Consequências

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Bella anda distraidamente pelo jardim. Pensa em sua viagem de amanhã, na raiva de sua madrasta, na saudade que sente do pai. Ao tirar sua máscara, sente-se mais livre para andar e refletir sozinha. O lugar é encantador. Diversas rosas brancas e vermelhas, lírios do campo, camélias, cravos e árvores de cerejeira. Um misto de cores e aromas envolventes. Um bom lugar para pensar.

-Aqui é o meu lugar favorito de todo o palácio- Daniel surge de trás dela- A propósito, você é muito bonita sem a máscara.

-Claro que é o seu lugar predileto. Clássico. É sempre assim mas histórias de romance. Obrigada pelo elogio, deveria tentar tirar a máscara também.

-Que romance? Eu vou me casar com outra, além disso, eu e você não estamos apaixonados. Faça-me o favor de não esquecer um sapatinho aqui, que eu tentarei não virar um sapo- isso faz ambos caírem em gargalhadas.

Ao se sentir mais confortável, Daniel também tira a máscara e revela seu rosto de príncipe de contos de fadas. Cabelos castanhos escuros, olhos azuis, bochechas coradas, sorriso encantador e maxilar bem definido. Bella não comenta o quanto o achou bonito.

-Vou me esforçar para manter meus sapatos nos pés... Você não tinha um noivado para anunciar?

-Tenho. Mas estou repensando.

-Por quê?

-Porque tenho 18 anos e um reino nas costas.

O pobre príncipe cheio de responsabilidades e desejos irrealizáveis. Outra coisa clássica. Mas isso, Bella não comenta em voz alta.

-Enfim, porque você, Bella, está usando o meu lugar de pensar?

-Porque amanhã é meu aniversário e como presente, vou embora.

-Vai para onde? E por quê?

-Viajar, conhecer lugares novos, sair do reino. Sem um destino específico. Porque esse sempre foi meu sonho e desde que meu pai morreu, não vejo a hora de realizá-lo.

-Entendo. Sinto muito pela sua perda. A propósito, ótima escolha. Espero que faça uma boa viagem.

-Obrigada. Espero que tenha um bom casamento.

-Hum... duvido quanto a isso. Mas, mudando de assunto, por que não voltou para o salão desde a nossa dança?

-Porque minha madrasta está irritada comigo por não ter te dispensado. Ela ainda espera que você case com uma de suas filhas mimadas.

-Desculpe por isso. Acho que posso te ajudar nessa questão. Venha comigo- pega a mão de Bella e voltam pelo caminho do jardim.

Ambos recolocam as máscaras e voltam para o salão. Os olhares das pessoas não mais estão voltados para eles. Ainda de mãos dadas, com o príncipe guiando-na, seguem em direção a mesa em que a família de Bella está acomodada.

-Foi aquela mulher que veio lhe abordar, certo?

-Sim, ela mesma.

Aproximam-se das três e Daniel fala:

-Boa noite, senhoritas, gostaria de me apresentar. Sou o príncipe regente, como vocês já sabem, e quem são essas belas moças?

-Oh, vossa majestade, que surpresa agradável! Sou Izabel e essas são minhas filhas, Matilde e Bernice. É uma honra estar aqui em seu baile, obrigada pelo convite.

As irmãs de Bella ajeitam a postura, alisam os vestidos, se levantam, fazem mesuras e sorriem como retardadas à menção de seus nomes.

-Não precisa agradecer! É uma honra recepcionar belas damas como vocês.

As garotas riem e piscam os olhos, Izabel sorri e faz outra mesura. Bella revira os olhos. Convencido. Daniel nota o gesto e lhe abre um sorriso inocente.

-Vim devolver a Bella. Perdão por ter privado vocês da doce companhia dela. Se me permitem, gostaria de dançar agora com as outras duas damas mais belas do baile. Qual de vocês gostaria de ser a primeira?

-Oh, que isso, quantos elogios, vossa alteza! Eu não danço faz anos!- diz Izabel.

-É... Eu estava me referindo às suas delicadas filhas, mas será um prazer dançar com a senhorita também.

Izabel envergonhada por pensar que o príncipe se referia a ela, sorri educadamente e nega o convite.

Bella se aproxima de Daniel e sussurra:

-Você não precisa fazer isso!

Ele a ignora. Por que ele está fazendo isso? Bella se surpreende ao notar que o princípe é uma pessoa até que agradável e gentil.

Matilde e Bernice se entreolham quase surtando. Matilde, por ser a com mais personalidade e a mais velha, vai primeiro, enquanto a outra irmã observa e sonha com sua própria vez.

Durante a dança, a garota tropeça e se move que nem um pato confuso. Daniel continua a sorrir amavelmente e a conduzir a falta de talento dela. Izabel, Bernice e Bella observam a dança sentadas. Bernice sonhadora, Izabel conspirando planos de tornar Matilde a próxima rainha e Bella apenas ri da irmã desastrada.

-Como você conseguiu chamar a atenção dele?- Izabel pergunta à Bella.

-Não sei, segundo ele, foi porque eu era sem-vergonha e impertinente. No bom sentido, acho- ela responde, sarcasticamente.

-Espero que não esteja criando expectativas. Ele nunca se casaria com alguém como você. Até que é bonita, mas não tem educação, nem simpatia, muito menos talentos. Você não se compara às minhas filhas, criadas como verdadeiras ladies desde que nasceram.

-Obrigada, digo o mesmo em relação a você. Quanto aos patos que não sabem dançar, que você chama de filhas, elas também não tem a mínima chance com ele.

-Veremos, garotinha insolente e mau-criada. Depois de seus comentários, acho bom repensar sua viagem.

-Não se atreva! Meu dinheiro, minha viagem!

-Minha (supostamente) filha! Você ainda é menor de idade, não se esqueça de que depende de mim. Trate de se comportar que não lhe privarei de sua viagem!

Bella engole sua raiva e continua a observar a vergonhosa dança. Assim que ela acaba, Bernice se levanta e já se prepara para sua vez. Daniel se aproxima, toma a mão da garota e dá um olhar questionador à expressão irritada de Bella. Ela sorri e faz um gesto para que continue. A madrasta nota a interação entre os dois e cora de horror. Decide que a garota tem que pagar por isso, então não sairá mais da cidade, e como forma de punição, continuará a ser a empregada da casa, nada mais.

Um Conto de Fadas Nada ConvencionalWhere stories live. Discover now