Capítulo V

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O dia não começa da melhor maneira... decidir se quero ou não seguir o meu instinto mais profundo e ir com ele ou se fico em Lisboa a continuar a trabalhar na empresa para onde vou agora, não é nada fácil. Por um lado, será uma boa aventura para mim, mas por outro sei que não estou preparada! As coisas não se resolvem do dia para a noite, no entanto para este caso em especial tem que ser assim.

Lavo a cara, na esperança que tudo desapareça mais depressa ou que encontre a resposta mais certa, mas isso não acontece. Pego na minha carteira e deixo o meu quarto. Desço as escadas em direção à entrada e pego um táxi para ir trabalhar.

Não é fácil ir trabalhar com problemas na cabeça, mas nós, raparigas, andamos sempre com imensos problemas na cabeça e será sempre assim até ao fim da humanidade. Estamos sempre a pensar em mais de duas coisas ao mesmo tempo. Isso confunde-me ainda mais, mas a verdade é que não existe um botão de ligar e desligar e por isso tenho que me tentar ambientar a este problema na minha cabeça até eu o resolver totalmente.

As horas no trabalho passam rápido. Duas reuniões com clientes mais uma com o meu chefe superior e ainda adiantar algum trabalho para não sobrecarregar os restantes dias, fazem esquecer um pouco o tema geral que ecoa na minha cabeça.

"Francisco, eu afinal prefiro ir a tua casa falar contigo. Ás sete encontramo-nos aí. Até logo. Beijinhos"

Mando esta mensagem ao Francisco enquanto arrumo as coisas para sair.

-Sofia, podes vir aqui, por favor? – Pergunta o meu patrão do fundo do corredor do nosso escritório. Eu pego nas minhas coisas para ser mais fácil depois ir direta embora e vou ao encontro dele. – Sente-se, por favor.

-O que necessita, senhor doutor? – Pergunto um pouco nervosa.

-Sofia, já lhe disse que me pode tratar por Bernardo, não precisa de ser assim tão formal comigo! Afinal, somos colegas de trabalho! – Exclama contente. Certamente se deve passar qualquer coisa de estranha, porque ele não é pessoa de sorrir muito. – Bem, eu pedi que viesse aqui porque tenho recebido comentários muito positivos ao seu trabalho! Foi uma ótima escolha a Sofia ter começado a trabalhar aqui!

Eu fico sem palavras para lhe responder, aliás, com este comentário fica ainda mais difícil de escolher o que eu vou querer de hoje em diante, mas respondo-lhe:

-Muito obrigada pela confiança depositada! Fico muito feliz por saber isso, Bernardo. Mas agora precisava mesmo de ir embora, porque já tenho coisas combinadas!

-Já podia ter dito antes, minha querida! Pode ir! Até amanhã!! – Exclama o Senhor Bernardo, cumprimentando-me antes de eu fechar a porta do escritório dele e vir embora.

Bem, agora é comigo! Apanho um táxi para casa do Francisco, continuando com a mesma questão em mente: devo de optar por seguir algo com ele e que realmente gosto ou de continuar a trabalhar e ser bem-sucedida em algo que realmente só estou a fazer porque fui obrigada a tirar esse curso?

"Boa sorte querida e faz o que tens a fazer! Não penses naquilo que eu quero para ti, mas naquilo que tu mais queres! Eu sei que serás bem-sucedida na mesma... A mãe adora-te"

Ás vezes a minha mãe surpreende-me. Nunca pensei que ela me mandasse uma mensagem como esta, ainda por cima a poucos minutos de ter de escolher.

"Também te adoro muito mãe. Beijinhos!" Respondo.

Depois de uma viagem demorada até a casa dele, finalmente chego e encontro-o à porta, esperando por mim bastante impaciente. Cumprimentamo-nos com um beijo e ele convida-me a entrar.

-Tens fome? Fiz canelones! Sei que gostas muito! – Exclama, enquanto subimos as escadas.

-Não era preciso, Kasha. Mas, por acaso estou a morrer de fome!!!- Digo, sentando-me em uma das cadeiras da sua mesa de jantar.

Calmamente, ele coloca o jantar em cima da mesa e começamos a jantar. O ambiente que paira no ar é muito tenso, com um enorme nervosismo de ambos os lados em saber no que isto vai dar. A resposta nunca vai ser a melhor: ambas as opções têm prós e contras, mas sem dar uma é que não estamos bem.

-Sofia, eu prometi a mim mesmo que não iria interromper o jantar, mas eu preciso mesmo de saber se já tens uma resposta... - Explica-me pousando suavemente os talheres em cima da mesa, aproveitando para beber mais um golo de vinho.

-Bem, sabes que ontem eu não lidei muito bem com o que tu disseste... A verdade é que não estava à espera de semelhante, mesmo depois de já estarmos juntos há algum tempo... Para mim não é normal irmos juntos trabalhar, principalmente com alguém que eu nem sei se vai resultar e esquecer tudo o que tenho até agora aqui em Portugal.

-Eu sei que tudo isso não é fácil, mas a verdade é que vais seguir aquilo que realmente gostas. Não é isso que tu sempre sonhaste? – pergunta-me convicto que a minha resposta é sim. Eu apenas baixo os olhos e tento encontrar uma resposta contrária àquilo que ele acabou de afirmar.

-Kasha, sim tu tens razão. Se é isso que tu queres ouvir da minha parte. Mas ao mesmo tempo sei que não vai ser o mesmo que uma coisa planeada com muita antecedência, se é que percebes o que estou a tentar explicar.

-Eu compreendo, mas nunca ouviste dizer: o que vem ao acaso é o melhor? – pergunta-me.

Por uns momentos ficamos a olhar um para o outro. As palavras não fluíam, muito menos tinha coragem de dizer alguma coisa. A expressão dele mostrava a pouca esperança que ainda permanecia dentro dele e que fazia acreditar que eu ia aceitar tal coisa.

Não posso esperar mais e como tal decido dizer a minha decisão final:

-Sim. – Afirmo apenas olhando-o nos olhos.

-Isso quer dizer aquilo que estou a pensar? – Pergunta-me com um sorriso enorme. Até os seus olhos sorriem como nunca antes eu tinha visto. Eu assento com a cabeça e ele levanta-se rapidamente e vem na minha direção abraçando-me fortemente.

Só a expressão que ele fez mal eu disse que sim ao convite dele fez-me acreditar que tomei a decisão acertada. Ele tem mesmo razão: as coisas não acontecem por acaso e se eu tenho um sonho e quero segui-lo, por que não arriscar um pouco?

-Nunca te esqueças que nunca estarás sozinha, Sofia! – Exclama dando um beijo apaixonado na minha boca.

-Quando é que temos que fazer as malas mesmo? – Pergunto-lhe um pouco mais empolgada com o facto de embarcar nesta nova aventura.

-Devíamos de começar já depois do jantar, porque amanhã ao meio dia temos que estar com os restantes elementos da banda! – Diz-me um pouco receoso com a minha reação.

-Kasha, a sério? Eu nem me despedi da minha mãe nem nada! – Exclamo aflita.

-Temos que ir a tua casa e como eu sabia que lá no fundo tu ias aceitar falei com a tua mãe e ela está hoje em casa só para se despedir de ti! – Exclama pegando na minha mãe e levando-me escadas abaixo até ao carro dele que estava estacionado uns escassos metros à frente.

Fico mesmo contente pelo facto de ele se lembrar que eu iria querer despedir-me da minha mãe. Como eu sempre disse, ela é uma mulher um pouco ausente da vida familiar, mas eu continuo a gostar muito dela e a tomá-la como referência na minha vida, principalmente depois do que passou com a morte do meu pai.


Amar, sonhar, sorrir e chorar ||D.A.M.A (Concluída)Where stories live. Discover now