Unicamente, feliz

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Amanhece negativamente mórbido. O mar cinzento ecoa agitado, prenuncio de chuva inesperada e assassinato na Street Fuze lion, 68.

É antes das sete quando o local está rodeado de viaturas e ambulâncias. Desconfortavelmente silencioso, as árvores guardam sombras de moradores e turistas, que entre um vento e sussurro curioso, relanceia a casa aberta aos ares. 

                       • Narrador •

- Parece que essa família teve uma noite conturbada - Roberts, observa, suspirando, enquanto examina as janelas arreganhadas do segundo andar.

Mark consente.

- Duplo homicídio. Ainda não há informações suficientes, porém vítimas conscientes - O segundo adiciona - Já é um começo - Apoia o braço na porta entre aberta da viatura, se voltando para o paramédico que se aproxima.

O mesmo faz uma referência, colocando as mãos para trás respeitosamente.

- A vítima ferida tem seus dezessete anos, senhor. Chama-se Logan. O adulto presente diz se chamar Carlos; viúvo. Explicou por cima de muita coisa, alega não estar em condições de falar nada agora e procura por seus filhos. Uma adolescente e um bebê. - Explica, minuciosamente baixo, como se confidenciasse um segredo.

- Bem - Roberts começa, abaixando a cabeça para os documentos que tinha em mãos - Precisamos que ele fale. Achamos uma garota quase sem vida no andar de cima. - Ergueu os olhos - A perícia constatou reações inicialmente alérgicas em seu corpo - Suspira - Uma agulha visivelmente esquecida ou propositalmente deixada foi confiscada para maiores aprofundamentos. - Continuou - O corpo dela já foi retirado e levado para o hospital às pressas.

- O garoto também - O outro devolve.

- Os donos da casa foram encontrados mortos há dois quarteirões daqui - Mark completa - A marteladas. Seja lá o que tenha acontecido aqui, foi algo prolongado. Um crime planejado, ou tentativa.

                         • Carlos •

O desespero quase me tomava por inteiro. Eu gostaria de voltar no tempo, totalmente, não só na viagem, mas em tudo. Que adulto desiludido com expetativas de vida já não quisera?

Levo o copo de plástico preenchido por café amargo até os lábios enquanto encaro o extenso corredor esbranquiçado do hospital. Espero há horas à fio por uma informação, um cuidado, sinal. Explicação.

"Porra" - Penso. Eu não fizera nada minha vida inteira. Eu pensara apenas em dar uma vida para Arya desde o começo e perdi um por um. Eu tinha mesmo que fazê-lo? Que esperar, profano, até que a morte me leve também?

  - Senhor Carlos? - Uma das médicas me chama em inglês. Ergo os olhos para ela, concordando.

- Tem informações dos pais dos pacientes, Logan e Sam, senhor? Ambos os casos são gravíssimos, precisamos dos responsáveis de ambos os menores aqui para maiores acompanhamentos e cuidados. - Fala.

Penso por alguns segundos. Depois olho para a parede, inquieto.

- Samanta é órfã - Devolvo, mais relutante do que eu pretendia - É uma história complicada, eu não tenho conhecimento de nenhum histórico hospitalar dela - Ergo os ombros. Era inútil, sempre disseram-me que nada sobrara do incêndio. Obviamente com Alyce nada fora feito realmente.

A médica pareceu confusa com a resposta.

- Não temos nenhum documento da mesma. Para nós ela é totalmente desconhecida, se é que me... - A corto com o balançar afirmativo de minha cabeça. Eu estava cheio daquilo, eu tinha uma filha desaparecida e, mesmo que eu devesse contar tudo com os meros detalhes de meu conhecimento, eu simplesmente não conseguia. Ou não queria pensar mais ainda naquilo tudo.

Tem Alguém Ai? - Volume 3Där berättelser lever. Upptäck nu