Uma Noite Fora do Normal

6.4K 647 44
                                    

Bella está de malas prontas, prestes a sair do castelo. Voltar para casa não é uma opção muito agradável, porém necessária.

Vai até a sala de leitura para se despedir da biblioteca que ela tanto adora. Na porta da biblioteca dá de cara com Melinda lhe observando. A garota usa um vestido azul de seda com espartilho. Seus cabelos cacheados e volumosos estão presos em um coque chique com vários fios soltos.

-Bella, não é mesmo?

-Sim, sou eu.

-A atual concubina de meu futuro marido.

As palavras "futuro marido" doeram para Bella, mas ela se recusa a admitir.

-Não se preocupe, já estou indo embora.

-Para onde?

-Para casa. Ele é todo seu.

-Não é, não! E a culpa é sua. Você o enfeitiçou! Não sei o que fez.

-Com licença.

Bella ignora o drama da garota e vai embora.

-Isso não vai ficar assim! Papai vai dar um jeito em você!

-Como você é entediante! Que coisa chata! Já disse que estou indo embora!- dito isso, Bella vai para a carruagem que lhe aguarda.




Bella chega em sua casa algumas horas depois. A madrasta se surpreende com a chegada súbita da garota.

-O que está fazendo aqui?

-Eu voltei. Não sou mais a concubina do príncipe.

-Ele já se cansou de você?

-Por favor, só me deixe ir para meu quarto!

-Não! Você não tem mais quarto aqui! Depois de tudo o que fez, acha que pode voltar assim como se nada tivesse acontecido?

-Izabel, por favor!

-Por causa de você, a casa ficou sem empregada por semanas, tudo está uma bagunça!

-Eu arrumarei tudo! Só me deixe entrar na minha casa, por favor!

Izabel ri da garota suplicante e ajoelhada diante de si.

-Bella, Bella... Aqui não é mais sua casa. Saia! Agora que o príncipe te largou, você não tem mais utilidade.

Bella chora e Izabel fecha a porta na sua cara. A carruagem já se foi, então não lhe resta nenhuma opção a não ser andar até a cidade. Passa pelos campos que antigamente gostava tanto de passear. Parece que foi há uma eternidade. Quando chega na cidade, caminha por um tempo com as malas nas mãos até que decide se sentar na calçada imunda.

As lojas estão abertas, as ruas, pouco movimentadas, algumas pessoas passam na rua e lhe reconhecem como "a concubina do príncipe". Ela tenta negar este título, para não afetar a reputação de Daniel, mas ninguém acredita. Quando anoitece e Bella não tem dinheiro algum, resolve se levantar e andar para um lugar mais isolado onde possa se esconder e passar a noite longe de pervertidos. 

Em algum momento da noite, um grupo de ciganos passa pelo lugar onde ela está deitada em suas malas. Eles carregam tochas de fogo, bolinhas de malabarismo, e outras peças artísticas. Usam roupas coloridas e estão em grande número de homens, mulheres e crianças, todos rindo. Algumas pessoas seguram violões e outros instrumentos, tocavam uma melodia animada acompanhada de chocalhos e risos.

Um homem jovem, de roupas coloridas e com bolas de malabarismo nas mãos, parece ser o líder. Ele resolve ir conversar com Bella, ao vê-la na sarjeta.

-Garota, o que está fazendo aí?

-Estou tentando descansar.

Risos de todos no grupo.

-Isso nós já percebemos. Por que você está na rua?

-Porque não tenho dinheiro.

-Já entendemos isso também, mas tudo bem. Se não quiser nos contar é porque tem um bom motivo. Se quiser pode se juntar a nós esta noite.

Bella, de primeira, recusa a proposta, mas após eles insistirem, ela cogita seriamente a ideia. Bem, é certamente melhor que dormir na rua. Ela pega suas mala e se junta a eles. Eles andam por um tempo até chegar em um acampamento fora da cidade. Uma fogueira e algumas barracas estão dispostas em círculos. Todos dançam e cantam alegremente. Após alguns copos de vinho, Bella também se solta e dança ao redor da fogueira com eles.

Bella ri horrores, bebe vinho e come boa parte da carne de porco e das frutas selvagens. Estava se divertindo bastante e conseguira esquecer todas as coisas ruins que haviam acontecido. Uma mulher até lhe oferece uma leitura do futuro. Curiosa, Bella aceita.

-Você passou por muita coisa. Uma morte na família talvez?

-Sim...

-Recentemente aconteceu uma coisa que te deixou bem triste.

-Sim, também.

-Deixe-me ver- ela mexe nas cartas de tarot, as espalha no chão e passa as mãos por cima delas até selecionar uma- você tirou O Sol. Algo grande lhe aguarda, garota. Triunfo e conquistas.

-Duvido...

-Mas não pense que o triunfo virá de graça, ainda tem muita coisa para acontecer. Não duvide das cartas, garota. Acredite!- a mulher lhe dá um sorriso encorajador.

Bella tenta deixar de ser cética e fica pensando no que poderia lhe acontecer de bom, agora. A túnica conclusão a que chega é que esta noite não quer pensar em nada.

As mulheres dançam e sacodem suas saias coloridas ao redor da fogueira. Os homens cantam e batucam troncos de árvore, formando melodias rústicas e animadas com a ajuda dos instrumentos. Todos batem palma e se divertem. A lua cumpre a função de tornar tudo mais mágico e brilhante. E nesse momento, Bella cogita como seria a vida junto dos ciganos.

Um Conto de Fadas Nada ConvencionalWhere stories live. Discover now