Capítulo 17-Disfunção

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– Sim. Eu não tenho nenhum tipo de relação sentimental. E agora não posso ter nem a sexual. Pretendo ficar em casa até que tudo se acalme.

Lúcia caminha até a porta se despede e sai. Volto para o sofá pegando a revista outra vez. Leio a matéria completa e novamente me irrito. Vou para o saco de areia pendurado na varanda e começo a socá-lo sem minhas luvas. Minha raiva é tanta que eu gostaria de estar socando alguém.

Quando estou completamente suado e ofegante vou tomar banho. Daqui a pouco Luna passará aqui antes de ir para a aula de ballet. Peço nosso café pelo telefone, sempre gosto de escolher pessoalmente o que vou comer, além de pegar o clima matutino que não está sempre agradável ao invés do calor da tarde. Hoje, no entanto, não posso nem ao menos ir até a esquina.

Visto uma calça de moletom cinza para ficar em casa com uma camisa vinho. O interfone toca e o porteiro avisa que é o meu pedido. Quando estou terminando de pagar Luna sai do apartamento, sua pele parece tão macia. Está com o uniforme de dança, calça preta com uma saia rosa por cima, a blusa também preta com a escrita rosa, um coque perfeito no alto da cabeça e uma pequena borboleta na lateral. Ela sorri largamente quando me vê, cumprimenta o entregador e franze a testa para a cena.

– Bom dia Vizinho. Qual fenômeno da natureza o fez pedir o café em casa?

– Bom dia Vizinha. Merdas aconteceram. Saiu a tal matéria a meu respeito, mas isso é só a cereja do bolo fodido que é a minha vida. A portaria está cheia de jornalistas e sou um prisioneiro.

Sua expressão agora é séria enquanto entra no apartamento fechando a porta atrás de si. Ela caminha cautelosamente e se senta no sofá pensativa.

– Tem algo que eu possa fazer para te ajudar?

– Não. Só que não poderemos mais ir ao baile amanhã.

Vejo um lampejo de decepção em seu olhar. Ela abaixa a cabeça ainda pensativa. Imagino o que deva estar passando por sua cabeça. Espero que ela não invente de ir sozinha com Hugo. Os dois já estão bem íntimos. A semana toda fizemos tudo juntos. Ele ainda me provoca flertando com ela, mas seu olhar mudou. Agora ele olha com admiração e respeito. Essa semana que passamos juntos ele pôde conhecê-la, agora ele sabe como ela é única e valiosa. Isso só piora tudo porque além da atração óbvia que ele sentiu, algo mais está crescendo.

– Isso pode arruinar sua carreira? – ela pergunta cautelosa ainda com a cabeça baixa.

– Não exatamente. Só preciso ficar confinado até a poeira baixar. E obviamente não posso confiar em ninguém mais. Meus encontros semanais estão indefinidamente cancelados. – Arrumo a mesa com o café da manhã.

Ela relaxa visivelmente. Suas mãos vão até a revista em cima da mesa, mas me olha como se pedisse autorização. Balanço a cabeça afirmativamente estranhando seu comportamento.

Luna vira a revista, arregala os olhos para a manchete, depois abre para ler a matéria completa, está estática sentada no sofá com as pernas cruzadas, franze o cenho algumas vezes, morde o canto interior da boca e finalmente puxa o ar se preparando para me dizer algo.

– Ricco eu... Nem sei por onde começar a te pedir desculpas.

– O quê? Como assim? Você não tem culpa de nada.

– Estou me sentindo péssima. Por favor, me perdoe por ter sido tão insensível e... Meu Deus! Como eu fui tola.

Ando rapidamente em sua direção me sentando ao seu lado.

– Luna, eu não entendo o porquê de suas desculpas. Não foi você quem fez a matéria e eu tenho certeza da identidade da pessoa que serviu de fonte. Foi um cara que disse uma coisa...

Ele Vai Ser MeuWhere stories live. Discover now