contar ao pai dele em uma semana. Vou respeitar o tempo dele. Vamos falar sobre outra coisa, estou perdendo o apetite. — falei, largando o garfo cheio de quiche de ricota no prato.

— Ótimo, vamos falar de coisas interessantes. — Lorena parecia ter retornado ao seu jeitinho típico, com um sorriso de menina no rosto — Soube que você e o Natan se entenderam na festa esse fim de semana.

Lola ergueu as sobrancelhas sugestivamente. E eu deveria imaginar que ela me encurralaria a respeito na primeira chance que tivesse.

— Não sei se sou capaz de me entender com ele. — desconversei, olhando através das vidraças do Starbucks para as pessoas dormindo no ponto de ônibus. Não era exatamente mentira. Ele tinha me abandonado no terraço. Isso eu não conseguia entender.

— Não tente negar, Corrêa. — ela apertou os olhos amendoados — É Natan Avelar. Todo mundo já sabe.

Todo mundo já sabe. Esse "todo mundo" incluiria Lucas Avelar?

Não que eu me importasse, ou que quisesse me importar.

Mas o que Lucas estaria pensando sobre isso? Será que ele sabia que seu irmão tinha me chamado para sair de novo?

— Estou atrasada. — olhei para o relógio em busca de socorro.

— Ah, vamos matar aula hoje! — ela pediu, batendo os cílios para mim — Preciso de sapatos para combinar com minha bolsa nova!

— Te vejo mais tarde.

Me perguntando como Lorena cabulava tanta aula, e ainda assim não era descoberta por seus pais, me deparei com outra pergunta para a qual eu tinha certeza que ela não me daria uma resposta.

Por que Lorena fazia todo o possível para fugir de sua própria escola?

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Quando cheguei à Leonardo da Vinci, mal atravessei o primeiro corredor antes que alguém saísse de dentro de um armário do zelador e me puxasse pela cintura quando eu estava de costas, tapando a minha boca para impedir que eu gritasse.

Era Lucas.

— Você precisa me ouvir. — implorou em voz baixa, ao pé do meu ouvido, usando a mão livre para acender uma luz amarelada e fraca no armário minúsculo. Eu pisei em um balde sem querer, fazendo o maior barulho.

— Me solta. — murmurei contra a mão que cobria minha boa, tentando me desvencilhar dos braços dele e, ao mesmo tempo, evitar que fôssemos pegos.

— Primeiro, você me escuta. O que quiser fazer depois de me ouvir vem em segundo, eu não me importo.

— Lucas, eu tenho aula. — falei, destacando a última palavra ameaçadoramente — Ao contrário de você, não estou atrás de uma detenção.

— Natan? Sério? — ele me ignorou, confirmando as minhas suspeitas de que Lucas já sabia sobre o gêmeo e eu — Você nem o conhece.

— Isso é graças a você, que nunca me disse que tinha um irmão gêmeo. —retruquei, ácida. Lucas revirou os olhos, como se aquele não fosse o ponto.

— Natan não é quem você pensa, Valéria.

— Nem você.

— Eu sou. Eu te juro, se você apenas me escutasse...

— Eu... eu vou gritar. — titubeei, sabendo que gritar seria uma ideia muito idiota, pois as pessoas descobririam e eu estaria encrencadíssima.

— Aé? Como?

E antes que eu pudesse emitir qualquer ruído, Lucas Avelar me calou com um beijo.

Qual é o problema desses gêmeos Avelar com beijos roubados, afinal?

Onde Há FumaçaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora