Capítulo 6

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Enquanto Eduardo tratava da parte burocrática e da locação de um ponto para funcionamento da agência de ecoturismo, ela aproveitou a semana chuvosa para desenvolver um óleo corporal com exclusividade para uma das maiores empresas de cosméticos do país. E ficou extremamente satisfeita com o resultado final. O óleo concentrado bifásico, dourado na parte inferior e vermelho na superior, era uma mistura de Andiroba — semente nativa do coração da floresta amazônica, cujo óleo extraído manualmente pelas comunidades locais é usado de forma medicinal — com a Priprioca ou Piripirioca (Cyperus articulatus) — uma erva aromática e também medicinal.

A Priprioca, que brota batatinhas de 1 centímetro que, quando partidas, exalam perfume marcante com notas amadeiradas e picantes, cujo óleo é usado há bastante tempo para perfumar os cabelos das mulheres amazônicas do interior, após os banhos nos igarapés e rios da região, é usado também como remédio natural para dor de dente, enxaqueca, gripe, dores estomacais e constipação intestinal.

O óleo bifásico que havia produzido poderia ser usado sozinho ou para potencializar os benefícios de outros produtos corporais. Utilizado sozinho, podia ser utilizado para o corpo, promovendo uma fragrância inconfundível e uma hidratação da pele por até 24 horas, e para os cabelos, como finalizador, ajudando a restaurar os fios e selar as cutículas, além de reparar as pontas duplas, garantindo fios com mais brilho e menos frizz.

Mas o que a deixava mais satisfeita ainda é que, ao desenvolver um produto como aquele, com plantas nativas da floresta amazônica, não só valorizava a biodiversidade local, como também beneficiava as comunidades responsáveis pela colheita dessas plantas, com uma renda que, muitas vezes, superava o que recebiam da agricultura.

E para melhorar ainda mais o seu humor, apesar da chuva forte e quase constante durante toda a semana, o sol surgiu com a mesma intensidade de sempre naquela tarde de sexta-feira. Por isso, ela resolveu terminar o seu serviço no laboratório mais cedo do que de costume, antes das quatro horas da tarde.

Queria dar uma volta pela cidade com Eduardo e tomar um belo e imenso sorvete para comemorar. Quando retornassem para casa, ela lhe faria uma surpresa, aplicando o produto no próprio corpo para deleite dele e de si mesma.

Ele teria a honra de conhecer as benesses do produto com total exclusividade, pensou, sorrindo. E quando a fórmula fosse lançada no mercado, pretendia acrescentar outra essência para obter uma fragrância só dela.

Dela e dele.

Ainda pensando nisso, saiu do laboratório e foi direto para o pequeno galpão de alvenaria que mandara construir no quintal para que servisse, provisoriamente, de atelier, escritório e academia de ginástica para Eduardo.

— Atrapalho? — perguntou, após algumas batidinhas leves na porta e abri-la lentamente. Como o verão em Maués era de fato muito quente, sobretudo durante a tarde, ele costumava manter a porta e a janela fechadas e o ar-condicionado ligado.

O que ela não sabia é que havia outro motivo, além do calor.

— Claro que não. — Ele respondeu com um sorriso leve no rosto. Então, voltou sua atenção para a tela de pintura à sua frente.

Ela fechou a porta com todo cuidado e, por um instante, ficou estacionada ali, observando o homem a alguns metros de distância. Eduardo estava com uma camiseta branca com manchas de cores variadas de tinta e um jeans bastante surrado, e, mesmo assim, era uma visão que não desapontava em nada. Pelo contrário.

A seguir, tirou as sandálias e as deixou à porta, a fim de não acarretar barulho e atrapalhá-lo, embora o som bem baixinho de um rock dos anos 80, que soava de um velho aparelho eletrônico acomodado num canto do galpão, já quebrasse o silêncio. E, já que teria de esperar que ele terminasse o que estava fazendo, andou em direção aos quadros pendurados na parede, para ver se havia alguma novidade. Adorava ver aquele festival de cores que nem sempre pareciam ter um significado lógico, sendo que os que mais gostava eram os desenhos feitos a lápis. Esses, geralmente, não recebiam pintura, mas eram como fotos em preto e branco, de tão realistas e perfeitos.

Corações Selvagens (Capítulos para degustação)Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