Vinte e Quatro

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Amanda tinha o braço enrolado no meu e andávamos devagar pelos corredores do hospital, Richard vinha logo atrás resmungando algo sobre estarmos o excluindo completamente e nós rimos do coitado.

— Tudo bem Rich, você pode participar da conversa das garotas, mas só não vai ficar constrangido quando começarmos a falar sobre certas coisas... —Amanda sugeriu.

— É... Coisas do tipo: quando vocês dois irão finalmente assumir essa relação? —eles pararam de andar na mesma hora e eu continuei. — Sabe, esse tipo de coisa. —ri.

Não faz pressão! —Amanda sussurrou me alcançando, a olhei na mesma hora e caímos na risada. — Mentira, faz sim, talvez assim ele se dê conta que já está na hora.

Sorri em sua direção antes de olhar para frente, o fim do corredor onde Sebastian estava falando ao celular, virei na mesma hora e ela veio junto. Richard ficou perdido no caminho e sentou em uma cadeira.

— O que foi isso? —ela pergunta observando meu rosto, mas eu não respondi. — Alexis... Não vem me dizer que vocês brigaram, pelo amor de Deus! Pensei que realmente já haviam parado com isso, precisam se resolver.

Rio mas sem achar graça alguma. — Foi pior. —ela para. — Acho que se tivéssemos brigado pelo menos alguma coisa seria resolvida e alguma mágoa ou rancor colocada para fora. Mas foi o contrário. Nada foi dito, nenhuma ofensa ou raiva... Ficamos por um longo tempo calados e não havia o que dizer... Tudo o que aconteceu foi muito para nós dois, não sei pelo que ele passou ou sentiu, mas sei o que eu senti e eu não quero sentir aquelas coisas novamente. —meus olhos começam à marejar as lágrimas que eu me neguei à derramar na sua frente na noite passada. — Eu preciso de um tempo. Preciso colocar minha cabeça no lugar ou eu vou ficar louca.

— Eu sei, eu sei... — ela me puxa em um abraço quente. — Vai ficar tudo bem, tudo vai se resolver, vocês precisam conversar e...

— Não é fácil. Todos esses meses eu passei tentando tirar dele toda aquela história daquela maldita mulher porque eu sentia que havia alguma coisa por trás e eu tinha razão. Mas ele nunca falou nada e quando falou... Mentiu. Disse que era uma namorada. —ela me afasta um pouco para olhar em meus olhos. — Mas não era. Eles eram casados. Planejavam uma família e tudo mais... E eu precisei escutar tudo isso com uma arma apontada para a minha cabeça. —as lágrimas descem frias por meu rosto, frias de dor e de raiva. — É um milagre minha filha estar viva Amanda... Porque o que eu passei naquele lugar... —fecho os olhos respirando fundo.

— Tudo bem, já passou abelhinha... Você está aqui, comigo, nada vai acontecer, vamos voltar para casa e tudo vai voltar ao normal. —ela me abraça mais uma vez, forte e sem querer me soltar.

— Tem lugar na sua casa para dois? —pergunto enxugando as lágrimas que não paravam de descer por meu rosto.

— Claro. —ela sorri me confortando.

***

Desembarcamos pela manhã, totalmente cansados, uns mais que os outros. Olhei o céu limpo, o sol ardendo em minha pele e o sentimento de estar segura novamente. Fiquei um tempo parada até que Amanda passou o braço sobre o meu ombro e sorriu para mim, do mesmo modo que havia feito os últimos dias, como se estivesse prevendo o que iria acontecer.

Não caminhamos muito até encontrarmos os pais do Sebastian saindo de um carro preto. Grace correu até mim quando me viu e a Amanda arregalou os olhos quando viu que seu braço ao meu redor não a impediria de me abraçar com todo amor. Aquilo sempre me assustava, o modo como ela era amorosa comigo quando nem éramos tão próximas, mas peguei seu olhar sobre minha barriga e imaginei que ela também desejava tanto aquele neto quanto o filho o desejava. Eu sorri para ela, que estava deslumbrante como sempre, não importava a situação, já eu... Parecia um trapo, daquele modo que só eu sabia chegar de viagem: um óculos cobrindo metade do meu rosto, cabelos bagunçados e roupas que nem eram velhas, mas confortavelmente soltas.

A Conveniência do CasamentoWhere stories live. Discover now