Ainda há tempo

14.6K 1.5K 596
                                    

"Tire-me daqui, eu não posso ficar
Por favor, não posso ficar
Não consigo, está escuro de mais
Vazio de mais, você podia me ouvir.
Alguém podia perceber, alguém podia fazer parar
Alguém podia me acordar, ou me colocar para dormir
Em um lugar onde não há causas de problemas
Então eu ando sozinha de novo, para o lugar que você quer
Mas você nunca está lá, não, eu nunca consigo te ver
Por que tudo some quando em relutância, abro um sorriso?
Por que você parece tão longe quando estou por perto? Por que não sorri quando peço ajuda? Por que não estende a mão?
Oh, por favor, tire-me daqui
Me diga pra esquecer, me diga que vai ficar tudo bem
Mas não me deixe esperando a olhar apenas para sua sombra
Não sei se poderei ficar por mais tempo, antes que este mesmo tempo me leve contra minha vontade
Você pode me ouvir?
Pode fazer isso parar?"

"Não adianta você tampar a rachadura do vidro. A agua continuará caindo ali dentro, e então o vidro irá transbordar. Assustador, você não tem como fugir. Espere para o que virá, não tente sorrir."

Foi o poema que Agatha, fracamente me deu, na última vez que a vi. Era um papel levemente amassado, mas de certo modo, guardei para mim. Ela dizia que gostava de escrever no tempo livre, mas não gostava daquilo no final. Eram coisas ruins. Eram coisas que refletiam ela.

Mas eu não tinha certeza, gostava de ler aquilo. Me conseguiam tranqüilizar. Talvez não fosse essa a palavra, mas mesmo assim, não importa. Eu gostava de seus poemas.

Arya saiu dali quando o tempo dela se esgotou. Bem, talvez ela não tenha se abalado, não gostaria nem de estar ali. O assunto de seu irmão nascer não parecia ser muito bom para ela.

Me levantei, deixando que Logan me soltasse. Percebi que ele também gostava de ler as coisas que Agatha me dava ultimamente.

Pedi licença para a médica que estava ao lado da porta, recebendo seu consentimento para entrar. O fiz em silêncio. Sabia que a mesma médica havia me dito que Agatha vinha mostrando estranho comportamento. Eles diziam que ela via coisas sem explicações, mas eu sabia que não era bem assim, Agatha não estava mentindo. Eu precisava falar com ela exatamente aquilo.

- Olá - Falei, baixo, em pequeno sorriso, balançando minimamente a mão que segurava o papel entre os dedos, fechando a porta silenciosamente atrás de mim. A garota pálida me examinou por alguns segundos, depois voltou a deitar a cabeça no travesseiro, como se isso exigisse esforço. Não me respondeu realmente. Então me contentei com o silêncio, indo até ela.

Notei que a mesma teve os olhos voltados para minha mão que segurava o papel amaçado.

- Você ainda tem isso - A ouvi. Eu sacudi a cabeça, afirmando.

- Parece ridículo para você, mas gosto.

- Sei que gosta. - Sua voz era fraca e áspera - Conheço seu psicológico, Sam. - Ela suspirou. Eu relutei, sentando na pequena poltrona ao lado da maca.

- As pessoas aqui estão dizendo que você está dando trabalho - Falei, em leve tom de brincadeira. Ela ergueu uma sobrancelha.

- Você também está dando trabalho para seus amigos - Devolveu. Ah, um soco no estômago. Vi seu sorriso se tornar irônico. Diante do meu silêncio, ela prosseguiu:

- Depressão, Samantha? - Perguntou. Eu ergui os olhos para ela.

- Quem te contou isso? - Me endireitei.

- Não preciso que me contem. Você está vazia. Solitária. Em silêncio. Isso é a entrada para a depressão. Vamos, meu irmão está adorando te ver assim. Então realmente não vê o que os da forças assim? - Parei ao ouvir a garota.

- ... Você acha que... Essa minha "depressão" que os torna mais fortes? - Perguntei.

- Eles lutam pra te ver cair. Você já está de joelhos. - Ela sussurrou. Eu senti um arrepio na espinha.

