O Casamento

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Alguns semanas depois:

Bella está andando em direção ao altar. Seu pai não está lhe acompanhando e ela não tem madrinha alguma. O peso dos acontecimentos da guerra e a morte de sua amiga adiaram seu casamento. Nada voltou ao normal desde aquela noite. A Noite Púrpura, como ficou conhecida.

Os heróis daquele evento hoje estão se casando. A popularidade de Bella aumentou mais ainda na boca do povo, que a adorava. Ela e Daniel sempre ficavam juntos mas raramente falavam sobre aquele noite.

Para o príncipe, a batalha não foi um choque, afinal, estava acostumado, mas a morte de sua irmã, foi. Ambos estavam de luto mas continuaram realizando seus deveres como governantes sem hesitar em momento algum.

Meena e o rei foram exilados e saíram do reino em direção ao norte, apenas com suas malas nas mãos. Nunca mais foram vistos. Metias foi deixado para trás e o peso de seu abandono não lhe incomoda tanto quanto deveria, porque agora ele tinha uma nova família que lhe acolhera e lhe mimava.

Nicholai foi julgado e se safou da pena de morte. Ele teve o casamento que tanto quis com Melinda e ambos vivem em um relacionamento infeliz e insatisfeito. Principalmente ela, que não gosta nem um pouco do homem e ainda está ressentida por causa de Daniel.

Nicholai percebeu que casar com uma mulher que ama a outro, seu maior rival ainda por cima, não era o que ele queria para sua vida. Atualmente, o rei vive em prostíbulos e imerso em álcool.

Arandunas pagou uma multa milionária para Cabo Delle. O reino vermelho assinou um acordo em que se comprometia a nunca mais atacar o azul. Tiveram de abrir mão, definitivamente, de Archemades e ainda por cima, "doaram" parte de seu próprio território ao rival.

Esse acordo tão desvantajoso a eles, só foi firmado pelo fato de seu rei estar preso como refém, correndo o risco de ser assassinado, em Cabo Delle.

Pentacus Provincy ajoelhou-se diante de Daniel e implorou por perdão. Admitiu que se voltou contra ele, por causa de sua filha. Prometeu inúmeras riquezas ao príncipe e assegurou que Melinda se casaria com um outro homem, Nicholai.

O funeral de Lily foi no dia seguinte a Noite Púrpura. Foi enterrada na gruta de sua família, junto de todos seus antepassados. Ganhou uma estátua de seu buço no castelo. Em seus piores dias, Bella conversava com a amiga cujo sorriso fora eternizado em cobre.

Seu enterro aconteceu no mesmo dia que o de todos os soldados e civis que morreram no ataque. Foi um dia triste em que o céu chorou e todos vestiram preto. A família real se uniu e revelou ao mundo sua compaixão e união. A perda de Lily e do rei exigiu que eles achassem forças dentro de si que nem sabiam que existiam.

Izabel e Matilde fizeram um trato com Daniel. Ganharam uma certa quantidade de ouro e saíram do reino. Matilde finalmente conseguiu arranjar um marido rico, um comerciante vinte anos mais velho. Bernice escolheu ficar para trás. A casa sobrou para ela e hoje ela é uma humilde dona de casa, casada com um camponês e esperando um filho.

Longe da mãe e da irmã, ela pode mostrar seu verdadeiro caráter. Uma garota dócil, incapaz de mentir. Bella ainda lhe faz visitas. Se tornaram amigas após Bernice pedir perdão de joelhos, por todas as vezes que não a defendeu ou que riu dela junto da irmã.

Bella aprendeu a lidar com a culpa e com o trauma. Encontrou no noivo um porto seguro e hoje é uma das comandantes de seu exército. Com seu altruísmo e sua ternura, ela completa a personalidade impulsiva, porém prestativa de Daniel, e juntos, fazem um trabalho promissor para o reino.

Bella e Daniel formulam estratégias de guerra e apenas em situações de emergência, lutam no combate direto. Os dois governam o reino juntos. Ela cuida das questões financeiras. Ele, das relações externas. Com ajuda dela, Daniel formulou novos projetos de lei e reviu os impostos da população. São governantes justos e bondosos.

Sua linhagem ficaria conhecida como os Descendentes de Ouro e pela primeira vez, uma princesa se tornou rainha sem ser por casamento. O reino de Cabo Delle continuou existindo após diversos marcos históricos, mas com o passar das décadas e dos surtos de fome e de peste na Europa, foi se dividindo até fundir-se aos países da idade moderna.

Mas vamos voltar ao casamento.

Bella caminha até o altar e nesse momento, tudo o que ela e o príncipe passaram, lhe volta a mente. As risadas, as discussões, o ciúmes, sua primeira dança. Suas coisas próprias como fazer cócegas nela, mexer nos cabelos dele, rir quando coravam e os torneios de espada.

Pensou também no pai, no dia em que soube que ganharia uma madrasta. Relembrou-se dela e de seu pai valsando pela sala, lendo livros um ao lado do outro e conversando sobre coisas banais.

Lembrou de sua mãe, a doce Nalia. Recordou-se do dia de seu aniversário de 11 anos, em que ela lhe presenteou com a tiara de brilhantes e de como sua mãe costumava contar histórias para Bella dormir e das brincadeiras de sua infância.

Encontra com o noivo no alto do altar da igreja. Sorriem um para o outro. Apesar de tudo e depois de tudo, encontraram algo genuíno e eterno, o amor.

Claro que continuaram brigando mesmo depois de casar. Quando acontecia um jantar real e Bella fazia amizade com uma nova dama, só para depois descobrir que Daniel também já havia ficado com a garota, ou, quando a arrogância de Daniel atingia níveis estrelares. Não são um casal perfeito, afinal.

Seus passeios matinais pelo jardim favorito deles. A troca de olhares nos jantares entediantes. Quando zombavam juntos da peruca de algum nobre. Nunca deixaram de ser melhores amigos. E no final, foram as pequenas coisas que marcaram o amor deles.

Sua lua de mel foi do jeito que Bella sempre sonhou. Viajando. Enquanto a antiga rainha comandava o reino, eles tornaram-se nômades e passaram um mês sob anonimato, vivendo com os ciganos que Bella fez amizade.

Foi pura coincidência quando em uma de suas viagens, encontraram os ciganos. Eles reconheceram Bella e não lhe fizeram questionamentos quanto aquela noite anterior ou quanto aos seus novos acompanhantes, Daniel e um guarda real cuja presença fora impossível de ser negociada.

A cartomante, assim que viu Bella, lhe deu um sorriso de cúmplice, como se já soubesse absolutamente tudo sobre ela e Daniel. Ela estava certa, naquele dia.

-Viu, garota? Acredite!- ela disse para Bella que riu com a expressão confusa do marido.

O casal estava quase sempre junto. Foi assim até seus últimos dias. Bella morreu primeiro que ele, que foi logo depois. Brigaram, riram e brincaram por décadas. Um rei e rainha com espírito de criança. Melhores amigos e amantes felizes.

O casamento estava lindo e bem simples. Bella optou por lírios brancos em homenagem a Lily, escolheu um vestido simples e azul, e só estavam presentes familiares e amigos. No altar, Bella e Daniel estão de mãos unidas quando pronunciam as palavras "eu aceito".

Fim.

Um Conto de Fadas Nada ConvencionalOnde histórias criam vida. Descubra agora