Ela murmurou mais alguma coisa, antes de tombar a cabeça para o lado e cair no sono.

Enquanto isso, do outro lado da calçada, escondido por trás de um caminhão de pequeno porte, Eduardo observou quando os dois seguiram abraçados em direção ao carro. Notou também que havia alguma coisa muito estranha no comportamento de Açucena. Ela está bêbada?, perguntou-se. E uma onda de raiva ainda maior o abateu. Como aquele desgraçado deixou isso acontecer?

Procurou conter-se, porque não podia se dar ao luxo de se descontrolar. Mas uma hora ia acertar as contas com Augusto, pensou, fechando as mãos em punho e já se imaginando esmurrando a cara do seu rival até cansar de bater.

Observou também o carro se afastar, um jeep moderno com capota, até não conseguir mais vê-lo. Depois, ainda tentando controlar a raiva que fez se sangue se agitar, seguiu rumo à casa de Açucena.

Com os nervos ainda exaltados, esperou por um longo tempo do outro da rua, até que percebeu que Augusto a havia levado para outro lugar. Maldito!

Ruminando aquilo, entrou no primeiro bar que encontrou e procurou uma mesa isolada. Pediu uma garrafa de cerveja quando uma garçonete baixinha e simpática se aproximou. Precisava esfriar a cabeça, o calor, a raiva.

O local era bastante frequentado por turistas, mas durante a semana era um pouco mais tranquilo. Ele observou a rua com os pensamentos muito distantes, enquanto entornava um copo atrás do outro. A imagem de Açucena e Augusto abraçados não saía da sua cabeça. E quanto mais bebia, mais sua mente delineava. Para onde terão ido e o que estão fazendo agora?

Não. Ele não queria pensar no que eles estariam fazendo naquele momento. Por isso continuou bebendo. Havia bastante tempo que não bebia a ponto de ficar de porre. A última vez foi na época da faculdade. Ainda assim, podia contar nos dedos de uma mão as vezes que passou do limite, que de fato ficara bêbado. E nunca fora por causa de uma mulher. Só Açucena conseguia tirá-lo do eixo daquela forma tão absurda, disse a si mesmo, furioso, e pediu a segunda garrafa de cerveja.

Ele sempre foi bastante controlado e sabia exatamente o momento de parar. Naquela noite, porém, não estava nem um pouco a fim de ouvir os sinos de advertência que soavam em seu cérebro. A imagem de Açucena e Augusto continuavam ocupando todo o espaço de sua mente, tanto que ele nem percebeu a chegada da bela italiana ninfomaníaca e sua amiga ruiva.

— Podemos lhe fazer companhia?

Ele apenas assentiu e elas puxaram as cadeiras e se ajeitaram uma de cada lado dele.

— O que está fazendo sozinho por aqui, gato? — Perguntou Giulia, após colocar a mão sobre sua coxa esquerda. — Onde está Açucena?

O toque fez com que sentisse uma fisgada involuntária na virilha. Ele lançou-lhe um olhar nebuloso, numa quase advertência. Mas ela sorriu e começou a acariciar ali.

— Não sei — respondeu sucinto, e sentiu uma outra mão em sua coxa direita e uma nova fisgada.

Atônito, Eduardo lançou um olhar ligeiro para a ruiva, que lhe ofereceu um sorrisinho lúbrico, e depois para a sensual Giulia. Elas haviam combinado aquilo?

Fez um sinal para a mesma garçonete baixinha e simpática, que veio atendê-lo rápido. E as carícias cederam.

— Vocês querem beber alguma coisa? — perguntou aliviado.

— Vou acompanhá-lo na cerveja — disse Giulia.

— Um chope para mim — pediu a ruiva com uma voz aveludada, que combinava com sua beleza não muito original.

Quando as bebidas foram servidas, as mãos sapecas voltaram às suas coxas. Eduardo se empertigou na cadeira e tentou se controlar. Giulia e sua companheira pareciam mesmo a fim de se divertirem. O problema é que Açucena e o ex não saiam de sua mente de jeito nenhum. Para onde raios eles foram? Tentou afastá-los, pedindo mais bebidas. E mais. E mais.

Uma hora se passou. Talvez duas. Eduardo perdeu um pouco a noção do tempo. As amigas conversavam animadas sobre suas aventuras na cidade, enquanto ele se mantinha quase apático, exceto pelas mãos atrevidas que continuavam a provocá-lo por baixo da mesa.

Sua reação mais enérgica só se dera quando a mão de Giulia subira um pouco mais em sua perna e o dedo polegar começou a roçar a cabeça de seu pênis. Ele segurou-a rapidamente e pediu, num tom de voz baixo, mas firme:

— Pare com isso.

Nem um pouco constrangida, a italiana levou os lábios ao seu ouvido e sussurrou:

— Eu sei que você já está de pau duro, gato... Tem um motel aqui pertinho. Que tal irmos os três para lá?

O convite era muito tentador. Em outros tempos, não teria titubeado em aceitá-lo. Naquele momento, porém, não ficou balançado. Por incrível que aquilo pudesse lhe parecer, não se sentiu suficientemente balançado. O fato é que ele já estava com problemas demais para adquirir mais dois. Além disso, estava se sentindo meio entorpecido e sua cabeça começava a girar.

Havia ainda mais um motivo... talvez o maior deles — embora ele não quisesse admitir isso —: uma linda mulher de olhos agateados que vivia em seu interior como uma bala alojada: quente, dolorosa e impossível de arrancar. E ainda tinha o poder de fazê-lo perder por completo a razão. Inferno!

— Desculpem. — E levantou. — Eu preciso ir.

A seguir, fez um novo sinal para a garçonete, pedindo a conta. Pagou todas as despesas e saiu. Foi quando percebeu dois homens olhando de soslaio para ele, do outro lado do restaurante. Tentou gravar seus semblantes, mas, além da parca luminosidade do local que se encontravam os sujeitos não lhe permitir ver muito mais do que duas sombras, as engrenagens de seu cérebro pareciam estar emperradas.

Saiu com a impressão de que os homens estavam em seu encalço, tanto que se virou alguma vezes para trás. Mas, aparentemente, não havia ninguém. Apesar disso, tentou manter-se atento, em guarda, ainda que, naquele momento, aquilo lhe parecesse uma missão quase impossível.



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Música tema do capítulo: Call Me When You'reSober 

Banda: Evanescence

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Corações Selvagens (Capítulos para degustação)Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz