Encontro Súbito

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Quando a lua já iluminava completamente a noite negra, a família real finalmente chegou ao salão. Todos se calaram, a música parou, a corneta real soou e então desceram às escadas o grupo mais suntuoso do baile. O rei veio primeiro, seguido de sua esposa, a rainha Amara, e atrás, sua concubina, Meena Petrova. Ele usava um traje militar rebuscado, com entalhes em ouro, medalhas e botas pretas.

Sua mulher e amante usavam vestidos que marcavam seus seios e cintura, não tinham saias bufantes, eram bem justos e caiam suavemente no corpo. Eram bem semelhantes e diferentes ao mesmo tempo. Dava para notar a diferença entre ambas as personalidades delas pelos pequenos detalhes. Enquanto a esposa caprichou nas jóias, no acabamento e no brilho em geral; a amante, que era mais delicada e muito mais jovem, usava um vestido branco, que lhe fazia parecer um anjo loiro dos olhos azuis. Apenas um colar de diamantes enfeitava seu pescoço (presente do rei), suas sandálias eram do mais rico couro e sorria enquanto descia os degraus. Muito mais simpática que a própria rainha, que carregava um ar arrogante de autoridade.

Logo atrás, as filhas do rei desceram as escadas. Eram 4 e todas estavam vestidas em vestidos bufantes, com espartilhos, detalhados em prata, com finos acabamentos perolados. Usavam cores diferentes e penteados exuberantes em seus cabelos loiros amendoados. E logo atrás, o grande convidado da noite. O príncipe. 

Era um jovem de cabelos castanhos escuros e olhos azuis observadores. Daqueles príncipes de histórias clássicas. Belo, com ar de nobreza, muito cobiçado, mas assim como a mãe, demonstrava enorme arrogância e prepotência. Seu traje militar era quase tão enfeitado quanto o do pai. Medalhas de condecoração, blazer preto de algodão sírio, cabelo extremamente bem penteado. 

Todas as damas do salão ajeitaram suas posturas, mostraram seus melhores sorrisos, arrumaram os vestidos e penteados e tentavam chamar a atenção do príncipe para si.

Atrás dele, veio um garotinho loiro dos olhos azulados semelhantes aos do príncipe. Tinha uns 5 anos de idade e era o filho bastardo do rei com sua amante, Meena. Estava em trajes formais de criança e morria de vergonha dos olhares que recebia. Foi anunciado como Metias, o segundo na linha de sucessão, uma vez que as garotas ainda não possuíam esse direito no reino antiquado.

Assim que chegaram ao final da escadaria, um súdito ajoelhou-se perante o rei e lhes ofereceu as máscaras designadas a cada membro real. Um por um, foram pegando as diversas máscaras, douradas e prateadas, com detalhes em ouro e com os furos para os olhos bem contornados em tons rubros.

E então, a música recomeçou e a família se separou, cada um ia para um canto do salão para conversar com conhecidos e políticos de outros reinos. Várias garotas tentavam se aproximar do príncipe, mas esse se esquivava de todas que não lhe agradavam e chamava para dançar apenas as mais belas.

Assim que todo o estardalhaço da entrada real passou, Bella virou as costas ao príncipe e foi atacar o bufê de canapés. Era a única garota no salão que ousava chegar perto da mesa de comida (a única parte boa do baile, para ela), era também a única ali que não dava a mínima para a presença do príncipe.

Em certo momento da festa, quando virava (brutalmente) sem olhar para trás, após pegar quatro canapés (dois em cada mão), esbarrou com alguém que se aproximava. Pediu desculpas e continuou andando e mastigando sem olhar para ver quem era, até que essa pessoa lhe chamou.

-Ei, você! Não vai se curvar diante de sua majestade?!

Era a droga do príncipe da arrogância. Bella resistiu ao impulso de revirar os olhos. Ele parecia irritado e sentia que a garota secretamente zombava dele, o que não era mentira.

-Perdão majestade, não notei que era vossa alteza com quem, sem querer, esbarrei- faz uma mesura- Agora, se permite que eu me retire...

Virou as costas e saiu andando em direção a sua mesa. Não é que Bella fosse mau educada, ela apenas não se importava com o príncipe como todos os outros no salão. Sua visão da família real era a de um elite arrogante e intocável, e nesse quesito, não estava nem um pouco equivocada.

O príncipe perplexo pela dama que lhe trocara por canapés, foi atrás dela, intrigado. Tomou-lhe a mão e a virou em sua direção. Nisso, um dos aperitivos da mão direita dela caiu no chão.

-Droga! O que foi... alteza?

-Como ousa virar as costas diante de vosso soberano? Eu podeira mandar que fosse executada por isso.

Clássico. O papinho de "eu posso muito bem te executar a hora que eu quiser". Bella suspirou, ainda mais irritada com aquela presença irritante e metida.

-Pensei que já houvéssemos terminado, vossa majestade. Perdoe minha falta de modos. Algo mais a acrescentar?

O príncipe ficou momentaneamente sem reação. Nunca havia sido tratado com tanto sarcasmo nem com tanta indiferença por uma dama. Talvez esse fosse o motivo pelo qual disse a frase a seguir:

-Sim. Ordeno que dance uma música comigo.

Um Conto de Fadas Nada ConvencionalWhere stories live. Discover now