Capítulo 8

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Ela não tinha a menor vontade de se levantar daquela cama que se tornara cúmplice de noites de amor tão maravilhosas. Por isso se deixou ficar ali, entorpecida pelas sensações de prazer que ainda prevaleciam em seu corpo.

Eduardo era um amante incrível. E ela nunca sentira tanto prazer, antes mesmo da penetração, como acontecia com ele, pensou, com um sorriso tolo nos lábios.

Arfou e suspirou ao lembrar-se da noite anterior. Como era possível tanta entrega e paixão? Jamais imaginou que aquele relacionamento, que começou de forma tão tortuosa, pudesse ir tão longe. Jamais imaginou que aquela atração, que parecia tão insana, pudesse se tornar em um sentimento tão grande que mal cabia em seu peito.

Ainda sonolenta, tateou a mão à procura dele. Foi aí que ouviu o barulho no banheiro e deduziu que ele estava no banho. Ela então aproveitou para tirar mais um cochilo e quando acordou novamente, ele estava sentado ao seu lado, com uma toalha enrolada na cintura, o cabelo despenteado e úmido e um ar de preocupação que a assustou.

— O que houve? — Perguntou.

— Você tomou o anticoncepcional?

— Sim, eu tomei — respondeu tranquila.

— Tem certeza?

— Tenho, claro — tornou a afirmar. — Por quê?

— Nada. Só queria ter certeza.

Não foram as palavras dele, e sim a expressão de desconfiança em seus olhos que fez com que ela se levantasse quase de um pulo.

— Eduardo, pare com isso!

— Parar com o quê?

— Pare de querer controlar tudo à sua volta! — Falou exaltada, após pegar a camisola que estava aos pés da cama e vesti-la. — Não percebe que está estragando tudo? Tivemos uma noite de amor fantástica... Com entrega, com paixão, com... — Lançou-lhe um olhar magoado neste momento. — Enfim, acho que o sentimento não foi recíproco... Acho que foi apenas eu que senti isso. De qualquer forma, não estrague tudo desta forma!

Ele abriu a boca, fechou-a, abriu-a novamente. Em seguida, levantou-se.

— Pelo amor de Deus, não estou entendendo nada! O que eu falei de tão grave para ofendê-la? Eu estava apenas preocupado!

Num gesto nervoso, ela passou as mãos pela cabeça e fez um coque desarrumado com os próprios cabelos. Sentia-se tão ressentida que o prazer da noite anterior desapareceu por completo.

— Preocupado com quem? Comigo ou com você? — Questionou, mas não esperou pela resposta. — A verdade é que você se acha no direito de controlar tudo e todos à sua volta! Não consegue confiar. Não consegue se entregar por inteiro. E não se importa com os sentimentos dos outros.

— Se o problema é que você quer ter filhos, como eu já disse, a gente pode adotar, Açucena.

— Não, Eduardo. Este não é o problema!

— O que é, então? — Perguntou, zangado. — Por que está fazendo tempestade num copo d'água?

Os olhos cor de âmbar o fitaram transbordando ceticismo e angústia.

— Eu estou fazendo tempestade num copo d'água?! Será possível que você não consegue enxergar um palmo diante de seu nariz? Como pode ser tão insensível? Como pode ser tão... tão... tão egoísta?!

As palavras atingiram-no como um tremendo soco na boca do estômago. E doeram. Por isso, por um momento, que pareceu uma eternidade, ele se manteve em um silêncio pesado. Até que, procurando manter a calma, aproximou-se e tentou abraçá-la. Ela se esquivou dando um passo para trás.

Corações Selvagens (Capítulos para degustação)Where stories live. Discover now