Capítulo XIV (Continuação)

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-Já nem conseguia contar as horas que estava ali. Sentia-me cada vez mais dorido de todos os murros que ele já me tinha dado. Aquele sacana não queria dar liberdade à Sofia e nem sequer tinha coragem de sujar as mãos e então ficou a ver os seus seguranças a fazerem esse trabalho sujo. Estava amarrado há bastante tempo, tempo esse que chegou para já não sentir o sangue a correr-me nem nos pés nem nas mãos. Atado numa cadeira de madeira, num local que mais cheirava a vinho que eles estavam sempre a beber e podre por todo o lado, os seguranças fartavam-me sempre de me perguntar se eu já tinha percebido que a Sofia estava destinada a ficar sozinha e se eu queria ser morto à facada ou numa guilhotina. Momentos de grande aflição para ser franco. O pai dela, esse, como já tinha dito, estava sentado a assistir todo este "enredo" e á minha morte lenta. Das únicas coisas que me lembro, é do facto de ele se ter enervado, ter vindo ter comigo e bater-me fortemente com uma garrafa na cabeça, fazendo com que eu desmaiasse. Acordei, depois, ainda mais amarrado, mas, devido a um erro de um deles, consegui que eles me atirassem da cadeira abaixo e roubei o telemóvel para ligar à Sofia. No entanto, ele ficou sem bateria e nunca mais vos consegui contactar.... "E agora, já entendeste que a Sofia é só nossa????" Perguntava mais uma vez um dos contratados do pai da Sofia e que me estava a bater. Eu, com as forças que me restavam, ainda respondi: "E vocês, não vão desandar? O pai dela que se diz tão capaz, está sentado naquela cadeira, a pedir-vos favores, ao invés de ser ele próprio a sujar as mãos!" E pareceu que eles não gostaram nada do meu discurso, pois deram-me outro soco forte na cara em que, desta vez, o sangue escorria-me pelo nariz abaixo ainda com mais força. O pai dela levanta-se rapidamente e vem ter comigo. "É bom que tenhas consciência que esta te vai sair cara!" Disse ele enervado. "Desamarrem-no!" Ordenou. Não compreendi na altura o que é que ia sair dali, mas pior que a minha pele marcada pelas mãos deles e de sangue, acho que só morrer. Sentia a minha vida por um fio e saber que não me ia despedir da Sofia como deve de ser nem de nenhum de vocês ainda me entristeceu mais. Sabia que ao menos aquela chamada podia render alguma coisa.... Atiram-me ao chão com força e tiram a minha camisa, mais vermelha que vinho e atam as minhas mãos com um ferro de cada lado. Isto estava a tornar-se cada vez mais estranho, mas o que eu queria naquele momento era manter-me calmo e resistir às dores que sentia, para me fazer de forte perante aquele homem gordo e cheio de cheiro a vinho. "E agora, que me dizes disto, hein?" perguntou-me ele, aproximando-se de mim. Tocou no meu ombro, que estava ensanguentado e ferio por causa daqueles vidros da explosão em casa da Sofia o que me causou imensa dor. Já não aguentava mais, a minha dor piorou mais e mais. Só tentava pensar que tinha tentado de tudo para fazer-me de forte, mas não conseguia aguentar mais. "Pelos vistos parecias mais forte do que realmente és!" Exclamava ele para mim num tom de ironia. "Quem lhe disse que eu era fraco enganou-o muito bem!" Disse eu, levantando-me com todas as forças que ainda me restam e empurro-o violentamente para o chão. Ouve-se o som dele a cair no chão. Lentamente, olhei para os seguranças e reparei nele a fazer-lhes sinal para virem ao meu encontro. "Façam como estava planeado! E JÁ!" Ordena-lhes, enquanto se tentava recompor. Atiram-me para o canto do armazém de paredes brancas e frias, sujas e desgastadas pelos anos, com janelas partidas e banalizadas e com um cheiro intenso a podridão, mofo e vinho. Tiram-me as amarras e prendem-me as mãos. Grito de dor. Uma dor muito intensa, porque já não sentia muito as minhas mãos com sangue nas veias. Encarapuçaram-me e não fazia ideia para onde iria. Só sentia a brisa do ar a bater nas minhas feridas e as minhas dores a ficarem cada vez piores ao ponto de não sentir sequer as minhas pernas. Sinceramente senti naquele momento que aquele seria o meu fim. "Parem aqui!" Ordenou o pai dela. E eles pararam. Colocaram um peso nos meus pés e empurraram-me. "Vais morrer sofrendo!" Gritava o pai da Sofia para mim. Apenas comecei a sentir a água gélida por mim a cima. Cada vez me afundava mais e mais, sentindo-me cada vez mais aflito até que desmaiei. A partir deste momento só me lembro de acordar aqui e de ouvir vocês a falarem para mim, mas sem eu conseguir proferir uma resposta que fosse ouvida por vocês.

Nenhum de nós conseguiu reagir a tudo o que lhe aconteceu durante os dias que ele esteve raptado. Nem sequer consigo acreditar naquilo que o meu pai lhe fez.... Cada vez mais compreendo o quanto ele mereceu morrer. Abraçamos o Francisco e saímos do quarto para o deixar descansar.

Passaram cinco dias e ele tem recuperado bastante. Os médicos têm dado boas noticias cada vez que passam no nosso quarto a ver a recuperação dele. Mais um dia e mais uma visita do médico ao quarto dele.

-Boa tarde doutor! Traz novidades? - Pergunto-lhe ansiosa e nervosa.

-Depende do que querem ouvir... - Diz o médico. Ao ouvir isto, o Francisco enrola o braço esquerdo dele no meu braço, tentando acalmar-se.

-Por favor que não seja nada de mal! - Imploro ao médico e o Francisco aperta a minha mão como só ele sabe.

-Eu tenho a dizer que uma nova jornada na vossa vida vai começar! - Diz o médico, mas ainda sem compreendermos se isso é bom sinal ou não. Ao mesmo tempo chegam o Cristo, o Coimbra e a Joana para o nosso pé.

-Por favor.... Diga o que tem a dizer! -suplica o Francisco.

-Tudo está em conformidade! O Senhor Francisco vai poder cantar novamente e voltar para Portugal, hoje já tem alta e pode já sair deste hospital com o seu próprio pé! Foi um milagre ter sobrevivido daquela maneira e foi muito bom os seus amigos o terem salvado da maneira que o salvaram! Os meus votos de uma total recuperação e que tudo seja conseguido com o maior sucesso. Agora, com licença! - Diz ao afastar-se de nós.

A felicidade do Francisco é notória nas suas feições.... Já voltou a ser o meu desajeitado preferido, com tudo aquilo que faz dele alguém especial! Beijamo-nos com muito carinho e os nossos "capangas" batem palmas!

-Calma que isto não é um pedido de casamento para estarem para aí todos já babadinhos! - Exclama o Francisco para eles. Eu rio-me com a formalidade dele a dizer aquilo e eles riem-se também.

Arrumamos as coisas dele para conseguirmos ir embora o mais rápido possível, saindo todos do quarto e eles aproveitam para felicitá-lo.

-Agora vai ser um novo começo! -Exclama ele para nós. – E obrigada por tudo o que vocês fizeram por mim!

O Coimbra desatou a correr a abraçá-lo e fica bastante emocionado ao vê-lo vivo e recuperado.

-Next stop: Portugal! – Exclama o Cristovinho bastante feliz com a vontade de regressar ao país de origem. A Joana aproveita para cumprimentar o Francisco e despede-se de nós, pois não segue connosco para Portugal.

-Sofia, foi um prazer conhecer-te! Depois vamos ter de marcar alguma coisa! – Exclama para mim, abraçando-me.

-Obrigada! Espero que sim! Também gostei muito de te conhecer! – Digo-lhe. Ela segue para o Coimbra a cumprimenta-lo igualmente e, por fim, o Cristovinho.

-Cristo, ainda bem que consegui ajudar-vos! Fico muito feliz por estarem aqui todos e felizes! – Diz-lhe feliz, dando-lhe dois beijinhos na cara.

-E obrigada, Jô, por teres ajudado a conseguirmos encontrar o local! Se não fosses tu, não sei o que seria do Kasha agora! – Exclama o Cristovinho para ela, retribuindo os dois beijinhos.

Ela sai do hospital e entra a minha mãe pela sala a dentro, cumprimentando todos os que estão aqui e dirige-se ao Francisco, comprovando que ele está recuperado.

-Eu vou ter que ficar por cá ainda a resolver uns assuntos, por isso não vou com vocês! – Explica a minha mãe para nós. – E, Kasha, deixa-me que te diga que estás com muito bom aspeto!

-Muito obrigada! – Responde.

-Mãe, nós temos de ir ao funeral? – Pergunto-lhe intrigada.

-Neste momento o corpo será examinado e estará ainda bastante tempo no instituto de medicina legal, por isso não sei quando haverá funeral.

-Eu só peço para me avisares quando for o funeral. Quero terminar com isto de uma vez e encerrar o passado. – Explico à minha mãe. O Francisco aperta a minha mão a confortar-me e concorda comigo.

-Acho que fazes muito bem, filha! – Exclama, concordando. Cumprimenta-nos e vai embora, deixando-nos sozinhos.

-Como o médico disse, vai começar uma nova fase e nós vamos estar aqui contigo a apoiar-te! – Afirma o Cristovinho com toda a convicção.

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Amar, sonhar, sorrir e chorar ||D.A.M.A (Concluída)Where stories live. Discover now