Capítulo I

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Já dizia Fernando Pessoa,

"Quando te vi amei-te já muito antes.

Tornei a achar-te quando te encontrei.

Nasci pra ti antes de haver o mundo.

Não há cousa feliz ou hora alegre

Que eu tenha tido pela vida fora,

Que o não fosse porque te previa,

Porque dormias nela tu futuro."

Quando se ama incondicionalmente alguém, a única forma de poder controlar esse amor é viver com ela até aos fins da nossa vida. Amar, nunca foi uma questão meramente de ter filhos ou de fazer coisas entre quatro paredes (ou não). Amar, é descobrir numa pessoa a verdadeira chama, sentir que ela é a tal sem sequer se ter dúvidas. Claro está, num amor à primeira vista tudo pode acontecer, vais sempre duvidar se a pessoa realmente é a tal ou não, mas, no fim, o amor vence e ficam juntos para sempre.

Depois, quando somos mais velhos, é com agrado que recordamos todas as memórias de um passado juvenil e alegre, que não pode mais acontecer. Só vivemos uma vez e não podemos nunca mais voltar a trás, mas podemos sempre lembrar o que aconteceu e que despoletou toda uma vida para a frente.

Como este, há muitos mais textos que Sofia escrevia e guardava numa caixa, para um dia, quando encontrasse o homem perfeito, poder partilhar tudo o que passou com ele em mais nova e lembrarem-se, talvez ao pé de uma lareira, juntos numa noite fria de inverno, provavelmente rodeados dos seus filhos e netos. Guardou sempre lá as histórias da sua vida que mais lhe tocaram, quer tenham sido boas, quer tenham sido más. Ao observar mais de perto, repara-se que no fundo da caixa tem apontamentos escritos à mão, com uma letra ainda jovem, suave e delicada, bastante antigos por sinal. Em algumas das páginas, Sofia deixou algumas notas para que quando ele fosse ler conseguisse recordar e perceber o que aconteceu aquando da escrita daquela parte.

Francisco, um homem de aspeto já idoso, senta-se na cama, confortavelmente, e lê com atenção cada uma das dezenas de páginas que tem na sua mão.

"Se um dia tudo leres daqui para a frente, espero que te lembres de tudo o que passamos e vivemos juntos, da maneira como me conheceste e te apaixonaste sem saber nada de mim. Espero que vivas o que eu vivi e chores o que eu chorei ao escreve-lo. Aqui está uma parte importante da nossa história, a maneira como tudo começou."

Primeiro passo em Portugal. É a minha primeira grande viagem que faço e, ainda por cima, para um país completamente novo para mim. Aliás, a minha próxima casa. A minha mãe é Portuguesa e o meu pai...bem... o meu pai era Inglês. Vivíamos felizes em Inglaterra, mesmo na capital, numa casa feita de pedra rústica, que todos os dias, logo pela manhã tinha o cheiro a panquecas acabadas de fazer e a café, pronto a ser servido pelo meu pai, enquanto a minha mãe se apressava para ir trabalhar. No entanto, devido às circunstâncias da vida, tive de voltar ao país que viu a nascer e que agora me recebe de braços abertos.

"Sofia... Sofia Costa é o meu nome. A minha mãe, Olivia Oliveira, é uma pessoa stressada, obcecada pelo trabalho e que passou por muito ao longo da vida. Sempre sossegada, pronta a descobrir caminhos diferentes e um pouco tímida...essa sou eu. Quem nunca gostou de um pouco de aventura na vida? Bem... eu já tive aventuras a mais, mas a vida é assim! Agora vivo em Portugal e só espero que aqui consiga encontrar a estabilidade e concretizar algum sonho que, como todos têm, eu tenho desde que existo. Lisboa, 2015"

Escrevo mais um pouco de mim em mais uma folha de papel para guardar na caixa que já ando a construir desde que eu fiz 18 anos. Chamei-lhe de "Caixinha das memórias" e nada melhor que incluir uma atualização de mim.

Amar, sonhar, sorrir e chorar ||D.A.M.A (Concluída)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora