Se eu tivesse prestado atenção, parte das pessoas estariam vivas...!

Uma risada despontou do silêncio. Era alta e zombeteira, fazendo um arrepio tomar conta de meu corpo, deixando o copo que eu segurava em minhas mãos cair, estourando no chão com um barulho estridente, me deixando surda.

As falas foram surgindo de trás para frente. A voz de um homem rígida e ignorante dizia que centenas haviam sido mortos aquela noite.

Me senti girando.

Um rádio chiou, em seguida o barulho de uma televisão se fez ouvir, como se estivesse em uma casa vazia, onde o eco se faz facilmente. Enquanto o noticiário passava, um choro de mulher se escutava:

"...Massacre na escola... (...) não se tem muit...(...) todos violentamente mortos (...) jovens de treze a dezoito anos... (...)"

O cheado do áudio dificultava o entendimento. Os choros se uniam, agora era um casal em prantos. Não... crianças também.

Por de trás de músicas infantis, havia choros. O noticiário falho.

As imagens da escola se reacenderam. Como num piscar de olhos, as luzes elétricas piscavam em insistência, cegando os que corriam.

Eles passavam por mim, mas eu não sentia. Era como se apenas o vento estivesse ali.

Girei, em um soluço, arregalando os olhos, tentando ver algo. Mas eu só via pessoas sendo mortas, barulhos de tiros, sangue no chão. A sombra do machado de Lee era inconfundível, passando pelas tripas de estudantes, que escorregavam no próprio sangue.

Gritos.

"(...) Centenas de alunos foram mortos àquela noite..."

"(...) Suspeitos perdidos, ninguém fora preso."

"(...) O massacre ocorreu por volta da meia noite..."

Soltei um soluço alto, perdendo o sustento das pernas e caindo, vendo o circo de horrores que eu estava antes.

De todos os meus amigos, apenas Luke vi.

E então eu entendi.

Eu tinha a visão dos que estavam mortos.

Passei os braços por mim mesma, soluçando alto, cerrando os olhos, implorando para acordar.

Várias famílias, todas, todas perderam.

Nos jornais, as capas falavam sobre o massacre.

O sangue no chão da escola jamais seria esquecido.

No palco, Alyce.

Sorria, insanamente, vendo o show. Se sentou, ao lado de Jack, que mantinha a expressão opaca, porém divertida. 

Os choros das famílias voltavam como um hino. Os cemitérios acolhiam os corpos de bom grado, enquanto uma tarde chuvosa cobria a cidade.

A escola fechada, interditada até segunda ordem, sendo limpa e arrumada por profissionais horrorizados.

E no fim, quando a manhã despontava no céu e jogava suas luzes por entre as barras das janelas das salas de aula, a visão do que sobrara era espantosa e devastadora.

Centenas de alunos, mortos. Sangue, em todos os lados. Pedaços de corpos. Enquanto passos tranquilos se pintavam ao seus arredores.

A escola jamais seria esquecida. Os corpos dos alunos abarrotados uns nos outros, enquanto famílias eram acionadas, uma por uma, para saberem do final do baile.

**

Meu grito demorou para ferir minha garganta.

Pulei na cama, tropeçando na respiração, sentindo meu rosto gelado pelo suor frio. Arya mantinha os olhos arregalados, agachada à minha frente, como se me chamasse insistentemente a tempo.

Tem Alguém Ai? - Volume 3Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu