Sem saída

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• Arya •

Obviamente não se consegue dormir quando você está ansioso, nervoso ou seja lá como preferir chamar.

Miguel permanecia deitado do meu lado, com as mãozinhas fortemente fechadas ao redor de minha camisa. Estava acordado, porém com os olhos fechados e a cabeça voltada para mim.

Suspirava, o olhando. Talvez fosse verdade o fato de nossos pensamentos desatarem ao calar da madrugada pois, ao encarar meu pequeno irmão, era quase impossível não pensar em seu futuro. O que faria? Como reagiria com todos os acontecimentos? Entenderia que perdera a mãe tão cedo?

Acariciei sua bochecha de leve. Ele tem tanto pela frente. Eu também. Todos ali. Mas ele faz parte da sociedade futura. A geração salvadora ou procrastinadora. Eu só queria fugir de todas os horrores memoráveis por minha mente e poupar novos deles. Passamos a vida em uma prisão interna e externa e talvez, se tivermos sorte, teremos boas lembranças para levar conosco.

Abro a boca para falar-lhe, mas o tranco da porta da frente me faz pular e calar minha fala seguinte.

Miguel abre os olhos assustado, os erguendo para mim e ameaçador chorar. A porta da sala continua em trancos pequenos; talvez agora o suficiente para acordar quem quer que fosse ali dentro.

Me levanto rapidamente. Em um impasse de ir para a porta ou voltar para pegar Miguel, escuro o choro do mesmo começar e a porta do quarto de meu pai se abrir, em seguida seus passos apressados pelo corredor.

**
• Sam •

- Porra! - Sussurro alto, tentando trancar a porta inutilmente. Puxo o ar, deixando a chave cair e fazendo força contra a porta com meu próprio corpo, cerrando os dentes, ouvindo passos atrás de mim.

- O que é? S... Sam? - Carlos cambaleia ao descer das escadas, correndo até a porta, ainda sonolento.

- Carlos! Me ajuda! Rápid... - A porta ameaça abrir com um tranco lá fora. Jack.

- O que está acontecendo?! Quem está lá fora?! - Grita, tentando olhar pela janela.

- Carlos, só me ajude! - Devolvo no mesmo tom, gritando quando a porta recebe outro empurrão, dessa vez mais forte.

- O que está acontecendo?! - Arya grita, atrás de mim no momento que Carlos passa a me dar apoio na porta. Tento virar o rosto, soluçando pelos trancos na porta, conseguindo olhar nos olhos dela. Não sei se ela entende; provavelmente sim, mas visivelmente não quer acreditar. Noto que está com Miguel no colo, e permanece em conflito interno entre a porta e o bebê em seus braços.

- Não seja ridícula, Samantha - Ouço lá fora uma voz se desenrolar. Eu sei que é Alyce. Há muita coisa passando em minha cabeça agora e sinceramente, não sei como me defender dessa vez. Talvez eu nunca soube.

- Você acha mesmo que eu viria atrás de você apenas para tentar empurrar a porta da casa? - Ela estava calma. Talvez zombeteira. Droga, eu não sei o que fazer.

As batidas param.
Eu sei que não é bom sinal.

Ouço Arya praguejar atrás de mim. Meu coração dispara com o som de passos lentos zanzando em algum lugar do corredor de cima. Um arrepio me persegue quando penso na família do caseiro. Olho para Carlos, que respira com dificuldades.

Então eu consigo me virar lentamente. Minha preocupação já não era mais a porta ou quem entraria por ela. Qualquer um poderia. Porque estávamos cercados ali.

Henri desce os degraus da escada, olhando de Arya para Miguel, em seguida para mim e Carlos. Logo, sorri.

Fecho os olhos, soltando um palavrão mentalmente. Meu coração bate muito rápido e parece dessa vez tomar conta do meu corpo. Acho que nunca senti que meu cérebro havia desligado tanto de mim.

Tem Alguém Ai? - Volume 3Where stories live. Discover now