Capítulo 14: Cachinhos dourados

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Os xionan ou ursinos que vivem na nossa Capital são da estirpe Cuitlachtli, semelhante ao urso de Atlântida (há pelo menos outras quatro nas colônias, Artaios, Bhalu, Ukumari e Nanuk). São fortes e grandalhões como os minotauros, mas pelo rosto e pelo faro estão muito mais próximos dos lupinos. A forma e o tamanho dos pênis são mais ou menos como os dos homens, mas têm um osso e podem manter fodas muitíssimo prolongadas. Além disso, eles e elas têm línguas imensas, com muito potencial erótico.

Digo por ouvir falar. Tive pouco contato direto com os nossos ursinos na Sarna, pois eles não julgavam precisar de nossa ajuda. Aprendi mais sobre eles ao pesquisar colocações para homens-animais no Bosque dos Amores. Passei por vários locais e encontrei mais receptividade do que esperava. Sim, havia interesse em contratá-los.

Durante esses dias, pedia teto e comida em nome de Chiuknawat a quem se dispusesse a me deixar passar a noite. Numa das últimas noites, fui convidada pela dona de uma pousada, uma mulher madura do povo dengu, chamada Kléu. Ela me saudou com o sinal da deusa, que preferia chamar de Leudha e à qual dedicava um pequeno altar no saguão da entrada. Qualquer prato de comida e qualquer canto serviria, mas ela me brindou um ensopado apetitoso junto a seus hóspedes – dois casais jovens e um trio, gente bastante animada – e um chalé inteiro, espaçoso e limpinho.

Acendi o lampião e sentei-me no tapetinho do quarto para fazer alguns exercícios de meditação quando ouvi bater à porta. Abri e era Kléu, com uma anforazinha de licor regional, dois copinhos e um bem fornido prato de doces. Não usava a roupa de trabalho com que ajudara a servir os hóspedes, mas uma túnica longa e delicada, de fina seda coral, sobre curvas bem nutridas e bem definidas. Os cachos louros acinzentados, antes cobertos por uma touca de cozinheira, estavam arranjados com esmero.

– Tlalpan-bã – saudou-me, com um sorriso franco – se você aceita, é cortesia da casa.

Eu não precisaria de telepatia para perceber que ela gostaria de ser convidada a ficar. Não estava definido na mente dela exatamente aonde queria chegar. Ela sentia afinidades e queria conversar para nos conhecermos mais. Navegaria conforme a brisa e os acasos do destino, tinha espírito de aventureira. Gostei dela e não estava tão cansada. Para quê decepcioná-la? Em geral, prefiro dar-me com pessoas da minha idade, como seria o caso de seu filho, mas essa não é uma lei de ferro fundido. Sim, amiga, recolha a âncora e solte as amarras, veremos se o vento nos enfuna as velas....

– Claro, mas faça-me companhia, Kléu-bã... – Devolvi o sorriso e encarei com carinho os seus olhos azuis. Seus olhos brilharam e os mamilos despontaram na seda leve.

Arrumei a mesinha, sentamo-nos nas cadeiras de vime e provei com ela os doces de frutas silvestres e o licor de flores e ervas. Aromas estimulantes, com sabor de floresta, que faziam o álcool subir rapidamente. Ela começou por perguntar sobre possíveis candidatos a trabalhar com ela na pousada, mas queria saber mais de minhas atividades na Sarna e estava particularmente interessada por saber se eu transava com soans, sem saber como perguntar. Satisfiz a sua curiosidade com um comentário em tom casual.

– Alguns soans gostam da vida na Sarna, como é o caso do Kernun-xin, um fauno com quem passo bons momentos de vez em quando. Outros virão se você lhes der oportunidade, como o Tarun-xin, um masan com quem tive um caso...

– Ah, você também! – Ela riu e bateu palmas, corada. – Somos duas!

Então era isso! Ela tinha casos do gênero e queria se abrir comigo. Mas seu ânimo, no momento, era menos de contar histórias e mais de vivê-las. E me faltava um nada para entrar no mesmo estado de espírito.

– Mas você também gosta de humanos, não é? – Perguntei, olhando de lado. Tomei mais um sorvinho de licor sem tirar os olhos dela. De perto, ela era mais atraente. As ruguinhas e sardas não a prejudicavam, deixavam-na mais expressiva.

As Posições da MissionáriaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora