Benjamin Edwards: Uma dor inexplicável

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    Estava claro, o ceu estava muito azul, o sol brilhava mais do que o normal. Mas eu...eu estava vazio... Me sentia só...não acredito que isso realmente aconteceu, não podia ser mais um sonho? Não. Por que não era um sonho, era real. Ela entrou no quarto, seu rosto estava inchado, ela estava horrível, eu estava fulminado. Ela sentou ao meu lado, falei para mim mesmo que eu me manteria firme, eu seria bom com ela, quando ela confiasse em mim, eu a mataria.
- Desculpe-me por tudo. Você tem toda razão. Eu a matei - ela chorou. Não senti um pingo de pena por ela, tudo o que eu sentia era raiva, eu queria ela morta, eu queria que ela sofresse.
- Sim. Você a matou. Que bom que você reconhece isso.
- Você... Você vai para o enterro dela? Eu faço questão que você vá.
- Faz? Agora você faz? - me levantei - eu vou, vou sim, mas não por você. Por ela. Eu a amava, você tem noção disso? Alguma vez você soube o que era amar Clara? - eu estava furioso, não conseguia disfarçar minha raiva.
- Eu sei Benjamim. Eu sei. Eu fui horrível para ela, eu não a protegi...
- Por que você esta chorando? Remorso? Nós só percebemos que amamos as pessoas quando elas se vão, não é mesmo? É fácil chorar quando a pessoas já esta morta. E Clara esta morta. E sabe quem a matou? - cheguei bem perto, eu quero que ela escute o melhor possível. - Você.

   Estavam todos de preto, minha cor favorita, mas naquela ocasião, o preto me trouxe tristeza, não era a cor que eu queria esta usando, tinha muita gente, sabe o que é engraçado? É que em vida, Clara não tinha amigos, mas de repente apareceu pessoas até do chão. O padre conduzia o velório, pessoas choravam, falsas lágrimas, quando saíssem dali iria voltar para suas vidas medíocres. Me aproximei do caixão, seu rosto pálido, frio, ela estava de branco, a cor que nunca lhe definiu, a clareza que nunca teve. Chorei. Não pude evitar, toda minha vida eu vivi isolado do mundo, odiando a todos e em um dia, dentro do ônibus eu encontro o amor da minha vida, e no outro ela morre. 
   O padre perguntou se alguém queria dizer alguma coisa sobre ela, eu olhei para aquelas pessoas e fui.
- Sabe, é engraçado - ri - quando Clara era viva, ela nunca ficou rodiada por tanta gente como hoje, olha alí, as duas vizinhas, Anne e Alice, vocês lembram do que fizeram com ela? Quantas vezes vocês a machucaram? E vocês? Não sentam no fundo do ônibus? O que fazem no enterro de uma esquisita?
- Sr. Edwards - disse o padre - não fale assim tenha respeito.
- Respeito? Você tem que dizer isso para eles. Olha ali - apontei para um homem grisalho, alto, olhos castanhos, os mesmo olhos de Clara, acompanhado por uma mulher, loira, olhos verdes, elegante...- esta vendo esse homem? Ele é o que se chama de pai. Pai da Clara. Ai eu pergunto pra vocês, onde ele estava que não a salvou? Onde? - ri, eu iria colocar tudo para fora - e vocês vêem essa mulher? Essa aqui - apontei para Abigail - ela também a matou, ela não foi capaz de ama-la, ótimo exemplo de mãe, não acham? Sabe o que é melhor? Clara esta morta. Eu tentei salva-la, eu tentei - agora eu chorava - mas já era tarde, sua alma já estava morta, e vocês, todos vocês contribuíram para isso. Mas prestem atenção nessas minhas palavras. Todos vocês vão morrer. Um a um. Vão todos para o inferno, mas sabe, isso não faria do mundo um lugar melhor, por que o mundo é um lugar podre, como vocês, mas pelo menos, vocês não vão mais estar perto de mim.
   Entreguei a carta ao padre. Ele me olhou. "Leia" falei. Olhei mais uma vez para o caixão e o seu corpo. Fechei os olhos e sai.

BloodWhere stories live. Discover now