- Sam, esse jogo está ficando bom para eles. - Falou. Mesmo que fracamente, eu a podia ouvir direito - A escola está fechada para humanos. Mas eles não sabem que há fantasmas. - Sorriu minimamente. - Quem está do seu lado ainda?

**
°Narrador

- Isabela, venha jantar - Márcia chamou, desligando o fogo. Jorge colocava suco para si e para a menina que brincava despreocupadamente em seu quarto.

- Já vou, vovó - A voz infantil irrompeu pela casa, e logo em seguida, passinhos sonoros, denunciando a corrida da criança do seu quarto pelo corredor, até sua silhueta aparecer em frente à porta fa cozinha.

- Obrigado, vovô - Isabela sorriu, agradecendo pelo suco, recebendo um sorriso carinhoso de Jorge, que ajudou a menor a se sentar.

- Hey, Jorge - Márcia disse, sorrindo, guiando a panela até a mesa - Você tem visto a Samantha? - Perguntou. Ele ergueu a cabeça, negando.

- Não, ela saiu daí, não é? Mas... estranho, aquela tal de Alyce não estava cuidando dela? - Perguntou. Márcia parou, erguendo os olhos para ele.

- ... Alyce? - Ela sussurrou.

Isabela sorriu, erguendo os olhos para a avó.

- Hey, vovó - Disse - Eu tenho um amigo que diz falar com uma mulher chamada Alyce - Falou, com voz alegre - Mas ele é um pouco estranho - Riu - Ele nunca entra aqui, sempre fica lá no jardim, lá no jardim - Apontou freneticamente para fora da casa - Olha! - Exclamou, fazendo os olhos dos avós se voltarem para lá.

- Ele está lá de novo! - A criança riu uma risada descontraída - Ele e aquele machado - Balançou a cabeça - Sempre o machado.

**

"Ficar em silêncio ao olhar para o nada
Ouvir o nada e realmente saber o que é o silêncio" - Era isso que Júnior pensava ao ver os fantasmas, os ruins e os assustados, saírem aos gritos estridentes pela escola. Até desaparecerem nas ruas.

Eles estavam livres, agora.

A caçada havia começado.
Aquela era a noite das trevas. Aquela era a noite que as pessoas tinham que se proteger. Aquela era a noite que nem tudo era apenas a imaginação. Aquela era a noite que a frase da oração que as pessoas faziam antes de dormir, virava simplesmente:
Livrar-nos do mal, ninguém pode.

Porque agora Alyce conseguiu o que queria. Os fantasmas estavam soltos. Todos eles. Desde os demônios obsessores, até as almas que pediam ajuda, desesperados por esclarecimento.

**

Agatha parou, levemente incomodada com o ar que mudou de uma hora para outra. E então seus olhos se tornaram agitados.

- Sam... - Balbuciou, com a garota erguendo os olhos.

- O que foi? Você está... bem? - Perguntou, franzindo o cenho.

A garota deitada na maca se virou para ela vagamente.

- Você precisa ir embora. E precisa... precisa ir para minha casa. Agora. - Mandou. Sua voz ia se agitando e perdendo o ar enquanto ela falava, fazendo Sam a olhar seriamente, com a tensão na voz da outra.

- ... Por que? - Sussurrou.

- Ainda não é tarde. Vá, antes que seja.

**

Alô, humanos!

Obrigada para quem leu até aqui, se tu gostou daquela star básica ai, mete um amei, fala o que tu acha, sei lá, da um sinal de vida aí.
OBS: Todas as frases e inclusive o pequeno poema lido neste capítulo é de total autoria minha. Por favor, sem cópias, em lugar algum. Caso haja alguma citação em algum lugar, não esqueça dos créditos para o livro, ou para mim, tanto faz.

Queria agradecer à CarlosPedroso4, que me inspira para fazer coisas meio dramáticas assim. Esse cara é um puto cara genial, infelizmente ele não vê isso muito bem, embora vou tentar fazer ele enxergar.
Obrigada, coisinha, mesmo você sendo quieto e para baixo assim, eu amo você ❤

Tem Alguém Ai? - Volume 3Where stories live. Discover now