Vinte e Nove

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Apertei os dedos finos agarrados aos meus quando senti a dor da contração me atravessar, sem dó nem piedade, não gritei, por mais que aquilo fosse aliviar a minha dor, mas eu grunhia de dor, tentando me conter no meu lugar, não fazer cena e tentar ser forte. Eu estava vermelha por tentar impedir o grito que subia por minha garganta. Querendo pelo menos uma vez respirar e não ser mais forte, não ali.

Já havia escutado o "você pode gritar se quiser" da enfermeira mais velha, porque claro, deveria ser comum ali, aquilo, quando se estava em trabalho de parto, mas eu me negava a aceitar isso. Eu não estava em trabalho de parto. Não estava na hora. E eu estava bem. Completamente bem. A não ser quando vinham as contrações e eu era apenas um rosto vermelho e cheio de lágrimas.

Alexssandra... —Amanda fala baixinho desentrelaçando nossos dedos e sorrindo torto sob a dor que eu havia causado aos seus dedos finos e sem culpa. A voz era calma e era como se quisesse me confortar, mas eu não precisava de conforto. — Você precisa deitar. —tentou tocar minhas mãos, mas aí levantei da cadeira me negando ao seu toque, me encolhi no canto do quarto.

—Não vou. —dei de ombros. — Não vou deitar porque não chegou a hora Amanda. Não chegou.

— Tudo bem... —ela se aproximou, respirando fundo. — Você ouviu o que disseram... Podem dar um jeito de mantê-la, mas você precisa colaborar e você não está ajudando ficando em pé ou se negando a deitar. É pior assim. —tocou meus ombros e me puxou de encontro aos seus braços quentes. — Vamos, eu coloco você lá... Não precisa ter medo.

Medo.

Tá aí algo que eu não conseguia admitir ter naquele momento, mas tinha. Medo por mim, pela Elena e por todos ao meu redor. Medo por não estar pronta mesmo depois de sete meses. Medo de perder. Perdê-la depois do tanto que lutamos. Medo por não ter o Sebastian ali comigo.

— Está confortável? —perguntou quando encostei minha cabeça no travesseiro. Mas ela não estava ali , não realmente, estava distante, estava em casa, alguns dias atrás, quando eu briguei com ele por causa de alguma besteira.

*

Era maravilhoso vê-lo em casa toda manhã. Mas ele devia odiar ver a minha cara, eu estava mal humorada aqueles dias, voltando a ter enjoos matinais. Estava cansada de acordá-lo toda vez para ir ao banheiro, eu podia ir sozinha, ele havia trabalhado até tarde na noite anterior. Então apenas levantei tentando não fazer barulho, mas era impossível, de qualquer modo ele dormia que nem uma pedra e eu consegui caminhar até o banheiro sem que ele acordasse.

Dando de cara comigo mesma no espelho repassei em minha cabeça a ligação da manhã anterior: "Aqui é da N.L Psiquiatria e Reabilitação, queremos falar com Sebastian Harris, em relação à paciente Miranda Hastings."

Eu congelei ao telefone. À quanto tempo não ouvia aquele nome? Porque estavam ligando para ele para falar sobre ela?

Mas então, continuei, mesmo sentindo o ar faltar e as minhas mãos tremerem.

"Há algo de errado?" —Perguntei.

"Não sou autorizada à falar com ninguém, além do Sr. Harris sobre o caso da Srta. Hastings." —a moça respondeu do outro lado.

Não era autorizada?

Com mais ninguém? Onde estavam os pais dessa moça nessa situação?

Fiquei alguns segundos entre um dilema. Ir em frente ou enterrar aquilo de alguma forma e esquecer. Mas mais uma vez, uma porra de uma vez, o Sebastian estava escondendo algo de mim. E eu não iria ser a esposa cega e surda.

A Conveniência do CasamentoWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu