Cegos e calados

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 Olhei com náuseas para o café que tomava, de repente perdendo o apetite, levantando da mesa e largando a caneca em cima da pia. Eu não costumava ter pesadelos todas as noites daquela forma, mas de uns tempos para cá eles iam aumentando.

 Estava difícil de esconder. Ainda mais porque os sonhos não faziam muito sentido. Pelo menos não todos. 

Eu gostava de sonhar com Pianista. Ele me passava paz. Era quase minha fonte no meio de todo aquele inferno. Pelo menos eu não estava sozinha, totalmente. Eu tinha Sam. E Logan. Minha prima sumira completamente, junto com Douglas. Alyce nunca mais foi vista desde o massacre.

 Me virei depois de arrumar a cadeira, quase trombando com Sam, que ergueu os olhos para mim, abrindo um sorriso levemente.  

 - Bom dia - Sorri. Ela apenas deu um sinal com a mão. Franzi levemente o cenho.  - Está bem? - Perguntei. Ela demorou para demonstrar qualquer reação. Depois deu de ombros. 

 - Dor de garganta - Disse, quase que de forma arrastada. 

 - Aaah... - Revirei os olhos - Deve ser essa mudança de tempo louco que muda toda a hora. - Bufei. 

 - Sei lá. - Riu - Tem algum remédio? - Ela inquiriu. Me vire, olhando pelos armários da cozinha, mesmo fechados, como se eu tivesse algo parecido com uma visão de raio X.  

 - Ah! Tem sim! - Exclamei ao lembrar, me dirigindo para um deles. Depois estagnei - Opa! Hm... espera aí, você não pode  tomar remédio - Me voltei - Não é? Você tem alergia. Lembra? - Tentei lembrar daquele assunto sem associar Luke. 

 A garota ficou me olhando. Abriu e fechou a boca. Depois concordou lentamente. 

 - Tudo bem, eu vejo quem pode fazer um chá ou algo do tipo - Deixei os ombros caírem - Ah! Vou pedir pro seu namorado fazer - Abri um sorriso, saindo da cozinha, desfilando, rindo da cara que ela fez ao me seguir. 

 - O que?! Ele não é meu namorado! 

 - HAHA, mas eu não citei nomes, então quer dizer que pensou em alguém, gata? Reveja seus conceitos - Sorri cinicamente, subindo as escadas, passando a rir alto e correr, quando ela fez o mesmo, querendo me impedir de chegar ao quarto de Logan e da mãe dele. 

 Parei abruptamente ao quase esbarrar em Marisa parada no alto da escada, me fazendo bater contra ela minimamente, me segurando no corrimão, vendo Sam se desviar pelo canto do olho. 

 - Senhora Marisa, me desculpe - Pedi, me retraindo de leve pela cara da mulher. Ela apenas negou com a cabeça aos poucos. 

 - Crianças, precisam de algo? - Perguntou, sorrindo. Franzi levemente a testa. Como ela sabia? 

 - ...Bem - Hesitei um pouco - A garganta da Sam tá um pouco ruim, queria fazer algo quente pra ela, tipo um chá - Dei de ombros. Ela concordou lentamente, se voltando e pousando os olhos em Sam. 

 - Eu faço - Disse, somente, abrindo caminho entre nós, descendo com o corpo hirto, me lembrando uma múmia. Me virei de volta, soltando uma exclamação alta ao ver Logan no lugar de Marisa, olhando a mãe se afastar, com a testa franzida. 

 - Ela tá estranha assim desde que começou a tomar os remédios - Suspirou - Segundo o médico, eles apenas vão atrasar o definhamento de seu cérebro - Contou. Fiz leve careta. 

 - Que horrível - Falei, cerrando os olhos. Depois me arrependi de falar aquilo para o filho dela. Ele levou os olhos pro chão, coçando a nuca minimamente. 

 - É - Sussurrou. Sam do meu lado forçou um sorriso pequeno. 

 - Hey - Falou - Tá tudo bem. Vamos passar dessa. - Incentivou. Ele a olhou, sorrindo um pouco. 

 - Por que vocês não namoram logo? - Perguntei, fazendo cara de tédio - Logan estagnou, se endireitando, ficando vermelho automaticamente. Sam me fuzilou, revirando os olhos por eu não conseguir segurar o riso. - Mas é verdade - Fiz biquinho, enrolando o dedo indicador na ponta do cabelo, desatando a rir depois de alguns segundos com a cara dos dois. 

 O rapaz nada respondeu, trocando olhares rápidos com Samantha, descendo as escadas. 

 **

Narrador


 Jane caminhava normalmente pela calçada. 

 Estava cansada das coisas que ouvia de Taylor. Ela tinha que intervir, de uma forma ou de outra, Lee era o principal espião de Alyce, porque ele, depois do demônio, era o mais poderoso dali. 

 Suspirou, esfregando a testa. Ela precisava tentar, era uma esperança.

 Parou em frente à casa de Carlos. 

 Onde, na cozinha, o pai de Logan permanecia sentado em cima da mesa, com um sorriso rasgando-lhe o rosto em sangue negro, seguindo Marisa com os olhos insanos. 

 E onde, em um dos quartos do segundo andar, o bebê Miguel tossia fortemente nos braços da empregada, voltando a chorar alto. Ninguém sabia o que ele tinha, a empregada não conseguia aliviar o problema que ninguém via. 

 Isabela, em alguns quarteirões à esquerda, permanecia sentada, debruçada sobre a escrivania de frente para uma janela, sorrindo para Lee ao lado de fora da casa, que a olhava seriamente, marcando o chão com a ponta de seu machado sujo. 

Tem Alguém Ai? - Volume 3Onde histórias criam vida. Descubra agora