Capítulo 17

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— Amanhã não temos evento agendado. Certo? — certificou-se Eduardo, após colocar as correspondências sobre a escrivaninha, onde ela acabara de se acomodar.

— Não, não temos — confirmou com um tom de voz frio, enquanto ligava o computador. — Deixei o resto da semana livre porque o Jurandir ia participar do ritual hoje e...

O celular dela, que estava sobre a mesa, tocou neste momento, e a foto e o nome de Augusto apareceram na tela do aparelho. Ela apenas lançou um olhar para o telefone para ver quem era.

— Não vai atender? — perguntou Eduardo.

Ela abriu a gaveta e pegou a agenda e uma caneta. A seguir, levou os dedos ao teclado do computador e digitou rapidamente a senha.

— Não — respondeu sem erguer o olhar. — Depois eu falo com ele.

O telefone continuou tocando e vibrando irritantemente. Eduardo observou-a. Ela tinha erguido novamente uma enorme barreira de gelo entre eles. Mas ele teria paciência com aquilo.

— Melhor atender — comentou. — Pode ser importante.

Ela lançou um novo olhar para o celular quando Eduardo entrou na cozinha. Hesitou um pouco antes de desligá-lo. Fosse o que fosse, Augusto teria de esperar. Ela estava com pressa e não queria perder tempo.

Ele retornou minutos depois, no exato momento que ela desligava o computador.

— Fiz um café para nós dois...

Ela se levantou apressada.

— Eu realmente agradeço, mas tudo o que eu preciso agora é de um boa ducha para me livrar dessa canseira toda e...

— Por favor, aceite — insistiu, com aquele sorriso cativante que a deixava atordoada. — Tenho também alguns biscoitos salgados e... — O sorriso se ampliou quando ela arregalou os olhos. — Desculpe. Sem geladeira, isso é o melhor que eu posso oferecer.

O coração dela se enterneceu nesse momento e o gelo foi momentaneamente esquecido.

— E como você...? Como você está fazendo? Não vai me dizer que está substituindo o almoço e o jantar por qualquer tipo de lanche?

Ele se aproximou e passou um dedo gentilmente pela borda de seu rosto.

— Não se preocupe, eu sei me virar.

Perto demais!, alertaram os instintos dela, quando a mão de Eduardo deslizou para a sua nuca e os corpos se colaram. Mas era tarde.

— Edu...

Foi só um murmúrio, porque a língua de Eduardo já estava enroscando-se à sua. Uma língua lânguida, gentil, persuasiva. Ela suspirou quando ele mudou o ângulo do beijo e quase não conseguiu retomar o controle.

Céus, o que eu faço?

— Du — Ela levou as mãos ao peito dele e as deixou ali, paradas, frágeis, e então fez uma pequena força para se distanciar o suficiente para romper o beijo —, espere. — Tornou a suspirar, dessa vez, com aflição. A mão de Eduardo ainda estava em sua nuca e ela pôde sentir que o coração dele estava tão acelerado quanto um cavalo em fuga, assim como o seu. — Estamos sempre voltando ao mesmo ponto de partida. Eu preciso de um tempo, Du...

Ele inclinou a cabeça e encostou a testa na dela. Fechou os olhos. Estava um pouco cansado daquilo. Ainda assim, não ia desistir.

— Não faça isso, Açucena. Não estrague tudo, por favor.

Corações Selvagens (Capítulos para degustação)Where stories live. Discover now