Amar, sonhar, sorrir e chorar ||D.A.M.A (Concluída)

Capítulo XIV (Continuação)

Subimos no elevador até ao quarto 358 e abrimos a porta rapidamente para podermos finalmente descansar em paz, antes de um ensaio que eles terão por volta das oito da noite.

-Kashaaaaa, o quarto é lindoooooo!!! - Digo-lhe surpreendida e feliz. Caio num instante em cima da cama. Ele prefere ver a vista da suite primeiro.

-A vista é linda, Sofia! Tens que ver. Já não estava assim há muito tempo. - Diz-me, vindo na minha direção. - Estou cheio de saudades de estar contigo, sabias?

Começa a sentar-se mais perto de mim e a dar-me suaves beijos no pescoço e depois pequenas arranhadelas nas costas. Põem-me no colo dele e beija-me na boca, arrepiando-me com as suas mãos nas minhas pernas. Eu beijo-o apaixonada, mas não faço nada mais e ele estranha o meu comportamento.

-Sofia, passa-se alguma coisa? - Pergunta-me ao ouvido.

-Kasha, eu não consigo! - Digo-lhe um pouco atrapalhada.

-É a tua primeira vez, é isso? -Pergunta-me.

-Não... - Digo-lhe. -É difícil de te explicar...

-Diz-me, o que se passa? Sabes muito bem que podes falar comigo! - Exclama calmamente olhando-me nos olhos.

Claramente este não é o momento correto para eu falar sobre isto, mas a verdade é que ele tem que saber toda a verdade e ainda mais, toda a razão por detrás do meu pai ter tido aquele comportamento!

-Bem, Kasha, acho que está na altura de te contar uma coisa. Nunca fui capaz de o fazer a ninguém, mas acho que tu o deves saber. – Explico calmamente, sentando-me numa das cadeiras que estão viradas para a janela e ele acompanha-me.

-Por favor, tudo o que tiveres a contar, conta-me! Eu quero saber. – Afirma convicto e recetivo a ouvir tudo o que tenho para contar.

-Sabes aquela sensação de alguém te querer, mas tu não? Eu ainda era muito nova, talvez ainda nem soubesse muito bem ler e escrever e passei um dos meus piores momentos de vida. Passei por muitos traumas desde essa altura e nunca fui sequer capaz de ir à policia e sendo a minha mãe detetive nunca descobriu. Pior de tudo é que tive de viver com essa pessoa imensos anos da minha vida, inclusive no mesmo teto. - Explico-lhe. Ele fica pasmado a olhar-me nos olhos, a tentar perceber porque razão nunca lhe havia contado isto...

-Sofia, o que queres dizer com isso? – Pergunta-me bastante assustado.

-Kasha, lembras-te daquelas fotografias que nós encontramos na minha casa antiga lá em Inglaterra? Bem, soube que aquilo pertencia ao meu pai. E o que eu quero dizer, Kasha, é que eu fui violada sexualmente pelo meu pai. Na altura eu não sabia o que isso era, mas achei estranho e foi bastante horrível. Soube anos depois que isso infelizmente é mais normal do que as pessoas pensam, mas ninguém é capaz de dizer nada porque são da mesma família e seria um escândalo. Infelizmente eu fui uma vitima e desde aí ele jurou que cada pessoa que eu tivesse seria morta, porque só ele é que podia tocar em mim.... Daí eu no inicio de tudo, quando a minha mãe tinha percebido que era o meu pai ter associado a tudo o que passei em criança. - Digo-lhe chorando intensamente.

-Tu estás a querer dizer que a razão do teu pai me querer matar foi essa? – Pergunta mais uma vez, emocionado com a minha situação, mas aterrorizado ao mesmo tempo.

-Sim! Desculpa, Kasha! – Exclamo sem conseguir dizer mais nada. Levanto-me da cadeira e abrigo-me no quarto de banho para esconder o meu sofrimento.

Afinal quem sou eu? Uma rapariga que nem capaz foi de contar tudo a este homem que tanto gosta, que o fez sofre por problemas de infância e que nunca foi contar a ninguém o que realmente se passou.... Sou uma fraca é isso que sou e é isso que sinto. Entretanto o Francisco volta à minha beira e eu tento limpar as lágrimas da minha cara.

-Sofia, ninguém te obriga a nada! Muito menos eu que compreendo perfeitamente a tua situação. Um namoro não é tudo porque se faz "amor", mas sim porque há uma ligação intensa entre ambos e ambos se entendem perfeitamente, havendo partilha de carinho. Mas carinho não significa que tenha que haver isso. Eu nunca te vou querer perder e isso para mim não me importa! És minha e se chegarmos a esse dia, será comigo e será uma vitória para os dois! Amo-te! - Diz-me ele apaixonado e de uma maneira pura e verdadeira.

Pega-me na minha mão e leva-me à janela da suite. Eu sinto-me muito mais aconchegada depois das palavras dele, mas é claro que nada vai melhorar o sentimento que lhe causei estes meses todos.

-Diz lá se a vista não é linda?? - Pergunta-me apaixonado. – Esquece essas coisas todas! Hoje é para comemorar e não é para chorarmos com isso! Estou vivo não estou? É só isso que importa, esquece o passado e vive o presente e se realmente isso te marcou, por que não ajudares outras pessoas que passaram pela mesma situação que tu e alertares os mais novos?

-Tem toda a razão Kasha! Ouvir-te dizer isso para mim é das melhores coisas que eu podia ouvir de alguém que amo! - Exclamo. Ele abre a janela e sentamo-nos ao sol, com precaução é claro e adormecemos juntos até ao momento em que o Cristovinho nos bate à porta e nos liga, porque não estávamos a ouvir...

-Malta!!!! Vamos bora?? Temos uma "party" pela frente!!! – Exclama o Cristovinho para nós. – Não era suposto ainda estarem a nanar!

Saímos todos a correr pelo corredor fora e só paramos na piscina, onde nos pusemos em biquíni e calções de banho e nos atiramos uns aos outros à água. Estamos todos felizes por estarmos de novo todos juntos. Assim passámos duas boas horas...

-Ei, Sofia! Temos uma surpresa para ti!!! - Dizem o Cristovinho e o Coimbra. Eu fico a olhar para eles a tentar perceber o que andaram a tramar.

-O quê? Para mim? Estou com medo agora! – Digo-lhes, rindo-me.

Saímos todos da água e o Coimbra desaparece de vista... Eu sento-me numa espreguiçadeira que tem na relva do pátio do hotel com o Francisco e o Cristovinho fica fora sentando-se na relva. Em segundos o Coimbra chega com uma guitarra: já se sabia, de certeza que é uma música nova!

-Sofia, vais ouvir isto e de certeza que vais adorar! Bota Cristo!!!Um, dois, três e...go! - Diz o Coimbra que começa a tocar uns acordes muito calminhos...

-Era só para te dizer que és muito especial para alguém e que esse alguém te ama muito do fundo do coração! Não sei como te explicar, mas às vezes as coisas não podem ser ditas com palavras, mas sim com atos! - Canta o Cristovinho, assim um pouco desafinado e eu começo a não perceber nada do que está a acontecer...

Nisto, o Francisco levanta-se da minha beira e o Cristovinho canta a música 'Miúdos' e o Coimbra toca os acordes.

-A vida é para sentir! – Diz-me o Francisco apaixonado e ajoelhando-se à minha frente. - Eu sou aquele que te quer fazer rir e estar sempre contigo! Das rugas aos cabelos até sermos velhinhos! Sofia, queres casar comigo?

Rapidamente coloco as mãos na boca, pois estou tão exaltada que nem consigo parar de gritar e saltar de alegria. Atiro-me ao Francisco, beijando-o apaixonadamente.

-Sim! Sim! SIM!- Exclamo eufórica. Trocamos anéis de noivado e beijamo-nos mais uma vez. Todos nós ficamos emocionados com a aceitação que nos atiraram novamente à piscina.

para ti7RI