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Arya

- Miguel - Chamo, sorrindo, tentando desviar os pensamentos enquanto vejo Petter se afastar, subindo as escadas com o apoio firme do corrimão. Paro, o olhando. Ele realmente parece ter certa dificuldade para subir.

- Petter? - Inquiri, segurando Miguel no colo - Quer ajuda? - Continuo, mesmo que ele não tenha olhado para mim.
O vejo parar e se virar lentamente. Mas não para os olhos em mim, e sim em Miguel, que parece olhar para ele também.
- Não. Eu ando sozinho. - Responde, entre dentes, demorando para tirar os olhos de meu irmão. Então vira com certa ignorância, subindo as escadas, tentando rapidez.

Pisco, abaixando a cabeça para o bebê em meu colo. O mesmo está inexpressivo. É difícil tirar-lhe um sorriso, mesmo que espontâneo. Quase não se pode identificar o que quer ou quais são suas emoções. Apenas seus dois olhos grandes e expressivos parecem passar alguma mensagem; mas é muito complexo para um bebê.

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Jane

Ando pensando nos últimos acontecimentos. Não fora fácil para mim; creio que para ninguém, afinal. Desde que tudo começou, tive para mim que acabaria muito rápido. Mas apenas aumentava com o passar do tempo e a cena de Sam conseguindo fugir pela primeira vez, repetia em minha cabeça várias vezes. Pensei que morreria, admito. Já estava tudo perdido para mim, de qualquer forma. Eu estava muito fraca e não havia mais motivos para continuar. Talvez foi isso que me levou a entrar entre a garota e a bala. Ela precisava de escolha; ela precisava saber muita coisa ainda, sofrera demais e ainda precisa saber de muita coisa. Mas ultimamente, parece que nos vem neutralizando.

Parece que estão agindo por nossas costas, porquanto nunca mais ouvimos falar de algo anormal ou muito pesado desde o massacre escolar.

A mãe de Arya se foi e a menina sofrerá duas perdas que lhe calaram por dias. Me aflige pensar que algo novo de ruim possa acontecer a eles, meu Deus. Não quero ter de aguentar novamente vê-los em lágrimas por malfeitos, senhor. Tende piedade de nós, vossa misericórdia há de nos resguardar até a maioridade dos tempos.

Um barulho atras das moitas negras da noite me fazem me dispersar de minha reza. A lua indica o dia quente que o dia mantivera. A noite lança sombras à rua desenhada que tenho à minha frente, rodeada de gigantescos ramos amigos de figueiras centenárias, agora escuras pelo contraste.

Presto atenção ao redor, tentando perceber alguma sombra ou ouvir mais barulhos.
Franzo os lábios, me erguendo do pequeno banco de ferro preso à calçada, me virando e entrando na esquina da casa, apressando o passo.

Busco a chave da porta antes de abri-la, mesmo sabendo que está aberta, q tirando do bolso e entrando, sorrindo nervosamente para Arya ao fechar a porta atrás de mim. Me viro junto para tranca-la de vez, mas a chave não entra na fechadura. Continuo forçando, franzindo a testa para a porta, bufando depois de segundos ali.

- Droga de chave! As chaves dessa casa sempre emperram quando vou abrir ou fechar. Que merda! - Resmungo, mais para mim do que para Arya no chão com Miguel.

- Tente forçar - Ela diz. Sua voz está um tanto estranha.

- Já tentei. Não entra, menina - Trinco os dentes, irritada com a fechadura, me virando para ela - Se alguém me seguisse de lá fora até aqui eu morreria né, que diabo de chave! - A enfio no bolso, desistindo de fechar, já com os dedos doendo.

Arya sorri levemente, parecendo desconfortável com algo, piscando para o chão.

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Narrador

Durante o jantar, apenas Suzan apareceu na mesa com os pais. Petter já tinha voltado para cama (se é que havia saído dela).
Henri e Melissa eram falantes, embora o homem preferisse falar em inglês. Arya entendia de qualquer forma, embora estivesse com a expressão levemente angustiada, como se tivesse o pressentimento de que algo iria acontecer. Jane estava calada. Apenas comeu com Miguel no colo, cuidando e brincando com o mesmo de tempo em tempo.

Quem teve a ideia de ir à uma última vez naquele dia e noite, foi Suzan. Ainda depois do almoço, permanecia elétrica na frente da lareira apagada, pulando e insistindo que saíssem uma última vez, dizendo que queria brincar na areia fria da madrugada.

Foi Arya que cedeu primeiro às vontades da criança, passando a insistir com ela, arriscando novos argumentos e acabando por convencer os adultos, e até Petter foi tirado quarto (de cara fechada) para acompanhá-los.

Saíram, um tanto mais animados do que estavam no jantar, exceto Jane. Já estavam todos do lado de fora, Arya fecha a porta, se virando para o sensor, o configurando e colocando a senha.

Passou-se alguns segundos, o sistema deveria travar todas as portas e janelas da casa. Porém passou a apontar um erro.
Piscando uma luz de alerta, significava que não poderia travar as entradas, pois ainda tinha alguém lá dentro.

Arya parou, atônita. Depois olhou para as pessoas atrás de si. Melissa, Henri, Jane com Miguel no colo, Petter, Suzan. Não faltava ninguém. Todos estavam ali.

Prendeu a respiração. O sistema apontava que tinha alguém na casa. No parte de cima da casa.

Tem Alguém Ai? - Volume 3Donde viven las historias. Descúbrelo ahora