— Entendi por que eu não sabia, eu nunca fiz.

— O máximo que faz é cara de medo.

— E você de asco.

— Conhece muito bem, é a que eu faço sempre para você.

Ela então passou por cima da mesa e quase rasgou meu rosto com a sua maldita unha do Pai de fogo. Kendra sendo Kendra. A louca do Livro que ninguém gosta. Personagens secundários...  

***

Eu estava ali. 

Sentadinho olhando para os outros pais na Reunião escolar.

Tinha Maurício e Marcelo olhando orgulhosos para mais um A do seu filho perfeito Michelangelo. E olhando friamente para o enorme F do seu filho Marginal Dominic.

Kendra também estava lá.

Jade colocou fogo no cabelo de uma menina e Kendra estava quase chorando pelo fato da filha ser possuída pelo pai de Fogo. Samuel estava alheio a toda situação bocejando e olhando toda hora para o relógio. E Jade igual a mãe, estava lixando as unhas como se elas nunca acabassem, mas eu acho que não acaba mesmo, por que todos os dias desde que conheci a Kendra ela fica lixando essas unhas.

Já eu era o único ser humano pai de um menino com 18 anos na sala onde os alunos normalmente tem 15 anos.

— Por que você nasceu burro?

— O o quê? — Noah perguntou com os olhos arregalados.

— Isso mesmo, se não fosse burro estaria entrando na faculdade que nem o filho da vizinha.

— Ele é um nerd.

— Ele vai ter um emprego.

— Não preciso de emprego, meu pai é rico.

— HAHAHAHAHAHAHAHA — sem conseguir controlar minha gargalhada eu acabei chamando a atenção de todos na sala de aula. — Desculpa, peço desculpas de verdade.

Eu disse secando as lágrimas que desciam pelo meu rosto. Eu então peguei os cabelos loiros do Noah cheio daquele gel nojento e aproximei seu rosto do meu olhando fixamente para seus olhos castanhos.

— Não me faça rir Noah. Eu sou rico por que eu estudei. Rafael é rico por que ele estudou. Você não é rico, é um inútil que logo menos vai ser deserdado. Isso mesmo, seu pai e eu vamos te deserdar e você vai virar catador, mas a única diferença da Maria do Bairro é que não vai ter um homem lindo para te bancar. Vai morrer de fome.

Eu disse com um sorriso sádico.

— Vocês não teriam coragem de me deserdar.

— Então vamos apostar. Te garanto que vai ser muito divertido.

Eu soltei seu cabelo nojento e passe minha mão suja de gel na sua camisa do time. 

— Porra velho, minha jaqueta.

Dei um tapa em sua cara.

— Você já tem 18, posso te bater.

— Você já me batia antes mesmo.

— Não na cara. Agora cala a boca.

— Por que não foi o meu pai que veio?

— Deve estar me traindo com alguma vadia, mas se for isso eu vou descobrir. E quando eu descobrir pode ter certeza que eu vou tirar tudo dele.

— Você já está tirando tudo dele.

Eu levantei uma sobrancelha e fiquei olhando para ele sem entender o que ele tinha dito.

— Não entendi.

Ele deu um pequeno sorriso.

— Você está sugando a força vital de todos naquele maldito apartamento.

Eu fui dar mais um tapa em seu rosto, mas ele segurou minha mão.

— Segurei — ele disse sorrindo, mas com o punho livre eu dei um soco em seu saco. 

Na hora Noah ficou vermelho e sem saber o que fazer, colocou a mão na boca para não gritar. Vi que as pessoas estavam nos olhando, mas com certeza já estavam acostumados com aquele tipo de tratamento, desde quando ele entrou no colegial. 

Uns quatro meses.  

— Está tudo bem Noah? — o professor perguntou.

— Não... — ele disse sussurrando.

— Para mim está uma maravilha. Esse animal já tem 18 anos, ele pode cuidar de si mesmo? Eu tenho um jantar especial essa noite no meu restaurante para uma velha que quer pedir o decimo noivo em casamento. Acredita que ele tem apenas 20 anos? A mulher deve ter uns 100. Mas eu não o julgo, eu também amo dinheiro e homem.

Eu disse olhando para o professor e ele apenas apontou para a porta onde eu fui super feliz.

— Nós vemos em casa Gramlin. Kendra... Apenas morre.

Eu disse para ela e sai da sala.

— Bicha velha — eu escutei ela gritar e sem pensar duas vezes voltei para a sala e avancei.

***

Noah claramente tinha se tornado o que eu mais desprezava. 

Um adolescente que se preocupa mais com a aparência do que com o interior, fútil, sem futuro, que só gostava de pegar meninas bonitas e desprezava as barangas (como ele mesmo dizia), barangas essas que já o ajudou muito na escola.

Ele também adortava ficar no bar bebendo com os amigos. 

Adorava trazer meninas para a minha casa.

Sempre tinha o apoio do Rafael.

E sempre se achava superior a tudo e a todos.

Esse foi um dos motivos que mais brigávamos em casa, quando ele se sentia superior a alguém sem dinheiro, ou alguém que era feio. Ou alguém que trabalhava....

O menino era a encarnação de Satanás.

Depois que eu terminei o meu o jantar, fomos todos assistir a mulher pedir o novinho em casamento, estávamos gravando por que ela pediu, mas na hora que ele disse não que tive que morder meu punho para não cair na gargalhada.

O garoto disse que tinha achado uma mais nova para sustentá-lo. A velha ficou louca, quase destruiu meu restaurante e ainda enfiou um garfo na mão no namorado, mas saiu de lá amparada por outro novinho que disse adorar uma MILF, não me perguntem o que é isso.

Claro que eu ameacei processar  a velha por quase quebrar tudo, mas ela me deu um cheque gordo e disse para eu esquecer tudo e abafar o caso. Se eu gostei? Claro, aproveitei e comi toda a comida do jantar, com minha equipe é claro. Foi uma noite maravilhosa.

Quando eu cheguei em casa Rafael estava sentando no sofá.

— Oi amor.

— Oi amor nada. E vou descobrir quem é a desgraçada e vou te deixar na miséria, hoje você dorme no sofá.

— O que foi que eu fiz?

— Como te coragem de perguntar isso depois de ter ido para a cama com ela? Quer saber? Não fala comigo.

Eu me tranquei no quarto e me joguei na cama com um enorme sorriso.

— Hoje a cama é só minha.


XXX  


Oi.

Tudo bom?

Que bom.

Hoje não tenho nada a dizer, então bom dia.

Bacon.

Diego no País das Maravilhas!Where stories live. Discover now