Vida

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 - Sam? - A voz de Logan vem da entrada do cemitério. Creio que agora pareço completamente uma insana que vai falar com mortos de madrugada e fica até amanhecer.

 Me voltei vagamente, grudando os olhos nos dele. Talvez ele perceba que eu estava chorando, não sei ao certo se está tão visível. Na verdade, não sei nem no que estou fazendo mais. Fico feliz? Com raiva? Mais triste? Eu tinha um irmão! Que fora morto ainda pequeno, nem tivera chance de o conhecer!

 - Hey, o que houve? - Não percebi que ele caminhou em minha direção calmamente, até se agachar do meu lado. Ele provavelmente notou que eu estava chorando, porque estreitou os olhos e levou uma de suas mãos a meu rosto, fazendo breve carinho.

 Não me afastei, como julguei que iria fazer. Apenas cheguei mais perto, deixando ele me puxar para um abraço apertado. Enterrando meu rosto em seu pescoço, dei pequeno soluço, fechando minimamente minhas mãos em sua camisa, quase que me sentindo um bebê por isso.

 - Você acreditaria se... - Soltei um soluço, erguendo um pouco o rosto para ele - Se eu dissesse? - Me devolveu o olhar, juntando um pouco as sobrancelhas.

 - Claro, Sam - Ergueu os ombros - Por que não acreditaria? - Afastou uma mecha que cobria um de meus olhos para trás da orelha cuidadosamente. Abri a boca, depois fechei, olhando para os lados, apenas por querer ter certeza de que Pianista não estava ainda ali. Eu queria que ele ficasse e sua presença me ajuda.

 - Eu... Tinha uma irmão - Sussurrei, franzindo os lábios, o olhando. Ele deixou escapar uma careta, me olhando como se eu estivesse realmente doente e precisasse ir no médico. Acho que já esperava tal reação, porque não me senti aborrecida. 

 - Um irmão? - Ergueu uma sobrancelha. Quase podia ouvir sua cabeça trabalhando para pensar na possibilidade de eu ter um irmão. - E como sabe disso? Só agora?

 - É! É, e tenho certeza que você vai me achar mais louca do que já está me achando se eu disser o que aconteceu. 

 - Provavelmente, mas, de qualquer jeito, não há no mundo algo que seja normal. Então diga, você sabe que seja lá o que for, não será esse o motivo que fará você se livrar de mim - Brincou. Soltei um riso fraco pelo nariz, balançando a cabeça e me endireitando. 

 Olhei ao redor, vendo as paredes cinzentas e manchadas que rodeavam o cemitério. Era um lugar que tinha tudo para ser assustador. Mas de alguma forma, eu já não tinha mais medo daquilo. Talvez da minoria daqueles fenômenos... Mas lembro ainda, perfeitamente, daquele demônio me perseguindo pela escola. Daquele, sim. Aquele eu nunca mais quero ver. Mas sei que não adianta não querer. De qualquer forma, enquanto tudo isso não acabar, sei que não adianta. 

 Me volto para Logan novamente, erguendo os ombros e começando a contar. Contei tudo, tudo que Pianista disse, e tudo que pensei em seguida. Falei que me sentia perdida no espaço, porque essa teoria de ter um irmão nunca havia me passado pela cabeça. E ainda mais um irmão... morto. Ele permaneceu quase sem ação enquanto eu contava, e no final, praticamente reagiu como eu. 

 - Entendeu agora? O que acontece, Logan? Por que perdi toda minha família assim? Eu quero ser a próxima!

 - Não, Sam. Não pense assim, por favor. Você não vai ser a próxima, ninguém vai deixar. 

 - Eu vou deixar. - Enfatizei. 

 - Não. - Respondeu, quase em cima de minha frase, arqueando as sobrancelhas por um segundo enquanto dizia, reforçando a negatividade com que falava - Você passou por tanta coisa, garota... Não desista agora, por favor. Eu preciso de você. - Ergueu minimamente os ombros, estreitando os olhos. O vento fez a copa da árvore ao nosso lado farfalhar. Por pequeno tempo nós dois ficamos em silêncio, talvez apenas ouvindo aquele barulho que chegava quase a tranquilizar. Então eu percebi que se fosse qualquer outra pessoa ali, mais firme e mais arrogante, indiferente às belezas da natureza, nem ao menos perceberia aquele som. 

Tem Alguém Ai? - Volume 3Where stories live. Discover now