Um Conto de Fadas Nada Convencional

A Proposta

-Izabel. Podemos conversar?

-Quem arrumou toda a bagunça?- a madrasta parecia perplexa, com os cabelos ainda molhados depois do banho.

-Eu mesma. Acho que precisamos conversar.

-Fale, garota. Não pense que me esqueci do que você fez!

-Acho que temos de nos esforçar mais. Eu não achei certo o meu comportamento anterior. Peço desculpas. Mas, você tem que entender que eu não sou sua escrava, e você ter me privado de minha viagem, foi bem rude.

-Você tem que me obedecer, garota. Eu sou a responsável por você!- Izabel parecia estar entediada com a conversa.

-Mas eu não sou sua empregada. Você abusa da minha boa-vontade. Eu cansei!- Bella soltou.

Izabel se irrita e estapeia com força a cara da garota, deixando um vermelho ali. Bella cai de joelhos no chão e lágrimas escorrem pelas suas bochechas.

-Isso foi por ter estragado meus vestidos.

Izabel levanta a garota pelos cabelos e lhe dá mais um tapa na face.

-Mau-agradecida! É isso o que você é!

-Por favor! Eu só não aguento ter de fazer tudo sozinha.

Dessa vez, Bella recebe um chute no estômago.

-Me poupe, sua incompetente! Saia da minha frente, idiota!

Bella sai chorando da sala para seu quarto. Sua barriga dói bastante e provavelmente vai ficar vermelha depois.

Em uma tarde, enquanto Bella varria o chão da sala, a campainha tocou. As garotas estavam fora, então sobrara apenas ela em casa. Era Daniel. Ela abriu a porta e o cumprimentou.

-Oi! O que veio fazer aqui?

-Boa tarde. Vim conversar com a minha amiga.

Sentam-se no sofá.

-Diga.

-Acho que tomei minha decisão. Mas... Não tenho certeza.

-Se você não tem certeza, então não há decisão alguma tomada. Simples.

-Mas meu pai está irritado comigo. Ele ainda está bravo pelo baile. Quero acabar logo com isso.

Conforme Bella vai conhecendo Daniel, mais aquela primeira impressão que teve dele no baile vai se desmanchando. Ele, na verdade, não passa de um garoto sobrecarregado e levemente inseguro. Parece um pouco solitário também, como se nunca tivesse conhecido alguém com quem pudesse conversar abertamente.

-Mas, entenda, é da SUA vida que estamos falando. Essa é uma decisão que ficará para sempre.

Mais uma vez, a honestidade e a maneira direta de Bella surpreendem o príncipe. É isso que ele gosta nela. A garota sempre é sincera quanto a qualquer assunto e a clareza com qual enxerga as coisas é invejável.

-Obrigado, você ajudou bastante. E quanto a você? Voltou a ser escrava de sua madrasta?

-Não... Depois daquele dia, conversamos e para evitar brigas, decidi que é melhor eu fazer o que tenho que fazer...

-Posso saber o por quê?

O som de carruagens se faz ouvir. Em pouco tempo a madrasta e as filhas chegam à casa.

-BELLA! Onde está você? Precisa apanhar novamente para aprender a não nos deixar esperando à porta?!- Izabel entra na sala e se depara com o príncipe- Ah... Vossa majestade! A que devemos a honra?

Daniel se assusta com o que acabara de ouvir. Olha para Bella mas esta está com o olhar virado para baixo, envergonhada. Decide, então, que ele tem que tomar alguma atitude para ajudá-la. Depois de cogitar a ideia por alguns segundos, anuncia:

-Olá, vim anunciar que escolhi uma concubina! Desejo levar Bella para morar comigo no castelo.

Silêncio. Então, caos. Izabel desmaia de pavor. As garotas gritam. Bella paralisa.

-O... O... Qu...

Ele se aproxima e cochicha em seu ouvido:

-Não se preocupe! Você não será minha concubina de verdade! Tomei essa decisão para que você não fique presa aqui. Se quiser, pode recusar!

-Hã...- Bella se senta, ainda surpresa com a idéia.

Daniel encara os olhos escuros e surpresos de Bella enquanto ela cogita a idéia de morar em um castelo e de ser "amante" do príncipe regente. Ainda chocada, Bella faz uma lista mental de prós e contras se aceitar essa proposta.

No reino, o rei e o príncipe devem ter uma esposa, mas o número de concubinas é ilimitado. Ela estaria mesmo disposta a aceitar se tornar uma amante para se livrar de sua madrasta? Sua honra, sua reputação, iriam parar na boca do povo.

Por outro lado, ela não seria uma concubina de verdade. Ela viveria em um castelo, teria tudo o que quisesse!  Estaria livre de sua má-drasta! Além disso, moraria ao lado de seu único amigo. Sem pensar mais, responde:

-Eu aceito.