Eu não costumava fazer poesias de amor. Não costumava me ferir sozinha tanto assim, mas eu já havia guardado isso por tanto tempo, que agora não vejo mais problemas em escrever tais coisas. Principalmente quando se está com saudade. Saudade de alguém que você sabe que nunca mais voltará, e por mais que esteja do seu lado, não estará completamente. 

Eu não ligava mais para fraquezas. Não ligava mais para suicídio, não ligava mais para a dor, porque ela caminha de mãos dadas comigo agora. Talvez caminhe a muito tempo, mas só agora percebi, e ninguém é completamente feliz, ninguém é completamente bom. 

 Suspirei, erguendo os olhos para os pingos de soro que caíam de um lado, e os pingos de sangue que caíam de outro. Eu ainda estava muito fraca, porém conseguia escrever com letras quase apagadas. 

 - Você parece estar melhor que das últimas vezes - Ouvi. Não voltei os olhos. Nem sorri. Talvez eu não tenha emitido nenhuma reação. Eu senti ela se aproximando mais, mesmo que se alguém estivesse na sala aquela hora, ninguém a veria como eu. 

 Vi sua mão pálida e pequena parar em cima da minha praticamente igual. A diferença, é que a minha está quente; e de seu toque, apenas senti como se alguém tivesse assoprado hálito gelado contra minha pele. 

 - Como se sente? Sabe que não foi fácil deixa-la viva - Ela insistiu. Eu continuei parada. Deveria ficar feliz por vê-la? Sim, muito. Mas então eu lembrava que ela não estava realmente ali. 

 - Me sinto como você. Não faz diferença. - Respondi, secamente. Não era fácil encara-la. Ela era forte, e eu não. Mary era boa; eu não. 

 - Você faz o que pode, está tentando como todos nós, ajudar Pianista e sua família. - Sussurrou. Eu olhei para os poemas largados sobre meu colo. Ela provavelmente fez o mesmo, já que remexeu um pouco em um deles com a mão. Esperei ouvir sua voz dizer-me que estava ficando boa naquilo de poesias. Mas não o fez. Taylor era a única que me enganava. Era a única que me fazia errar suas ações. Era a única que fazia eu me sentir normal. E ela sabia disso. 

 - Eu vim aqui porque as coisas vão mudar - Ela falou. Meu coração se apertou. Pela primeira vez eu queria saber mais do que eu já sabia. 

 - Sempre estão mudando. - Rebati. Ouvi um riso dela. Aquilo me irritou, mas me contive. 

 - O futuro para mim não existe, Agatha. Estou tentando cuidar do seu. - Insistiu. 

 - O futuro não tem espaço nem tempo. Nesse exato segundo é o futuro. Como podemos muda-lo ou cuidar dele se agora ele já virou passado? - Perguntei, pausadamente, erguendo os olhos para ela. Eu parecia a confundir, e gostava daquilo. 

 - Vejo que mudou bastante da última vez que nos vimos de verdade, pequena - Sua figura madura e doce se debruçou sobre minha cama, deixando um beijo em minha testa. Não a repeli, por mais que quisesse. Aquilo era cruel. Ela ia embora cedo ou tarde, e eu ficaria nesse inferno. 

 - Na última vez que nos vimos você estava sendo levada para um manicômio. - Falei, fechando um pouco a expressão, sentindo um feche de rancor voltar a bater em meu coração ligeiramente, cutucando uma ferida aberta. 

 - Esqueça isso - Pediu. Me retraí levemente, a olhando. Eu queria chorar como antes e pedir para ela ficar, mas eu não conseguiria. Lágrimas secariam rápido, e de nada serviria além de tampar o ralo de minha dor por alguns minutos. E eu já tinha feito aquilo de mais. 

 - Como esquecer, se é minha última lembrança com você? - Questionei. Sua cabeça se agitou de um lado para o outro, balançando suavemente os cachos nas pontas de seus cabelos castanho escuro. 

Tem Alguém Ai? - Volume 3Where stories live. Discover now