O Baile

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Conforme o tempo passava, pequenas mudanças podiam ser notadas no mercado, na praça e no centro da cidade. Costureiras carregando tecidos caríssimos, garotas escolhendo fitas para chapéus, mulheres gastando fortunas em acessórios.

As últimas medidas de ajustes em vestidos estavam sendo tomadas. Arranjos florais acabavam assim que entravam no estoque. Boatos sobre os preparativos para o baile fervilhavam na boca dos moradores. Litros de vinhos chegavam de fora do reino. Flores e faixas começavam a ser penduradas no palácio real. As máscaras que seriam distribuídas para as damas do reino já estavam prontas.

Era a fase de contagem regressiva. Todos estavam ansiosos para o baile e todas as garotas desejavam ser a próxima rainha. Faltava apenas uma semana para o tão aguardado evento. O número de guardas havia dobrado em razão da ameaça do reino inimigo, Arandunas. Tudo estava pronto, nos mínimos detalhes, para essa noite.

Em casa, Bella não esperava a hora do baile passar para que pudesse, enfim, sair de casa. Suas novas irmãs faziam os ajustes finais nos vestidos. A madrasta andava de um lado para o outro, com o salto batendo no assoalho de madeira. 

Organizava tudo nos mínimos detalhes, titubeava sobre o tal príncipe, berrava com as poucas criadas que restavam, e principalmente, bolava esquemas para que uma de suas filhas fosse a escolhida como futura rainha. O vestido que encomendara para Bella não era nem de perto tão chamativo, estonteante, bufante e bonito quanto o dela mesma e os das filhas. Para sua infelicidade, achava que a garota já era muito bonita por natureza, não precisava de mais adereços que pudessem atrair a atenção do príncipe.

Para si mesma, escolheu um traje rosa, de saia bufante, espartilhos, decote modesto e caimento perfeito sobre os ombros. Para a filha mais velha, Matilde, escolhera um azul, com pequenos detalhes em renda branca, enorme decote e com um laço atrás. Bernice ficara com o modelo verde cor de musgo, com um laço atrás, decote também chamativo, de costura fina e com pequenos detalhes de brilhantes.

Bella ficara com o modelo mais simples. De cor crua, com pequenas pérolas decorando a barra e as mangas do vestido, com uma saia rodada, não bufante, sem laço, sem rendas ou decotes chamativos. Simples e delicado. O modelo caira perfeitamente em seu corpo, realçando sua cintura, sem chamar atenção excessiva em outras partes.

Bella não fez a mínima questão de escolher o vestido. Contanto que não houvesse espartilhos, laços e saias bufantes, estava perfeito. Deixou esse trabalho para a madrasta, que encomendara o pedaço de tecido mais barato da loja para a garota.

Finalmente o dia do baile chegou. Todas estavam maquiados com pó de arroz, tintas avermelhadas nos lábios e olhos pintados. Bella passou apenas uma delicada cor de pêssego na boca enquanto as meninas davam beliscões nas bochechas umas das outras e brigavam pelo mesmo tom de batom.

Finalmente o baile aconteceria. Era esta noite e tudo estava devidamente preparado para tal.

A carruagem demorou meia hora para chegar ao palácio real. Tudo estava brilhante e luxuoso. Luzes de luminárias de querosene, velas e candelabros. Pessoas bem vestidas em fila para entrar. As mais belas damas do reino esperavam ansiosamente.

Mesas foram arrumadas com diversos aperitivos de ótima aparência, que nenhuma dama se atrevia a comer, para não passar uma imagem inadequada diante do príncipe. Arranjos de flores estavam espalhados por todo o salão, acompanhados de mesas com toalhas bordadas de ouro, prataria de primeira e porcelanas extremamente delicadas. As mesas se dispunham ao redor do salão destinado à dança.

Na entrada do salão de baile, máscaras de diversos modelos e tamanhos eram distribuídas entre os convidados que iam chegando. As irmãs ficaram com máscaras prateadas iguais, por coincidência. Izabel exigiu a máscara branca que combinava com seu vestido. Já Bella ficou com a que lhe foi entregue, uma azul-esverdeada, com detalhes em dourado, que cobria-lhe a parte superior da face, deixando a mostra os lábios, o nariz e as bochechas, além dos olhos, obviamente.

Músicos tocavam melodias harmoniosas e envolventes mas ninguém dançava. Burburinhos de conversas políticas se espalhavam pelo salão. Um grupo de damas bem portadas estava reunido no canto do lugar, observando e criticando os trajes das rivais. Colunas de mármore sustentavam a estrutura do salão e uma escada estonteante, do mesmo material, ligava o hall de entrada ao salão de bailes. Tudo brilhava e passava a imagem exagerada de riqueza, beleza e luxuosidade desnecessária. Bella odiou tudo, com exceção da comida.

Um Conto de Fadas Nada ConvencionalWhere stories live. Discover now