Zero Dois

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No momento que ele propôs irmos contar para os meus pais, eu não sabia se era o certo à fazer. Não éramos namorados e nem casados. Eu era a garotinha do papai e não sabia se seria seguro. Então respondi com um claro "Não, eu conto". Eu não queria ele envolvido em mais nada na minha vida. O homem era um ogro, mais grosso não havia. Mas ele havia começado à ser... Compreensivo comigo e entendeu a minha posição. Durante duas semanas eu o evitei e achei que estava funcionando até dar de cara com ele sentado no sofá conversando com meus pais. Eu queria morrer.

Minha mãe me olhava com um sorriso triste enquanto meu pai tinha uma carranca brava, Sebastian olhava sério para mim e também parecia estar bravo.

— Eu pedi tempo. —me aproximo, falando diretamente com ele.

— Devia saber que não sou paciente.

Fechei a minha cara no mesmo momento e me encolhi no canto da sala. Ele já estava ali, eu não poderia tirá-lo a ponta pés por mais que eu desejasse.

Abaixei a minha cabeça e fiquei escutando.

— Por mais que eu entenda sua posição, Alexssandra, não posso ficar esperando sua hora. Por isso que eu vim falar com vocês Carmen e Charles. Não quero que vejam a Alexssandra como uma mulher irresponsável, porque eu sei bem como ela se importa com as suas opiniões. Nenhum de nós fomos. —não? — E eu quero total compromisso com essa criança.

— Você não tinha o direito. —murmurei

— Eu sou o pai dessa criança, eu tenho total direito. —eu me calo. — A filha de vocês tem uma cabeça bastante dura, e preciso que mudem a opinião dela sobre não me querer perto dela, eu quero estar presente durante toda a gestação. Assim como na vida inteira do nosso filho.

— Você pode ir nas consultas.

— Eu quero estar do seu lado.

— Mas eu não quero estar ao lado de um homem como você. Pode estar realmente se importando com esse bebê. Mas eu não confio em você.

— Soube confiar muito bem quando... —levanto meu rosto aterrorizada, como ele ousa? —Bem. É só isso. —ele conclui levantando do sofá. — Você escolhe, eu ou meu advogado.

— Cretino.

— É bom ver você também.

Ele some pela porta da frente me deixando com os olhos em chamas e com as mãos tremulas.

Meu pai some sem falar mais nada enquanto minha mãe me olha com dor. Era horrível estar naquela posição, eu me sentia ineficiente.

Eu esperava não vê-lo mais naquela semana, mas era só pensar nele que ele parecia brotar do chão. Era domingo e fazia dias que eu não via o meu pai em casa e sempre que eu tentava conversar com ele, não conseguia falar nada de tanta vergonha.

— Eu prometo cuidar de você e dessa criança. Não me diga não mais uma vez, minhas intenções são as mais puras.

— Eu não acredito em você. —eu estava na cozinha preparando meu almoço e ele não foi nada gentil ao entrar na minha casa mais uma vez como se fosse a dele. — Sabíamos que o que estávamos fazendo era errado. Nossos pais são amigos. E eu não consigo parar de pensar em como estragamos uma amizade de anos.

Ele senta ao meu lado e eu levanto.

— Alexssandra, por favor.

— Disse que mandaria o seu advogado, onde está ele? —eu não ouso olhar em seu rosto por um único minuto.

— Eu disse pra você escolher, é isso que prefere? Ser obrigada à algo?

— Acredito que seja mil vezes melhor do que ter que ver a sua cara quase toda manhã. Eu sou uma mulher crescida, sei me cuidar.

— Como sempre, cabeça dura. Você é impulsiva Alexssandra. É praticamente uma garota. —ele coça a sobrancelha. — Qual seu problema comigo?

— Olha bem para nós dois. O modo como você fala comigo, sempre sério e me chamando pelo meu nome completo. Mal nos conhecemos!

— Isso não é verdade.

— Para mim é. Trabalhamos algumas vezes juntos, frequentávamos as mesmas festas e desde muito tempo nossos pais nos obrigavam à ir em jantares sem graça. Nunca paramos para conversar sobre algo além de trabalho. E agora você chega assim na minha casa como se fosse a pessoa que eu mais quisesse ver no mundo. Mas a verdade é que eu não quero ver a sua cara. Eu nunca suportei você pra falar a verdade, você e seu ego sempre andam juntos e isso me dá nos nervos.

— Você está grávida.

— Eu fui fraca. É isso. Não devia ter acontecido. E eu não devia ter sido tão burra. Não usamos proteção. Você não se importou com isso!

— Era réveillon, eu estava...

— Era o começo da minha vida! —eu grito, não aguentando mais. Coloco a mão sobre meu peito indicando apenas eu. — Eu! Tinha um futuro. Eu! Não é você que vai ter que carregar essa criança durante meses, uma criança que você ao menos desejou.

— Eu desejei.

O olho incrédulo. — Você é louco.

Eu estava em negação, o que iria ser da minha vida? Eu tinha apenas 24 anos! Não era assim que eu imaginava o começo de tudo. Eu não odiava o meu bebê, por mais que eu odiasse o pai dele... Eu não o odiava, eu falava com desdém enquanto meu coração só se enchia de amor enquanto ele ia crescendo aos poucos dentro de mim.

Eu não havia parado de trabalhar. Estava seguindo a minha vida até onde podia, à qualquer momento a minha barriga iria aparecer e eu teria que me explicar sobre aquilo.

Minha mãe estava tentando me ajudar, eu não estava conseguindo fugir daquele que decidiu grudar em mim, estava ficando pior.

— Quero que faça o que acha melhor minha filha. Você é jovem, tem sua vida pela frente, e a de mais alguém. —ela sorri. — Seu pai conhece bem o Sebastian, ele tem razão de estar bravo e sem saber o que fazer. —como se eu também não o conhecesse. — Mas ele tem o direito. Não se sinta mal por ter contado para ele, seria pior se ele descobrisse por outra pessoa. Tente entrar em um acordo com ele. Um que beneficie os dois, mas principalmente o meu neto. —ela já falava com tanto amor da pequena coisinha dentro de mim enquanto eu ainda tinha medo.

Um acordo.

Um acordo.

— Não há acordo, Alexssandra! Eu não quero ter horários para ver você, não quero ter dia para ver você e o meu filho! Como já disse, você é impulsiva, faz o que quer e corre atrás até conseguir. Quantas vezes você já bateu o seu carro mesmo? — cinco. — E me diz, como posso ficar tranquilo com você carregando meu filho desse modo? Você não tem amor à sua vida? Não se trata mais de você.

— Todo dia às 12 horas, você pode... Ficar uma hora se quiser, pode telefonar quando quiser... —eu estava tentando manter a calma.

— Eu não confio em você. —eu arregalo os olhos, como assim? — Não é assim que funciona? Sem colocar qualquer tipo de confiança sobre o outro? —reviro os olhos. — Você tem crise de asma à todo momento, não devo me preocupar com isso?

— Não tenho mais.

— É o que você diz... —ele me olha debochado.

— Seu... Maldito! —ele solta um riso sem graça. — Me diz então, que tipo de acordo você quer! Que tal uma algema? Você pode me algemar em você e me levar para todo lugar que quiser, ou até me trancar em um quarto onde você vai poder me ver a hora que quiser.

Ele ri.

— É uma oferta tentadora, mas eu tenho uma melhor. —cruzo meus braços sobre meu seio e com os lábios apertados espero ele continuar. — Case comigo.

A Conveniência do CasamentoWhere stories live. Discover now