Capítulo 20: o maior dos prazeres eróticos

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Voltei a me pôr em posição de abraçá-la e beijá-la na boca e deixei meu ectoplasma correr solto. Brotou dos meus flancos, das mãos e dos pés em cordões finos e flexíveis que envolveram Haashilu como uma teia invisível e a sentiram e acariciaram da cabeça à cauda. Ela suspirou e se contorceu, feliz por estar presa nas minhas emanações como um peixe na rede. Então, mais um tentáculo se formou e procurou sua entrada.

– Tu podes penetrar-me como se fosses um macho? – Arregalou os olhos, fascinada.

– Não sei bem como fazem os seus machos, será à minha maneira – Sussurrei.

– Tu sentes como se fosse de verdade? – Perguntou, ansiosa.

– Sim! Não é um brinquedo, é uma projeção tesuda e sensível do meu grelo!

– Então fode-me com gosto e goza bastante! – Exclamou, fechando o punho.

As barbatanas dela me estapearam a bunda e depois me prenderam com força. Entendi a função do reflexo: estimular o amante e depois segurá-lo enquanto se nada. Deixei meu pinto etérico crescer até preenchê-la tão bem quanto possível e fiz a ela como gosto que os homens me façam, com paixão e ternura. Tive uns três ou quatro orgasmos e ela mais ainda, antes de minhas emanações se recolherem e eu me abandonar, molenga, ao seu abraço.

Então veio a melhor parte. Eu tenho pena de quem nunca se deitou nos braços de uma sereia para ouvi-la cantar para seus ouvidos. É o mais profundo, intenso e refinado dos prazeres eróticos, mais do que ser seduzida pelo perfume de um fauno, compartilhar um laço com um lupino, ser fodida até o mais fundo da alma por um naga, passar uma noite com uma hetaira ou comer o homem desejado para ser o pai de seus filhos em comunhão com sua adorável e ardente esposa. É muito, mas muito mais do que um orgasmo, em duração, beleza, intensidade e profundidade.

É diferente das deliciosas canções entoadas para todos e para ninguém quando as sereias se juntam nos rochedos e também não é como a magia de sedução das cantigas de bardas e bardos humanos. Ela encontrou o tom exato para nossos íntimos ressoarem como um só. Tínhamos vivido apenas para um dia sermos cantadas assim. Esse momento justificava o universo de alto a baixo. Antes de me chamar de exagerada, tente viver essa experiência.

Felizmente isso lhe dava tanto prazer quanto a mim, pois eu não teria como retribuir.

O sol me mostrou, ao surgir, como Haashilu é verde-chá na pele, verde-esmeralda nos olhos, verde-abacate nos lábios e verde-floresta no cabelo. Há Triteias de muitas outras cores, vermelha, azul, dourada, platinada, castanha, negra ou mista. Nada tem a ver com linhagem ou hierarquia, é individual, como as cores das carpas e dos dragões marinhos. Ela partiu e eu subi em coqueiros e catei mariscos para matar o tempo, a sede e a fome.

Ela voltou antes do meio-dia. Sshuuka, o irmão, é platinado, de olhos cinzentos e pele cor de aço, peito largo e musculoso. Senti logo seu interesse por mim, despertado pelo relato da irmã. Recuperamos o cristal mágico e o escondi em uma cavidade discreta e de difícil acesso a meia altura da falésia. Fomos à merenda trazida por eles. Bolinhos de pedaços de peixes crus, moluscos, ouriços, águas-vivas, pepinos do mar e ovas envolvidos em algas e ágar.

– Gostas de comida marinha? – Perguntou ele, como quem não quer nada.

– Adoro! Nunca vou me fartar! – Respondi, sabendo muito bem o que ele queria dizer.

– E um enrolado marinho recheado de manjar da terra, será que fica bom?

Senti um frio na barriga, tive o rosto e os peitos abrasados e baixei a cabeça, para pensar e me recompor. Um trio é para mim a forma mais sublime do erotismo, mas o incesto entre irmãos é um tabu que a nós, atlantes, inspira mais horror que o estupro. Por outro lado, mesmo entre nós se faz exceção para o Casal Imperial, outros povos humanos as fazem mais amplas e os soans não se regem por nossos costumes. Em Atlântida, faça como os atlantes, mas aquele era um território virgem a ser desbravado...

Venci a vergonha, levantei a cabeça trêmula e gaguejei, para a alegria deles:

– Vamos ter de experimentar.

Deitamo-nos de lado, eu o fitei nos olhos, Haashilu às minhas costas e todos nos esfregamos, nos acariciamos e nos estapeamos uns aos outros com barbatanas e pernas até a moreia dele sair da gruta. Era maior e mais grossa que um pinto humano, escorregadia como uma enguia e bulia, estocava e se torcia por si, como se tivesse vida própria. A irmã, abraçada por ele, me mordiscou a nuca, me massageou os peitos e se esfregou na minha bunda até eu e ele gozarmos alto e forte.

Depois de um descanso, eu me virei, soltei meus tentáculos e a penetrei como ela gostava, enquanto ele apreciava a novidade de foder uma fêmea por trás, coisa impossível com uma sereia. Tivemos orgasmos seguidos, a pequenos intervalos. Quando nos cansamos, ela cantou para nós três ao mesmo tempo. Não foi tão especial, mas também é formidável.

Gostei de Sshuuka, mas por Haashilu eu me apaixonei como nunca antes por ninguém, exceto minha deusa Chiuknawat. Deixei mamãe de cabelos em pé ao pesquisar como me tornar uma vira-peles como Awesa, viver ao lado da minha sereia e transar com ela e sua gente como se deve, não travadas na praia por nossas limitações fisiológicas, mas na dança acariciante das ondas e correntezas, soltas no mar sem fim, com mergulhos em parafusos, laços e oitos.

Para minha frustração e alívio da família, era impossível. Em todos os casos, o ritual para transformar um humano em um soan implica fazê-lo tragar o sangue de animais vivos. Para criar um vira-peles é preciso fazê-lo beber, numa segunda etapa, sangue humano de doadores voluntários. Mas os pormenores variam conforme a estirpe e no caso dos Triteias, esses segredos foram perdidos. Também não se sabe com qual boto (se foi mesmo um boto) foram criados. Talvez esteja extinto ou só exista em mares distantes e não queremos de volta o tempo em que magias eram aperfeiçoadas por experiência e erro à custa de vidas de escravos. Assim, tive de me conformar.

Mesmo assim, continuamos a nos ver. Felizmente, a Guilda dos Mensageiros tem contatos com os Triteias e posso enviar recados. Não nos convêm as praias da Capital, movimentadas mesmo à noite, mas nos encontramos após o pôr do sol num recife ou eu alugo um barquinho, velejo até sua aldeia e sua casinha flutuante. Ela também pode nadar pelos canais da cidade até onde moro e eu pedir ajuda para carregá-la à nossa casa de banhos, cuja piscina interna pode acomodá-la por um dia ou dois. Então posso dançar nua para ela para agradecer às mais de cem canções, nenhuma igual à outra, que dela ouvi e tenho gravadas no coração, mesmo se minha voz é incapaz de reproduzi-las.

As Posições da MissionáriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora