Capítulo 18

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Augusto nunca a viu beber cerveja daquela forma. Aliás, era raríssimo vê-la beber cerveja ou qualquer outra bebida alcóolica.

— O que houve, Açucena? — perguntou, após colocar a mão sobre a dela e acariciá-la levemente. — Acho que você sequer está me ouvindo...

Ela olhou para líquido amarelo e gelado em seu copo e bebeu mais um pouco, antes de dirigir-lhe o olhar. Só aceitara aquele encontro porque, mais uma vez, ele havia insistido muito. Mas já havia se arrependido.

Ainda assim, forçou um sorriso, que não passou de um traço estranho em seus lábios.

— Nada. Desculpe! O que você falou?

Ele esboçou um sorriso indulgente. Havia uma meia-hora que falava sem receber o mínimo de atenção.

— Esquece. Podemos conversar num outro dia. Você quer ir embora?

Ela fez que não com a cabeça. Em seguida, gesticulou para um rapaz alto e magro pedindo mais uma garrafa de cerveja.

Não. Definitivamente, ela não estava nada bem, pensou, enquanto a via esvaziar o conteúdo do terceiro copo.

O garçom se aproximou e encheu mais uma vez o copo dela. Mas Augusto recusou. Alguém tinha de ser manter sóbrio.

— Tem certeza que não quer ir embora? — Ela balançou a cabeça novamente. — Então, por que não me fala o que está acontecendo? — Insistiu, embora já imaginasse o motivo. — Prometo ser um bom ouvinte.

Açucena riu de forma estranha.

— Não quero voltar para casa agora.

— Tudo bem. Que tal, então, trocarmos a cerveja por um sorvete ou um passeio à beira mar? — Piscou-lhe um olho. — Ou os dois?

Praia. Já fazia algum tempo que ela não dava um passeio pela praia, sobretudo à noite.

— Oh, sim. — Ela tomou mais um gole da cerveja, esvaziando completamente o copo. — Essa é uma ótima ideia!

Com um sorriso no canto dos lábios, ele acenou para o garçom fechar a conta.

— Quanto deu? — perguntou Açucena, quando o rapaz se aproximou com uma caderneta marrom. Na sequência, pegou a bolsa que estava na lateral da cadeira e retirou uma carteira colorida.

Sem responder-lhe, Augusto enfiou algumas notas na caderneta e devolveu para o rapaz.

— Fique com o troco.

— Muito obrigado — disse o jovem, afastando-se da mesa.

Homens, resmungou para si mesma e guardou a carteira, fechou a bolsa e levantou. Mas ao firmar os pés no chão, sentiu como se tivesse sobre nuvens.

Augusto percebeu que Açucena começava a cambalear e levantou num pulo para ampará-la.

— Acho melhor levá-la para casa.

Seu corpo parecia levitar, por isso ela se apoiou no pescoço dele.

— Estou me sentindo voando — sussurrou e riu novamente de forma esquisita.

— Você não está bem. — Com um braço, ele segurou-a firme pela cintura e a levou para o carro.

— Não se preocupe — murmurou, após ele abrir a porta do carona, ajeitá-la com cuidado no banco e passar o cinto de segurança por seu corpo. — Eu estou bem. Só estou um pouco zonza e... — Ela sentiu o estômago revirando e um gosto estranho na boca. —Acho que vou vomitar.

— Só não vomite no meu carro — brincou Augusto, ao acomodar-se no banco do motorista e dar partida no carro. — Qualquer coisa, me avise para eu parar.

Corações Selvagens (Capítulos para degustação)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon