Capítulo III (Continuação)

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É tarde e chego a casa, indo direta para o meu quarto. Tranco a porta e atiro-me para cima da cama, tentando abafar o choro intenso e as lágrimas que derramo por todo o lado. Por que é que tudo tem que ser assim? Por que é que as pessoas querem apressar as coisas se mal nos conhecemos? Não é normal! Nunca me senti bem com isso, muito menos agora que estou num país diferente. Mas, a verdade é que gosto dele. Mas, será que aquilo que ele está a mostrar ser é o que ele é na verdade? Isso preocupa-me para conseguir avançar... estive com ele duas vezes e não é em duas saídas que consigo conhecê-lo ao ponto de namorar com ele!

-Sofia, está tudo bem, querida? Ouvi tu chegares... - Pergunta a minha mãe, preocupada comigo.

-Deixa-me em paz, mãe! Vai-te embora! – Berro e ela sai de ao pé da porta do quarto.

Na manhã a seguir acordo por cima da minha cama, que nem desfeita estava, com uma forte dor de cabeça e com o mesmo problema na cabeça: gostar de um rapaz, mas só ter estado com ele duas vezes. Ontem foi uma noite incrível, mas o final não podia ser o pior, mas ao mesmo tempo sei que exagerei com ele.

Levanto-me e decido escrever mais um pedacinho de papel para a minha caixinha de memórias. Acaba por sair pequenas frases soltas.

"Vi-te pela primeira vez.

Mas nunca pensei,

Que fosse desta vez

Acontecer o que sempre sonhei!

Tantos momentos deixei passar

Para realmente me declarar.

Sentir que és meu,

E que sou tudo o que é teu!

Por cada segundo que passa,

O meu coração despedaça mais,

Fica frágil porque não estás.

Fica frio porque não o aqueces."

Ainda penso rasgar a folha, mas acabo mesmo por guardá-la. Depositei nessas frases tudo o que sinto para tentar não ficar pior com esta situação. Volto a guardar novamente a caixinha num local que não seja fácil de a encontrar e visto-me para ir dar uma volta. Tomo banho e desço as escadas e bato a porta de entrada. Decido ir correr novamente para onde tenho ido sempre desde que estou aqui em Portugal.

Na soleira da minha porta já não está o ramo de flores, mas sim um bilhete destinado a mim. Pego nele com cuidado e noto que é do Francisco. Será que ele ficou preocupado comigo e decidiu voltar a minha casa e ver se estava bem?

"Sofia, desculpa o que aconteceu ontem! Sei que agi de cabeça quente e peço muita desculpa por isso! Espero podermos encontrar-nos brevemente e que te possa pedir desculpas cara a cara. Como sei que provavelmente não me querias ver apenas deixei este bilhete. Beijinhos. Assinado: Francisco. PS: Gostei muito da tua companhia ontem!''

Mais uma vez, ele foi uma pessoa muito atenciosa em vir até aqui e escrever este bilhete, mas por mais que eu queira ir ter com ele para tentar resolver as coisas, nem sei onde ele mora.... Mas vou tentar a casa onde estivemos ontem!

São onze horas e o movimento na rua é mais intenso do que aquele que estou acostumada a ver quando venho cedo. Está quase na altura de voltar àquela empresa para começar a trabalhar, mas a verdade é que a minha vontade não é assim muita.... Apanho um táxi e depressa chego à casa onde ontem saí, desiludida com o Francisco.

Toco à campainha, mas sem resposta. Tenti novamente, mas continuo a não obter uma resposta do outro lado da porta. Decido sentar-me no soalho da porta e esperar que alguém chegue e comprovar se é a casa do Francisco ou não. Penso para mim própria se o que estou a fazer é o correto, mas sei que a cada dia que passa fico pior se não lhe contar o que sinto pessoalmente. Talvez seja demais, mas também se nunca arriscarmos nada não somos ninguém na vida!

Trinta minutos passaram e ninguém chega. A minha vontade é desistir de estar ali, até porque a fome aperta. Já tive vontade de lhe perguntar por mensagem, mas desisti quando percebi que não seria muito normal fazer isso. Olho para o fundo da rua e reparo numa silhueta familiar. É o Francisco e ainda por cima vem com duas sacas de comida! Ele repara em mim e apressa o passo.

-Sofia, por aqui? – Pergunta sorridente, pousando as sacas para me cumprimentar com dois beijos.

-Precisava de falar contigo! Vi o teu bilhete na soleira da minha casa. Não sabia se era aqui, mas tentei. – Explico. Ele, pela primeira vez, sente-se um pouco envergonhado com o que fez, mas ao mesmo tempo nota-se que está feliz por ter vindo até à casa dele.

-Estás com fome? Por acaso trouxe comida a mais! – Diz abrindo a porta de casa. – Entra!

Entro em casa dele novamente e vamos em direção à sua cozinha. É uma casa muito simples, mas muito acolhedora ao mesmo tempo. Ele coloca a mesa e sento-me numa das cadeiras.

-O que queres beber? – pergunta.

-Água, por favor! – digo.

Almoçamos sem tocarmos no assunto de ontem. Falamos dos assuntos variados, mas nunca de nós próprios e isso significa que ele realmente mudou um pouco a sua maneira.

-O que me dizes a irmos até ao terraço? – Pergunta, pegando numa taça de gelado para mim e em outra para ele. Eu concordo e vamos até ao terraço, onde nos sentamos nas espreguiçadeiras que tem aqui.

Estamos algum tempo sem proferir uma única palavra, mas ele decide começar:

-Desculpa o que aconteceu ontem! Não tinha más intensões!

-Eu sei que não tinhas! E eu também te devo um pedido de desculpas! O que eu fiz contigo não foi correto. – Explico e ele ouve-me atentamente. – Eu não vou negar que não sinto nada por ti e aquele beijo teve significado em mim, se queres saber, mas a verdade é que eu não estou pronta para avançar na relação ao ponto de fazer aquilo que todos os homens querem. Nunca fui assim e não sou capaz de mudar.

Ele olha para mim como nunca olhou antes e fica sentido com o que eu disse e responde-me calmamente:

-Não precisamos de fazer nada que tu não queres! Apaixonei-me por ti desde o primeiro dia que te vi, mas temos tempo para tudo! Namorar não significa fazermos as coisas à pressa nem coisas que tu não queiras! Eu gosto muito de ti e seria um prazer ser teu namorado e tratar-te como tal! Claro que vamos com calma e estou totalmente disposto a estar contigo e a conhecer-te melhor, mas acima de tudo! Espero o tempo que for necessário.

Olho para ele emocionada com o seu discurso e coloco a minha mão em cima da mão dele e sorrimos os dois.

-Obrigada pelo que estás a fazer! Eu quero muito estar mais vezes contigo e conhecer-te melhor! Eu também me apaixonei por ti desde o primeiro segundo que te vi! - Explico emocionada.

Abraçamo-nos tão fortemente como nunca nos tínhamos abraçado! Ele mexe no meu cabelo e contempla a minha cara. Sente o molhado das minhas lágrimas e eu sinto o molhado das lágrimas dele a escorrerem pela minha mão e pelo meu braço.

Encosto a minha cabeça no peito dele e ficamos assim uns momentos.

-És linda! Linda com todas as letras que a palavra tem!

Encostamo-nos às espreguiçadeiras e ficamos a contemplar a vista do terraço dele, enquanto acabamos de comer os nossos gelados.

Só espero que daqui para a frente tudo corra bem e que realmente tentemos conhecer-nos muito melhor. Sei que ainda há muita coisa que ele precisa de saber sobre mim e, ao mesmo tempo, tenho medo do que ele possa descobrir e interpretar sobre o meu passado.

Amar, sonhar, sorrir e chorar ||D.A.M.A (Concluída)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن