Fiquei olhando para ele sem saber o que responder, mas por incrível que pareça ele estava certo — claro que ele nunca me ouvira falar isso em voz alta. Nunca!

— Tudo bem...

— Perfeito, Samuel e Kendra fazem academia no centro, amanhã mesmo eu já faço nossas inscrições.

— Tudo bem, mas temos um pequeno problema.

— E qual é? — ele perguntou impaciente.

— Eu não tenho documentos! Todos eles ficaram na casa dos meus pais e eu tenho que tirar minha carteira de habilitação. Então eu estava pensando, será que posso trabalhar na sua cozinha?

— Trabalhar na minha cozinha — ele perguntou com cara de retardado e eu revirei meus olhos.

— É ser humano limitado. Fazer bolos, tortas, salgados, docinhos, marmitas para vender.  Sei que com isso eu vou conseguir um bom dinheiro e vou poder mudar daqui o mais rápido possível.

— Mudar?

— Vou te falar uma coisa que eu acho que não comentei, tenho raiva de gente burra, tenho raiva de gente lenta, sou do tipo de pessoa que explica só uma vez. Entendeu?

Rafael concordou rapidamente e disse que eu podia pegar seu cartão e ir no mercado para comprar os ingredientes, desde que ele pudesse ir junto para me vigiar, ele estava com medo de eu fugir... Pobre criatura, como se eu fosse abandonar a TV de tela plana com minhas novelas mexicanas.

Depois de voltarmos do mercado eu me joguei na cama e acabei caindo no sono, acordei de madrugada com fome e comi o resto do Yaksoba que fiz de tarde e depois fui dormir de novo.

Comer... Não há nada melhor.

***

— Eu... Eu não aguento mais... Kendra eu não aguento mais.

— Deixa de palhaçada, corremos apenas 6 Km!

— Apenas? Apenas? Eu sinto como se eu estivesse parindo um filho pela boca.

— Já senti essa sensação, Samuel é bem dotado e adora fazer garganta profunda.

Eu fiquei olhando para ela.

— O que foi?

— Deus nunca me mandou um amigo, esperei anos para ter um, e quando eu tenho a chance ele me manda você? O que eu fiz para merecer isso?

Kendra me olhou e deu um pequeno sorriso colocando a mão em meu ombro.

— Não sou sua amiga docinho de leite, você m irrita só por respirar... Acha mesmo que um dia estarei com 40 anos e ainda te aturando? Não, só um louco para fazer isso.

Ela disse apontando o dedo para o táxi.

— Vem, vamos voltar para  academia.

— Nem vem, eu vou para a casa.

— Claro que vai, depois de terminar nosso treino.

Kendra me arremessou para dentro do carro e pediu para o homem tocar para a academia. Quando chegamos, ainda tivemos uma discussão com o motorista por que estávamos suados e molhamos todo o seu banco.

Olha para a minha cara de quem se importa.

Quando entramos na academia ai sim minha vida toda virou de cabeça para baixo...

— Quantos... Quantos homens bonitos.

— Eu sei... Se eu não tivesse o Samuel...

— Por falar nele.

Diego no País das Maravilhas!Where stories live. Discover now