Capítulo 38 - Decisão Final

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Sentindo novas lágrimas descerem dos seus olhos inchados e doloridos, Miya notou o vazio que sentia querer acomodar-se pela primeira vez no seu peito. Não havia mais por que esperar, por que lutar, por que brigar. Ela podia apenas... continuar a viver a sua vida.

Sem Tsushihiro.

Reparando no seu reflexo, num espelho perdido pelo escritório, a mulher percebeu que, talvez, o cabelo castanho não lhe ficasse assim tão mal.

-x-

O rapaz fitava a jovem, em silêncio, tentando digerir o que ela lhe tinha acabado de contar. Apesar de manter a sua expressão imutável, era impossível negar que não tinha ficado, no mínimo, surpreso.

Por sua vez, Ling chorava, inconsolável, como se não soubesse fazer mais nada.

Ponderando as suas acções com cuidado, Masao permitiu-se levar a mão ao ombro dela, tentando passar-lhe alguma confiança. Lembrando-se do líder da equipa russa, que os tinha visto sair juntos, perguntava-se se era isso que ele teria feito naquele momento.

Com um sorriso disfarçado, decidiu tentar acalmar a jovem à sua frente.

— Ling... — ele murmurou, aproximando-se um pouco mais dela. — Não fiques assim.

Ela fungou e enxugou mais algumas lágrimas que caíam, sem sucesso.

— Como não? — ela perguntou, olhando no fundo dos olhos castanhos e só conseguindo encontrar neles o seu reflexo. — A culpa é minha. A culpa é toda minha.

— Não é. — o rapaz tentou argumentar, mantendo um tom suave.

— É claro que é! — a jovem ripostou, deixando as lágrimas correr livremente. — O meu pai morreu por minha causa. E o teu irmão também. Eu sou a culpada de tudo!

Não havia como a convencer do contrário. Pelo menos, não da forma que ele estava a tentar. O que a jovem estava a sentir, ele não era capaz de compreender, mas sabia que não a conseguiria tranquilizar se não tomasse medidas um pouco mais... drásticas.

Masao tirou a mão do ombro de Ling e, pausando por um momento, decidiu puxar a jovem para um abraço, sentindo a surpresa dela debaixo de si, naquele corpo frágil e choroso. Mas, sem que ele esperasse, ela aceitou o breve e raro carinho, deixando-se ficar nos braços dele.

— Ling. — o rapaz voltou a chamar, um pouco depois, percebendo que as lágrimas continuavam a molhar-lhe o ombro. — O que aconteceu, tu não tiveste culpa de nada. O único culpado é esse Yerik.

A jovem de cabelos compridos desprendeu-se do abraço e deixou-se ficar a observar o rapaz, uma ponta de esperança surgindo no seu semblante destruído.

— Mas ele é... — ela começou, querendo afundar-se de novo naquele poço de culpa.

— Não interessa. — Masao devolveu. — A culpa não é tua.

Ouvir aquelas palavras, ditas por aquela voz que ela tanto ansiava escutar todos os dias, fez o seu coração apertar-se, mas também fez com que o pouco de esperança, que existia dentro de si, aumentasse.

Aquelas palavras eram iguais às que Angelus lhe repetia sem parar. Eram iguais às que a sua mãe também lhe diria, se ouvisse os seus lamentos. E eram iguais às que o seu pai lhe falaria, sem pestanejar.

A culpa não era sua.

Quando era criança, naquela altura em que ainda tinha uma família completa ao seu lado, ela não era a Mestre de Angelus, mas sim a sua mãe. E nem Miya poderia, ou deveria, ser culpada por ter uma pessoa horrível que nem Yerik Zaitsev como irmão.

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